treze.

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Dirijo em silêncio até em casa. Tínhamos combinado de ir lá pra casa e a minha mãe com certeza está esperando com a janta pronta e já sabe da merda. Achar André dentro do Maracanã foi um inferno, sair sem nenhum setorista insuportável me perguntando o que tinha acontecido foi praticamente impossível e nós três dentro do mesmo carro sem nenhuma piadinha rolando era novidade. Sinceramente, eu não queria fazer mais nada.

Subimos também em silêncio, entramos em casa sem barulho algum e a minha mãe já estava esperando na cozinha, encostada nos armários e de braços cruzados.

─── André e João querem bater um papo no quarto?

─── Na verdade a gente que-

─── Foi o que eu pensei, querem bater um papo no quarto. ─── ela nem deixa meu irmão terminar de falar e eles tem nem pensam pra entrar pro corredor. ─── Que merda você fez, Catarina?

─── Não sei. ─── ergo os ombros. ─── A Vanessa me disse que... Ela e o João. Não ela e o João, mas-

─── Você esmurrou a sua melhor amiga por causa do João? Você fez feio na frente de todo mundo, pleno Maracanã, você saiu de casa pra se prestar esse papel? Você ba-teu na Vanessa, Catarina. Eu vi o vídeo.

─── A Vanessa não é nem minha conhecida mais, eu não conheço mais ela. Quem me dirá melhor amiga. Eu não saí de casa com intenção de arrumar o problema. ─── me forço a justificar. Se fosse por mim eu já estaria abrindo o bocão e pedindo a ela uma solução pra tudo. ─── Me desculpa, eu sei que não foi essa a educação que você me deu e eu odeio reagir assim, mas eu ouvi coisa muito baixa pra me segurar.

─── O que você ouviu?

─── Ela fez o que quis esse tempo todo, mãe. Com o João. Em todos os sentidos. E ela falou na minha cara, de um jeito tão frio que eu realmente sinto que não conheço ela. ─── tenho certeza que estou falando baixo antes de dizer tudo de uma vez, sentindo que quase não conseguiria terminar até que meu choro me engolisse novamente.

E o colinho da minha mãe foi o suficiente, porque não tinha orgulho pra manter, não tinha o que esconder. Se o meu peito dói como está doendo e tudo parece tão grave na minha mente, eu não consigo parar de pensar em como deve ser para o João.

─── Lava esse rosto e chama os meninos, amanhã a Monique e o Tadeu vão vir aqui. Chega disso, isso não existe. Vamos jantar, vocês dormem e amanhã tá todo mundo pra conversar.

Autoexplicativo. Vai acontecer como acontecia quando tínhamos dez anos e nossos pais se reuniam pra discutir qual seria o castigo coletiva pela bagunça da vez. Não sei qual tipo de castigo o Tadeu vai dar pra filha dele, mas eu daria tudo pra ter um motivo como os que tínhamos antigamente.

Apenas faço como ela diz, chamo os meninos e vou lavar o rosto e as mãos. Já estão todos lá quando volto e só então admito pra mim mesma que ainda não tive a coragem de trocar meia palavra com o João.

─── Como foi o jogo, Dedé? Tu subiu pra Norte? ─── minha mãe tenta deixar as coisas menos desconfortáveis, porque sabe que André vai entrar na pilha logo e vai dar continuidade ao assunto, como também sabe que João prefere silêncio e eu não tenho mais o que dizer.

Deixo o assunto dos dois rolando enquanto como. Ergo o olhar pra João algumas vezes mas acho que ele tá tentando mesmo não me olhar. Sai da mesa antes de mim e André me avisa que lavaria a louça amanhã, até porque já tá bem tarde. João está do mesmo jeito que costuma ficar ultimamente, sentado na cama enquanto usa o celular.

Não sei como vamos dormir na mesma cama se eu não sei nem como vou abrir a boca pra falar qualquer coisa com esse menino.

─── Me desculpa.

─── Para de me pedir desculpa, João Victor. Eu não sou a Vanessa. ─── sai no automático, enquanto atravesso o quarto e vou até a cômoda pegar um pijama. ─── Você não tem motivo pra me pedir desculpa.

─── Eu não queria t-te envolver nas minhas brigas com a Vanessa, é isso que eu tô te p-pedindo desculpas. ─── se esforça pra falar, ao tempo em que eu decido ficar parada onde estou e respirar fundo.

─── Posso te perguntar uma coisa? ─── levo o olhar até ele e espero que ele dê sinal pra que eu continue. ─── Quando você e a Vanessa... Quando vocês transavam. Você quis? Em todas as vezes, em todos os momentos. Você quis? De verdade?

Seu olhar já não fica mais no meu e o assisto encolher os ombros. João parece pensar e pensar, abre a boca pra falar mas não conclui nada.

─── Você não quis. ─── digo por mim mesma. ─── Aquele dia que eu cheguei lá e você estava passando mal, quando você não queria nem que eu te encostasse. O que aconteceu aquele dia?

─── Eu não quero falar sobre isso, C-catarina.

─── Ok, não quer. ─── é a minha vez de erguer os ombros. O meu pijama volta para a gaveta e eu saio do quarto sem pensar duas vezes.

Eu vou dirigir até o Recreio dos Bandeirantes e eu só saio de lá quando achar que já está tudo bem. Chego na cozinha, pego as minhas chaves e consigo até ignorar minha mãe me perguntando onde eu estou indo.

─── Catarina, o que foi? ─── ela continua, sentada na mesa. ─── Onde você vai, Catarina?

─── Eu já volto, não se preocupa.

─── Você não vai pra lugar nenhum, pode voltar aqui. ─── estala a língua, e em qualquer outra situação eu estaria rindo dela vindo atrás de mim e tirando as chaves da minha mão. ─── Volta pra merda do seu quarto, faz companhia pro João e descansa. É o que vocês dois precisam agora.

─── Me dá a chave, mãe. Eu não vou-

─── Você não vai mesmo, você não vai sair de casa. Não sei o que aconteceu de tão grave assim entre vocês três, mas você não vai inventar uma hora dessas! Sossega, Catarina.

─── A Vanessa agrediu o João, mãe. Mais de uma vez. Ela se aproveitou do que ele sente e fez o que queria. Foi isso o que aconteceu. ─── preciso admitir que nem tento me esforçar em não falar. Até porque amanhã tudo isso vai vir a tona. ─── Ela chegou pra mim no Estádio e falou que até a vida sexual dele ela controlava. Ela fazia o que queria. E falou com palavras muito específicas. Eu não tô inventando nada, nem nos meus piores pesadelos eu inventaria uma coisa assim.

Minha mãe fica em silêncio pelos próximos minutos. Sei que ela está tentada a me devolver as chaves até porque a fruta não cai longe do pé. Sabendo de tudo agora ela com certeza diria que eu bati foi pouco, mas também sei que ela sabe ser mãe. Não vai me encorajar a nada e não vaie deixar sair da razão.

Foi assim que eu voltei pra o quarto e passei o resto da noite em claro enquanto João dorme.
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a tia proibindo a catarina de ir fazer justiça
hoje são três capítulos então as senhoras podem descer mais um

𝗩𝗢𝗖𝗘 𝗡𝗔𝗢 𝗣𝗥𝗘𝗖𝗜𝗦𝗔 ⊹ joão gomes 1/2Onde histórias criam vida. Descubra agora