dezessete.

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10 de setembro de 2022, por Catarina.

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─── Sobe, João Victor. Anda logo. ─── tento o meu máximo parecer séria, mas esse bendito errou a mão na cerveja e fica tão engraçado bêbado que quase não chegamos em casa. ─── Anda, João! A gente tem que ir dormir.

─── Eu tô muuuuito ferrado amanhã, eu não vou acordar cedo. ─── declara, colaborando pra subir as escadas enquanto o seguro pela cintura pra fingir que se ele cair não vamos cair nós dois. ─── Nem fodendo que eu vou- Meu deus, que coisa feia. Não pode xingar. Bate na minha boca, toma. ─── Dou risada, negando com a cabeça e ainda o empurrando.

─── Eu não vou te bater, João. Vamos entrar porque se não você não vai acordar cedo mesmo.

Estalo a língua ao perceber o silêncio. Tudo bem, eu não queria despertar nada. Pelo menos ele não enrola mais pra chegarmos no quarto. Minha mãe veio mais cedo e André ficou por lá, então não podemos fazer barulho. Deixo ele ir na frente mas não o solto, torcendo demais pra não derrubar nada pelo caminho e respirando bem fundo quando fecho a porta.

─── Tarinaaaaaa... Eu adoro o seu quarto. ─── resmunga ao se jogar na minha cama, de um jeito que eu nunca vi antes. Não ficamos bêbados com muita frequência. ─── Ele é tão quentinho... E eu me sinto tão seguro... Nada acontece aqui, né? 

 ─── Não, eu não deixo nada acontecer. ─── resmungo qualquer coisa, ajeitando as pernas dele em cima da cama e aproveitando pra tirar os tênis. 

 ─── Você é tipo uma heroína, né?

Ergo o olhar, rindo de verdade e negando com a cabeça. 

 ─── Uhum, eu sou a Capitã Marvel. Melhor, eu sou a Viúva Negra. ─── entro na viagem dele, enquanto vou até o móvel do quarto pegar uma roupa pra ele e uma pra mim. 

 ─── Nãão, Tarina. Você não é essas aí. Você é a Tarina. ─── retruca, deixando as mãos sobre os olhos e me deixando rir mais uma vez. ─── Né? E eu posso te falar outra coisa? Eu sei que eu já falei muita coisa.

Resmungo um "hum" enquanto deixo as roupas sobre a cama, o puxando pelo braços sem pressa nenhuma pra poder trocar a roupa dele. 

 ─── Você é o Flamengo no meu coração.

De primeira eu solto mais uma risada, porque parece uma bobeira. Já estou tirando sua camisa e colocando outra quando repito a frase na minha mente. João é tão Flamengo que dói. Dá pra ver, com o comprometimento com os treinos, com a dedicação em campo e o jeitinho que fala do clube. Ele quebrou muitas barreiras pra fazer o que faz hoje. Aprendeu a lidar com as câmeras, a manejar sua timidez e suas frustrações também. Bem, se existe alguma relação entre eu e o Flamengo na mente dele, deve ser algo muito grande. 

 ─── Eu sou? ─── chio, na pressa de terminar de trocar a roupa dele pra poder ir trocar a minha também. 

Ele está bêbado e não vai lembrar de nada amanhã, e não tem maldade nenhuma no meu ato. Apenas tiro e visto a bermuda que ele costuma usar pra dormir, com a colaboração e agora com o silêncio de João. Entendo que já já ele vai apagar então apenas o deixo quietinho. 

Me levanto e me troco no banheiro, me privando do que queria pensar agora. Esse papo de Flamengo alugou um triplex mobiliado e caro na minha cabeça. Passo na cozinha pra pegar um copo de água antes de voltar pro quarto. Ele ainda está acordado, deitado do mesmo jeito que estava quando saí. 

─── Toma, bebe. ─── o entrego o copo, o assistindo beber tudo de uma vez e sem questionar antes de entregar o corpo pra trás novamente. 

─── Obrigado. ─── resmunga. 

Coloco o copo sobre o móvel antes de encontrar um cantinho pra mim na cama, depois de pegar o meu celular. Vou dar uma olhada na vida alheia antes de dormir como a tradição pede, e já estou levemente distraída quando João passa a estar inquieto. 

A risada que eu dou sai até alta demais quando o sinto se encaixar entre o meu celular e eu, entre os meus braços. 

 ─── Obrigado por não me bater. 

Junto as sobrancelhas, porque meu doutorado em João Gomes não comete falhas. Sei que isso é tudo o que a mente dele consegue juntar as coisas, mas penso que ele está me agradecendo por não ser Vanessa. 

─── Isso é o mínimo, João. Você não pode agradecer as pessoas por fazerem a obrigação delas. ─── estalo a língua, me rendendo à proximidade em que estamos e abandonando o celular, levando uma das mãos até seu rosto. Ele faz silêncio, mas fecha os olhos com o carinho que passo a fazer e se apoia melhor, quase que sobre mim por completo. ─── Entendeu? 

Ele apenas balança a cabeça, abre os olhos novamente e os deixa passear pelo meu rosto. E isso é novidade. Meu coração erra uma sequência de batidas inesperadas, sobe um frio na minha barriga e as minhas mãos parecem trêmulas. João passeia o olhar pelo meu rosto e me deixa perder o juízo. 

Porque seus lábios colidem nos meus e suas pernas se encaixam nos lados do meu corpo. As nossas línguas se tocam e a sensação é quase a mesma que no dia da varanda. Tenho medo de que ele esteja fazendo isso tudo por carência e tenho ansiedade pra que não esteja. João é de verdade e pela primeira vez em dias, eu posso tocar. Acaricio seu rosto, deixo que ele dê um ritmo lento e me permito sentir sua canhota na minha cintura.

─── João, João. ─── resmungo em contragosto, o empurrando de leve. ─── Vamos dormir, chega pro lado.

─── Não. ─── diz simples, deixando os lábios contra os meus apenas por deixar e resmungando algo que não entendo quando deixo a mão vagar pela correntinha em seu pescoço. Eu dou risada, por mais uma vez na mesma noite. ─── Você não quer me dar mais beijinho, Tarina?

─── Você tá bêbado, João. ─── devolvo, agora segurando seu rosto entre as minhas mãos e o afastando de vez. ─── Vamos dormir.

─── Então se eu não tivesse bêbado...

─── Você não estaria me beijando se estivesse sóbrio. ─── sai tão automático que nem percebo.

Ele me encara sério dessa vez, ergue o corpo mas continua por cima de mim, apoiado nas mãos e ainda com a atenção no meu rosto

─── Aquele dia na varanda eu te beijei sem ter tomado nem um golinho de cerveja. ─── ergue as sobrancelhas, me olhando como quem tem um bom argumento. ─── É claro que eu te beijaria sóbrio.

─── Ok, João. Mas tá tarde. Amanhã você tem que ir treinar.

Quase nem acredito quando ele se dá por vencido e derruba o corpo para o lado e maneja ele mesmo se esticar e apagar a luz sem cair. Parece que já estou esperando quando o sinto deitar a cabeça no meu peito e passar o braço pela minha cintura. Eu estava refém de ficar com a barriga pra cima a noite inteira, mas podia lidar com isso.

𝗩𝗢𝗖𝗘 𝗡𝗔𝗢 𝗣𝗥𝗘𝗖𝗜𝗦𝗔 ⊹ joão gomes 1/2Onde histórias criam vida. Descubra agora