Capítulo 6 Celia

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    Eu estava em um táxi, rumo ao bar de esquina a um quarteirão da minha casa. Eu queria beber até me esquecer quem era Evelyn Hugo. Queria me entupir de vinho e me esquecer de como Evelyn era. Queria me esquecer de seu tom de voz e de seus cabelos loiros, que combinavam em contraste com a pele morena de forma magnífica.

    Queria me esquecer de suas lindas sobrancelhas grossas e de seu cheiro doce como as flores. Queria esquecer aquele sorriso torto, a forma orgulhosa como ela cheirava meus cabelos toda manhã, a pintinha quase invisível que ela tinha no seio esquerdo. Queria esquecer a forma como Evelyn jogava a cabeça para trás nos travesseiros toda vez que sentia prazer quando fazíamos amor.

    E a cada gole que eu dava, a cada copo que eu virava, eu estava mais certa de que Evelyn não sairia da minha cabeça tão facilmente. Como eu pude acreditar que iria conseguir esquecer a mulher que eu amo só enchendo a cara?, pensei completamente bêbada.

    Cheguei à conclusão de que eu estava me humilhando naquele bar estando sozinha e bebendo como se não houvesse um amanhã. Então pedi duas garrafas de vinho para o barman, paguei e fui andando até em casa.

    Fui o caminho todo provando para mim mesma que já tinha esquecido a Evelyn. Dez minutos depois eu estava quase na porta de casa quando vi a própria Evelyn sentada nos degraus à minha porta.

— Minha nossa, eu realmente estou bêbada. — eu disse, quando pensei que estava imaginando-a e continuei andando até minha casa.

Peguei minha chave na bolsa com certa dificuldade para encontrá-la. Evelyn não disse nada, na verdade nem se moveu, apenas me olhou perplexa. Não esperava que ela fosse falar algo, afinal achava que estava vendo coisas. Pensei que minha mente estava me pregando uma peça, me fazendo ver exatamente a última pessoa que eu queria na minha frente. Ou a primeira, eu não sabia ao certo.

Cambaleei nos degraus, fazendo as garrafas tilintarem na sacola, e Evelyn se levantou depressa, mas não fez menção de se aproximar. Quando consegui chegar até a porta e já estava me humilhando há um bom tempo tentando abri-la, Evelyn deu um risinho abafado.

— Está difícil aí? — ela me perguntou, a voz estava um pouco embargada, como se tivesse chorado. Não me importei, apenas pensei que talvez fantasmas tivessem voz de choro.

Mas no segundo seguinte ela pegou a chave e a sacola com os vinhos de minhas mãos e abriu a porta. Me sobressaltei com o toque quente de suas mãos dando um passo para trás. Acabei virando o pé no salto alto e Evelyn correu e me segurou pela cintura para me manter de pé. Meu pé começou a arder e percebi que tinha um ralado perto do tornozelo. Manquei dois passos rumo a porta até quase cair. Evelyn se ajoelhou na minha frente.

— Apoie as mãos nos meus ombros e levante seu pé. — ela mandou. Fiz o que ela disse e ela tirou meu sapato — Agora o outro. — ela tirou o outro salto com cuidado para não encostar no machucado e colocou os dois lado a lado perto da porta.

— Acha que consegue andar agora sem eles? — olhei para ela, me perguntando se eu estava mesmo imaginando aquilo ou não. Balancei afirmativamente a cabeça em resposta.

    Minha boca estava seca demais para eu conseguir verbalizar qualquer palavra e desejei que uma das garrafas de vinho estivesse aberta.

    Entrei em casa mancando levemente. Evelyn se levantou e veio logo atrás de mim com minhas chaves, as garrafas de vinho e meus sapatos nas mãos. Ela fechou a porta atrás de nós e trancou, pôs as chaves na mesinha ao lado da porta e os sapatos no chão. Peguei as garrafas da mão dela e fui para a cozinha atrás de um saca-rolhas para abri-las.

    Quando finalmente abri uma das garrafas Evelyn apareceu ao meu lado e tirou a garrafa da minha mão, um momento antes de eu dar o primeiro gole.

    — Já bebeu demais hoje, não acha? — disse, então deu um longo gole e guardou as duas garrafas. Senti que estava ficando vermelha de raiva. Desde quando fantasmas bebem vinho? pensei, E quem ela pensa que é para determinar se eu bebi demais ou não? — Onde ficam os remédios desta casa? — ela perguntou se virando para mim e cruzando os braços.

Meet Me In The AfterglowOnde histórias criam vida. Descubra agora