Capítulo 5 Evelyn

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    Eu não parava de pensar. 

    Minha cabeça não parava um segundo sequer. Não conseguia parar de me culpar por não ter ido atrás de Celia no mesmo dia em que ela foi embora para convencê-la a voltar para casa e conversarmos melhor. Ou tê-la puxado pelo braço antes que ela pudesse entrar naquele carro e a chacoalhado pelos ombros e explicado que eu queria ficar com ela e somente com ela.

    Eu poderia ter feito isso. Poderia ter impedido ela de ir embora, e se tivesse me esforçado mais eu poderia ter convencido ela de ficar. Se eu tivesse beijado ela, e deixado claro o quanto eu a amava e que tudo o que fiz foi por ela, ela teria se acalmado, teria me escutado.

    Só não fiz isso porque pensei que já tivesse mostrado pra ela o quanto a amava. Porra, meu plano deu certo. Não estavam mais falando de nós nas revistas. Estávamos morando juntas como ela queria, jantávamos juntas em público vez ou outra; ou então tentávamos fazer nosso jantar nós mesmas, o que quase sempre acabava em uma salada simples por sempre queimarmos algo. Fazíamos amor quase todas as noites e eu sempre deixava claro o quanto eu a amava. Isso não era o suficiente?

    Não estava claro o quanto ela era importante para mim? Eu era tão insignificante assim para ela? Ao ponto de na primeira complicação ela decidir que eu não valho a pena? Que nós não valíamos a pena? Estava me questionando todas essas coisas, chorando até meus olhos arderem no estacionamento de Ari, quando escutei uma voz as minhas costas.  

  — Evelyn, ma  belle? — disse Max Girard, com uma intimidade irritante — Gostaria de falar com você. Tem algum problema?

    Me preparei para a tentativa de me chamar para um encontro, ou então para a bajulação, ou para qualquer que fosse a forma de Max convidar uma mulher para sua cama sem usar exatamente essas palavras. Ficariam surpresos com a variedade de maneiras diferentes para esse pedido em específico.

    Limpei as lágrimas e respirei fundo, então me virei sorrindo de forma forçada e bem fria para que qualquer coragem que ele tivesse reunido fosse embora.

   — Diga Max — meu tom gentil era óbvia e notavelmente falso — O que quer?

   — Quero saber se gostaria de trabalhar para mim — ele disse, me surpreendendo um pouco por não estar tentando me cantar — Em um filme — ele acrescentou, como se eu não soubesse que quando um diretor de cinema quer conversar com uma atriz, ou pelo menos deveria ser, é para fazer uma proposta a um papel. 

    Não estava nas melhores condições para aquela conversa. A imagem de Celia com aquela atriz morena iniciante, que nem devia conseguir repetir as falas sem fazer com que o tom não seja irritante, como se a frase sempre acabasse em uma pergunta, ainda me assombrava.

   — Por que você não me liga amanhã para discutirmos isso, Max? — falei, em um tom cansado que eu não consegui esconder — Podemos marcar de nos encontrarmos em um lugar mais formal e calmo para discutirmos o assunto, e então você pode me explicar sobre esse papel.

   — Não, Srta. Hugo. Não quero te oferecer um papel nesse filme — Franzi o cenho pare ele, claramente confusa e irritada por conta da formalidade excessiva, que minutos antes não existia — Não planejo que você atue nesse filme.

   — O que quer dizer com isso?

   — Quero que você seja produtora do filme, juntamente com Harry. Não discuti com ele ainda sobre isso, mas acho que ele aceitaria e...

   — Max, — suspirei, já irritada com aquela conversa — eu não sou produtora. Sou atriz. Não posso produzir um filme. Por que eu faria isso?

   — Porque então poderíamos nos aproximar mais no trabalho do que quando trabalhamos em 'Boute-en-train'

    Me senti sem forças para aquela conversa, sem paciência para isso. Havia bebido e estava cansada e triste e com dores nos pés. Não queria pensar sobre aquilo naquele momento. Não conseguia pensar naquilo, estava tonta demais para isso. Nem sequer registrei que ele estava me cortejando, muito menos meu leve tom de voz, quando disse:

    — Me ligue amanhã e depois conversamos melhor sobre isso, Max.

    Foi quando vi o vislumbre dos cabelos vermelhos se agitando pela forma brusca de Celia ao se virar e sair andando pisando duro. E então me dei conta do que Max tinha dito. Me dei conta do que eu havia respondido. Não percebi que ela estava lá. A quanto tempo ela estava ali?  era tudo que eu conseguia pensar. E então por impulso fui atrás dela.

    Senti a mão de Max em meu braço e me virei assustada. Eu preciso falar com a Celia. Eu pensava sem parar. Preciso explicar tudo para ela. Mas não conseguia fazer isso porque uma mão segurava meu braço e me puxava para trás. 

   — Max, o qu...

   — O que você acha de terminarmos a cena do lago na banheira de minha casa, ma belle? — ele me perguntou com um sorriso confiante no rosto que me fez querer dar um tapa nele. 

    E foi exatamente isso que fiz.

    Antes que me desse conta já havia descido a minha mão em seu rosto, deixando-o com a marca de meus dedos. Ele me soltou para pôr as mãos no rosto e eu saí correndo para longe dele. Ele veio atrás de mim e conseguiu me segurar pelos ombros, me virar de frente para ele e forçar seus lábios contra os meus. Imediatamente recuperei a sobriedade.

    Fiquei imóvel, até que a raiva me subiu à cabeça e levantei meu joelho direito com toda a força entre suas pernas. Ele se inclinou para frente e me largou. Pude me afastar alguns passos, então me apoiei em um poste de iluminação e tirei meus sapatos caros dos pés e os joguei contra ele. Saí em disparada para a entrada da casa, sem nem saber se acertei os sapatos, a procura de Celia. Não a encontrei em lugar nenhum.

    Quem eu encontrei foi Harry, que se sobressaltou com minha súbita entrada na lavanderia, se afastando depressa de John Braverman. Os lábios de ambos estavam inchados, o cabelo de John estava bagunçado e Harry se encontrava com a camisa social amarrotada, o terno jogado no chão. As lavanderias de Ari Sullivan fazem milagres... pensei imediatamente.

   — Me desculpem a interrupção da... reunião, super importante, de vocês dois, mas algum de vocês sabe onde a Celia está? — perguntei, enquanto olhava com diversão na direção de Harry.

   — Da última vez que a vi ela estava conversando com uma das atrizes que Robert estava interessado, tentando convencer a pobre moça de que ele é um cavalheiro — disse John em um tom sério, porém divertido. Harry deu um tapa em seu braço.

   — Procurei ela pela casa inteira, ela não está aqui. — eu disse, angústia tomando minha voz. 

   — Ela não está no banheiro? — Harry perguntou pegando seu terno e tentando desamassar a camisa com as mãos. 

   — Não. Não está. 

   — E posso saber que milagre a fez mudar de ideia a respeito de Celia? — Harry perguntou um tanto preocupado.

   — Max Girard foi atrás de mim no estacionamento e me fez uma proposta indecente e Celia ouviu tudo e entendeu errado. Ela saiu batendo os pés aqui para dentro. — resumi.

   — Ela deve ter ido atrás de Robert para levá-la embora. — John opinou.

   — Então eu te levo até a casa dela. — Harry disse sério, depois sorriu ao olhar para os meus pés — Caso ela não queira abrir para nós é só chutar a porta, você já está descalça mesmo — ele piscou para John e enlaçou nossos braços

   — Não consigo imaginar você sendo mais irritante, Harry —ele sorriu, e então nos levou para o carro.

    Eu iria reconquistar o amor da minha vida, não importava como.

Meet Me In The AfterglowOnde histórias criam vida. Descubra agora