onze.

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12 de agosto de 2022
por Catarina.
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    Eu já estava brincando com o perigo só por estar andando com o carro do meu avô desde cedo. Mas da última vez que mandei mensagem 'pra o João e ele não respondeu, ele estava doente dentro de casa.

    Então eu peguei o inferno do trânsito que é até a Zona Sul correndo o risco de ser parada em qualquer Blitz sem ter o documento do carro e muito menos a Carta pra poder dirigir. Mas no final das contas eu estava certa.

    O carro da Vanessa está estacionado do outro lado da rua e eu posso ouvir a voz dela logo quando chego na calçada.

    ─── Você não tem esse direito, João Victor! Eu não nasci 'pra ser vagabunda de ninguém! O que eu te falei?

    Silêncio. Eu não ia ficar ouvindo atrás da porta logo quando eu sei do que essa maluca é capaz e também não deveria, porque estou empurrando a maçaneta quando algo se quebra lá dentro e os dois pulam de susto quando eu entro.

    ─── Chega, Vanessa. Vai pra sua casa. ─── começo, já largando as minhas coisas pelos cantos e me aproximando. Tem um punhado de cacos de vidro no chão, João está do outro lado da sala e Vanessa está quase de frente pra mim. ─── Me dá licença, vai embora.

    ─── Embora da casa do meu namorado? Me ajuda, Catarina. O que você tá fazendo aqui?

    ─── Você tem é muita sorte de ainda ter um namorado. Vai pra sua casa e deixa o João em paz. Por favor.

    Quando eu disse que tenho mestrado em João Gomes, significa que eu sei que eu quero esfregar a cara da Vanessa no asfalto até a gente ir parar na delegacia, — e não tem nenhum exagero nisso, mas não queria nem falar mais alto perto dele. Sei que já deve estar tudo bem confuso na cabeça dele e não quero piorar.

    Ela intercala o olhar entre nós dois e chuta alguns cacos de vidro pra poder se aproximar de mim. Também sei que ela quer que eu recue.

    ─── Você não tem nada o que fazer na casa do meu namorado, quem tem que me dar licença é você.

    ─── Dar licença pra você fazer o quê? Jogar água quente no seu namorado? Ou quebrar alguma coisa nele? Eu não sei se você sabe mas o que tá acontecendo aqui é um crime, é coisa de dar cadeia. ─── a encaro. Temos uma vida de convivência e Vanessa não sabe se sentir intimidada. ─── Vai pra sua casa e pensa um pouquinho se você quer esperar eu ir abrir a denúncia ou se você vai lá sozinha.

    Ganho silêncio e poucos segundos até ela ir embora. Conto até três, respiro fundo e coloco o meu cabelo pra trás. Dou uma olhada em volta antes de encontrar os olhos de João.

    ─── Você tá bem?

    Ele nega com a cabeça, assustado como ficava quando a gente era criança e assistia os filmes do Supercine. Os ombros encolhidos e o nervosismo transparecendo até no jeito que ele pisca.

    ─── Isso não pode ficar assim, João. Você não pode ficar assim. ─── murmuro, levantando a barra da minha calça pra poder passar no meio dos cacos sem me machucar. ─── Arruma uma medida protetiva, denuncia ela, não sei. Olha essa bagunça.

    Ainda não posso escutar sua voz. Ele apenas espera que eu esteja perto o suficiente até poder me abraçar. Não sei o que estava acontecendo antes que eu chegasse, mas João chora e me aperta, sem dizer nada.

    ─── Ela te machucou? Deixa eu ver, você que-

    ─── Não, não machucou. Tá tudo bem. ─── se apressa em negar, se afastando pra secar o rosto e respirar fundo. ─── Você veio aqui pra alguma coisa? Eu vou limpar isso aqui e a gente pode-

    ─── Deixa que eu limpo, vai tomar uma água e lavar o rosto, não se preocupa. ─── é a minha vez de interrompê-lo, agora o acompanhando apenas com o olhar, já que ele se afastou.

    ─── Pode deixar, é pouca coisa, eu-

    ─── Eu limpo, João. Vai fazer o que eu te disse.

    O jeito que ele reage me lembra do dia que ele chegou lá em casa de madrugada. O tom que eu uso parece o suficiente pra ele se calar e apenas ir fazer o que eu disse mesmo. O João que eu conheço teria rebatido e teimado, teria feito o que bem entendesse.

    Então tento deixar claro na minha cabeça que preciso tomar cuidado com essas coisas. Junto os cacos de vidro e coloco algumas coisas no lugar, algum tempo depois dele passar para o quarto sem dizer nenhuma palavra. Tento deixá-lo no tempo dele e até lavo a louça que estava dentro da pia antes de entrar.

    ─── João? ─── encosto na porta. Ele está sentado na cama, usando o celular. ─── É melhor a gente ir lá pra casa hoje, pode ser? É bom a gente não ficar sozinho.

    O observo quase começar a dizer algo, mas parar no meio do caminho e apenas confirmar com a cabeça. A sensação de ardência volta pra o meu peito.

    ─── O que você acha? Pode ser mesmo?

    Vanessa não dá opções pra o namorado dela. Dá pra perceber quando ele já espera que eu tome as decisões, isso há meses. Quando não dá corda pra nenhuma discussão ou se silencia quando devia falar. E pra quem conhece esse menino tanto quanto eu conheço, vê-lo sumindo dentro de si me quebra completamente. Novamente, ele confirma com a cabeça.

    ─── João, fala comigo. ─── resmungo, me aproximando e me sentindo péssima quando ele chega mais pra o lado, se afastando. ─── Ei, calma aí. Tá tudo bem.

    ─── Uhum, e-eu só quero ficar um pouco s-sozinho.

    ─── Tudo bem. ─── paro onde eu estava. ─── A gente pode ficar aqui, eu durmo na sala. Você não quer ir lá pra casa, né? A gente fica por aqui.

    Ainda sem falar muito, ele nega com a cabeça, me encarando como se esperasse como eu ia reagir. Preciso me controlar pra não dizer em alto e bom tom que eu não sou a Vanessa. Não sou e não quero ser nunca na minha vida.

    ─── Qualquer coisa você me chama, tá bom? Eu vou ficar na sala. ─── passo a me afastar. Na minha cabeça ele quer espaço e eu ficar aqui forçando qualquer coisa só vai piorar as coisas.
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é isso, um beijo da anitta

𝗩𝗢𝗖𝗘 𝗡𝗔𝗢 𝗣𝗥𝗘𝗖𝗜𝗦𝗔 ⊹ joão gomes 1/2Onde histórias criam vida. Descubra agora