vinte e oito.

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primeira quinzena de outubro
por Catarina.
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    Tem dois enfermeiros do Flamengo dentro da minha casa, o próprio doutor Tannure está aqui. Eu expliquei a situação por telefone durante meia hora inteira, acho que Diego contou que eu estudo medicina e posso colocar hoje em um dos momentos mais aterrorizantes da minha vida. Fiquei comunicando os sinais vitais do João Victor e conversando com Tannure durante todo o caminho que ele fez até aqui, com o meu melhor amigo de infância deitado sobre as minhas pernas perdendo a capacidade de me responder aos poucos.

    Não tem formação ou faculdade que me preparasse pra isso, eu quase não estava pensando racionalmente. Foi horrível, João foi ficando gelado, demorava pra responder as coisas que me mandavam perguntá-lo e tudo em mim tremia, literalmente.

    Quase não me deixo piscar durante todo o resto da noite, sentada ao lado de João e ainda segurando sua mão, como ele mesmo tinha feito. Estava tão assustada que assistia toda a movimentação incomum na minha casa como se fosse normal esses funcionários do Flamengo aqui dentro. Até Diego está aqui desde a hora que liguei.

    ─── Ei, Tarina. ─── é ele mesmo quem toca o meu ombro, apertando de leve. ─── Senta lá pra tomar café, a sua mãe tá chamando.

    Nego com a cabeça, sem me importar se pareço uma criança que assistiu uma tragédia.

    ─── Eu vou ficar aqui.

    ─── O João tá bem, ele tá bem, tem gente cuidando dele. Você pode ir comer um pouco e depois você volta, antes dele acordar.

    O João desidratou. Escutei o doutor Tannure dizer que ele não come ou bebe nada há pelo menos quatro dias, que não sabia nem como ele dirigiu até aqui. Na última vez que o vi, foi durante o meu plantão e eu o atendi e o deixei ir embora. Eu deixei ele ir embora, deixei isso acontecer.

    ─── Obrigada, Diego. Eu vou ficar aqui. ───  insisto, sem mover meio músculo sequer. Eu tô falando sério. ─── Pode ir comer, fica a vontade.

    Também não me importo que ele fique aqui, parado e em silêncio. Deve estar pensando no que vai dizer.

    ─── Olha, Tarina. Deixa eu te falar. ─── o escuto respirar fundo e o assisto afastar o suporte para o soro que João está recebendo, somente o suficiente pra poder se abaixar na minha frente. Estou sentada em uma cadeira que devia estar na cozinha e esse cara tá achando que eu tenho a idade dos filhos dele. ─── Você está sendo muito importante pro João agora, você deu conta de uma barra que não é sua, o Tannure ficou surpreso em como você deu conta do que aconteceu.

    Ele está tentando me consolar, sei que está. E Tannure deve estar surpreso negativamente, porque por mais de uma vez eu mediquei o jogador que ele cuida sem a ciência dele, eu limpei queimaduras de segundo grau na mesma cama que João está deitado e desacordado.

    ─── Não precisa, Diego. Tá tudo bem, eu vou esperar ele acordar e ver se ele precisa de alguma coisa, tá tudo bem.

    ─── Catarina, o seu melhor amigo desassociou na sua frente. Não tá tudo bem e não tem problema que não esteja, você não é de ferro e não tem que ser. ─── ele segura em meus braços com ambas as mãos, e agora eu tenho certeza que é assim que ele faz com os filhos italianos dele. ─── O João precisa de você bem.

𝗩𝗢𝗖𝗘 𝗡𝗔𝗢 𝗣𝗥𝗘𝗖𝗜𝗦𝗔 ⊹ joão gomes 1/2Onde histórias criam vida. Descubra agora