Celia estava histérica, e eu embasbacada pegando apenas fragmentos do que ela tentava dizer, mas consegui distinguir "Stella", "mídia", "fora do país", "um ano".
— Celia — tentei fazê-la parar de falar para que respirasse.
Já estava preocupada por sua reação completamente oposta ao que eu imaginava, embora eu sempre soubesse da possibilidade de ela não querer se mudar de cidade pensei que pelo menos ficaria feliz por eu ter comprado uma casa na praia para nós. Mesmo que não nos mudássemos, podíamos passar os fins de semana lá.
Não sei o que deu em mim quando planejei comprar a casa. Por algumas horas não me importei com todas as outras pessoas ou a opinião de mais de um milhão de pessoas. Na hora me pareceu certo. Mas vendo Celia com o rosto vermelho, falando mais que o homem da cobra e gesticulando como louca eu me dei conta do quão surreal e impulsiva foi minha atitude.
— Celia, querida. Calma. — a segurei pelos ombros. Ela se acalmou um pouco, mas não parou de falar — Celia. Ei, se acalma!
Celia olhou para mim e finalmente parou de falar. A arrastei para a cozinha e peguei água para ela. Ela bebeu tudo em um gole.
— Agora você vai respirar fundo, contar até dez e contar do início, porque entendi o que você falou da mesma forma que se entende um leilão de gado no Texas. — eu pedi e ela riu.
Celia voltou aos poucos a sua cor normal e fiquei mais calma, porém o pressentimento de algo ruim estar por vir não me abandonara. Celia puxou uma lufada de ar e recomeçou.
— Não sei se deveríamos nos mudar para cá. — disse de cara o que eu já sabia — Pelo menos não agora. Acho que não preciso dizer a você as implicações que nos mudarmos para cá trariam em nossas vidas. E por mais que seja muito tentador largar tudo e vir correndo para cá e ficar com você por toda a eternidade nessas praias... — Celia parou de fala e olhou para baixo — Stella me chamou para gravar um seriado com ela na Europa.
Pisquei perplexa. Não entendi por que aquele era o motivo principal para não nos mudarmos, mas então raciocinei que era um seriado, e em outro país, outro continente, o que significava mais do que duas semanas de gravação, mais tempo longe.
— Ah... — um nó começou a se formar em minha garganta — E... e você vai?
— Eu disse a ela que iria pensar. Queria falar com você antes de tomar qualquer decisão.
— Não vejo porquê, a vida é sua. — respondi mais grossa do que pretendia. Celia ficou calada por um tempo me olhando com a boca entreaberta.
— Sim, Evelyn, a vida é minha, mas você faz parte dela. Achei que deveria falar com você sobre a proposta que recebi para passar um ano fora do país, já que estamos juntas novamente pelo que entendi. — ela respondeu, começando a se alterar.
— Bem... se vão pagar bem e for bom para a sua carreira, querida, não vejo por que não — rebati, escondendo meu incômodo.
Um ano? Pensei. Eu aguento esse tempo todo longe de Celia? Claro que sim. A questão é se ela aguenta esse tempo todo sem mim por perto, se ela consegue manter nosso relacionamento à distância. Não, ela aguenta sim. É Celia, a mulher mais teimosa que já nasceu, depois de mim. Se ela quiser fazer dar certo ela consegue. Mas ela quer que dê certo?...
Todos esses pensamentos foram interrompidos quando Celia suspirou e saiu quase correndo da cozinha. Observei enquanto ela saiu pela porta da frente da casa e bateu a porta.
Em um primeiro momento pensei em deixar ela ir, pensei que ela que estava fazendo drama. Eu não disse nada de errado. A vida era dela, se ela queria ir passar um ano e meio fora que fosse. Mas no momento em que escutei o motor do carro tive um estalo e saí correndo para fora. Antes que ela pudesse acelerar me coloquei na frente do carro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meet Me In The Afterglow
FanfictionE se Evelyn não tivesse perdido a Celia? E se elas não tivessem que passar tantos anos separadas antes de terem um pouco de felicidade juntas? E se não houvesse tantas mortes, e a sociedade não fosse tão intolerante como Evelyn pensava ser? Se depoi...