vinte.

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10 de outbro de 2022. por Catarina.

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João Victor abre a terceira geladeira do mostruário enquanto escuta atentamente o que o vendedor diz. Abre o congelador, bate os dedos em uma das prateleiras pra saber de quê são feitas e olha pra mim como quem pede opinião. Eu só ergo os ombros e deixo ele na aventura que arrumou.

─── Essa é das boas, ein João? Vai deixar tu escolher e tudo mais. ─── o vendedor brinca, arrancando uma risada do querido. ─── Os convidados do chá de casa nova de vocês devem estar nas nuvens... Nenhuma exigência, nenhuma reclamação... A minha mulher já estaria na mais cara.

Preciso dividir a minha atemção entre os dois, porque uma geladeira inox daquelas com duas portas, gelo automático, água na porta e tudo mais é aberta e aí eu já acho demais. Tanta loucura quanto a minúscula probabilidade de estarmos aqui comprando qualquer coisa pra morar juntos.

─── Tá vendo, né? Eu sei escolher muito bem. ─── meus olhos saem da etiqueta que conta com pelo menos cinco dígitos até encará-lo. ─── A geladeira, sei escolher geladeira. Sei escolher geladeira inox, frost-free muito bem. ─── se corrige, falando mais pra mim do que pra o moço e em um tom engraçado. ─── É pra mãe dela, não tem chá de casa nova. Pelo menos por enquanto ainda não.

Reviro os olhos, também negando com a cabeça com o sorrisinho sapeca que ele tem no rosto.

─── Pra sogra? Craque demais, até eu como o bom vascaíno que sou tenho que admitir. Jogou demais nessa. Deixa eu te mostrar, então. Essa aqui, ó. Com certeza a coroa vai adorar.

Os acompanho com o olhar enquanto o vendedor o guia até uma etiqueta de vinte e cinco mil reais. O dia que eu presenciar alguém comprar uma geladeira mais cara que uma moto pode ter certeza que eu não estou sã.

─── Essa aí nem cabe na cozinha da minha mãe, moço. A sua comissão não vai ser em cima dessa não. ─── trato logo de cortar as asinhas do vascaíno esperto. ─── Ela vai adorar essa aqui mesmo, não precisa nem olhar mais nada. Vamos pra o caixa que a gente tem que ir comprar as coisas da festa ainda.

─── Pra quê tu foi falar, viu? Agora a mulher embichou. ─── João empurra o ombro do cara que ele nunca viu na vida, que ri. ─── Qual foi, Tarina. Tu acha que ela não vai gostar dessa aqui? Ela faz gelo!

─── Por vinte e seis mil reais eu faço até a água, João Victor. Você não vai fazer uma loucura dessas.

Minha mãe fica mais velhinha amanhã e ainda faltavam cinco dias quando ela comunicou para a mesa da janta que a geladeira dela estava pela hora da morte e esperava que os filhos dela colocassem outra no lugar como presente de aniversário.

Mas ela sabe muito bem o que estava fazendo, porque só tinha um jogador de time bilionário na mesa e por coincidência, ele também é o maior puxa-saco que o Rio de Janeiro já viu.

Pra me ajudar, o bendito do vendedor já estava contando com a comissão da venda de vinte e seis mil reais e João quando resolve teimar é um saco.

Resultado, uma geladeira que não deve nem passar pela escada vai ser entregue lá na minha casa amanhã de tarde. De qualquer jeito, João e eu tínhamos combinado com a minha tia que vamos comprar as coisas pra festa e então ainda demoramos na rua. É pra ser surpresa, então além de escolher as coisas, o que já nos tomou um tempo, tivemos que ir deixar tudo na mesma casa onde foi a festa da Gabi até poder chegar em casa. Isso sem contar que ele foi do treino direto pra me buscar na faculdade e a janta já está até coberta quando chegamos.
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─── Cintia, mulher! Você nem sabe, você não-sa-be. ─── dona Penha usa até as mãos pra mostrar a empolgação, parada na frente da mesa de salgadinhos que a própria tia Cintia passou a tarde fritando. ─── João me deu uma geladeira, mas uma geladeira e-nor-me. Enorme, Cintia. Toda chique, duas portas, congelador em baixo. tem uma tela. Um tablet de todo tamanho na porta, assim do lado esquerdo... Quando a gente for embora tu vai lá ver. Enorme a bicha, tenho nem feira o suficiente pra guardar lá dentro.

Não posso nem rir da realização da minha mãe, porque João já está me olhando com a carinha de "não te falei?" e se enchendo de razão. É claro que ela ia amar, era arriscado até ela dar o meu quarto pra geladeira. Mas vinte e seis mil reais é tanto dinheiro que me dá dor de cabeça só de pensar que João desembolsou isso tudo em um presente de aniversário.

Ainda estou o olhando com a mesma expressão de tédio quando ele se aproxima, aproximando também um docinho roubado dos meus lábios e me obrigando a comer rápido antes que alguma criança veja e ache que virou bagunça.

─── E-nor-me, Cintia. Você tem que ir lá ver. ─── imita a voz da mulher que o vendedor até agora deve achar que é sogra dele ─── Viu? A bichinha faltou pouco chamar o Jornal.

─── Tá, João Victor. Já entendi que o Flamengo finalmente aumentou o seu saláro. ─── não consigo deixar passar. ─── Vamos ficar por aqui hoje? Você não treina amanhã. ─── peço, poque se a gente for embora, tem que ir cedo. ─── Amanhã a gente toma café e vai.

Rio fraco enquanto finjo não percebê-lo se aproximando. Até estar com as mãos na minha cintura e logo as deslizando para as minhas costas, agora com os braços no meu entorno. Preciso anotar que essa é uma das minhas sensações preferidas.

─── Você quem manda. ─── resmunga. O assisto perder o olhar pelo meu rosto, tão perto que estamos respirando o mesmo ar. ─── Mas eu queria ir pra casa... Dormir na sua cama.

─── A gente vê. ─── digo qualquer coisa. Não tenho foco nenhum em seja lá qual foi o assunto que comecei.

A pele macia da nuca de João está sob os meus dedos. Os escorrego vagamente ali, sentindo-o arrepiar e rindo frco com a reação. Estou quase matando a vontade de encostar nossos lábios quando somos interrompidos.

─── Agora tá explicado, agora todo mundo entendeu. O puddlezinho tá querendo é terminar de se achegar na casa da Penha... ─── esse meu tio tricolor mal amado, o mais insuportável. ─── É, Catarina, tu tem só essa cara sua de sonsa. Não sei qual dos dois é pior.

─── Terminar de me achegar? Eu j-já sou de casa, tio. Tu, ó. Fala demais e sabe pouco. ─── João rebate, surpreendetemente não me soltando. ─── E outra que tia Penha não precisa ganhar presente pra me dar permissão pra nada, né tia? Eu tenho passe livre.

Eu vou cavar um buraco e me enterrar aqui mesmo.

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eu amo eles

e era isso o que eu tinha pra hoje. vou tentar voltar o mais rápido possível, queridas.

um beijo e um abraço

𝗩𝗢𝗖𝗘 𝗡𝗔𝗢 𝗣𝗥𝗘𝗖𝗜𝗦𝗔 ⊹ joão gomes 1/2Onde histórias criam vida. Descubra agora