Capítulo 9 Evelyn

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    — Querida — chamei, passando as mãos pelos cabelos de Celia.

    — Hmmm...

    — Eu preciso ir — sussurrei.

     Nós ainda estávamos deitadas na cama, nuas, grudadas uma na outra. Celia dormiu logo depois que terminamos e estava babando em meu braço.

     Deixei que ela dormisse porque sabia que estava cansada.

     Eu, entretanto, não consigui dormir como ela, mesmo que eu tenha passado a noite anterior em claro.

     Na minha cabeça, naquela manhã, fazia todo sentido eu não dormir só para poder observá-la durante o sono. Minha Celia parecia um anjo enquanto dormia. Ela era sempre muito animada quando acordada, sempre ligada no duzentos e vinte. Entretanto, quando estava dormindo Celia ficava calma, em paz, como uma criança ingênua e alheia do mundo a sua volta.

     Era como se enquanto dormia Celia fosse para outro mundo, um mundo melhor, um mundo mais pacífico, mais tolerante; o mundinho de Celia.

     Essa era uma das coisas que eu mais amava nela, a forma como ela era otimista e idealista. Ela sempre estava disposta e ir lutar pelos seus direitos sem ter vergonha de quem era e não se importava com o que iriam pensar. Estava sempre pronta para arriscar tudo por uma vida normal comigo.

     Em contra partida, ao olhar para mim você vê uma cubana ambiciosa, fria e calculista, que nunca abriria mão do que lutou tanto para conseguir, para ter um espaço nesse mundo onde já sabia que não me encaixava.

     Cubanos não eram bem vistos nos Estados Unidos; pessoas de cor não eram bem vistas na sociedade; o mundo naquela época, e ainda hoje, não está preparado para admitir que mulheres podem se virar sozinhas sem um homem; pessoas queer não são bem vistas no mundo.

     Tendo dito isso, eu invejava um pouco toda aquela ousadia de Celia, toda aquela coragem e força que habitavam aquela mulher. Desconfio que foi isso que fez eu me apaixonar por ela. Acho que posso dizer que sempre foi Celia quem me deu a força necessária para encarar os desafios que o mundo nos dispôs ao longo de nossas vidas. Mesmo quando quem precisou de ajuda foi Celia.

     E era quando Celia estava dormindo que tudo isso emanava dela e por esse motivo adorava admirá-la enquanto ela babava sobre mim.

    — Fecha... a porta da cama... quando sair — ela disse em resposta, ainda meio dormindo.

     Comecei a rir e acabei balançando Celia enquanto gargalhava, o que a acordou de vez.

    — O que foi? — ela sorriu — Por que está rindo? — ela perguntou, rindo um pouco da minha expressão.

    — É que eu te amo tanto que às vezes preciso soltar um pouco dessa felicidade para fora — disse, ainda rindo um pouco. Vi Celia corar e a beijei.

    — Eu preciso ir, sweetheart. Harry e John estão sozinhos lá em casa, dormindo no meu sofá. Não sei se quero que eles descubram que a casa tem quarto de hóspedes enquanto estou fora — disse, apoiando o cotovelo no colchão para segurar minha cabeça e ver Celia melhor — Você quer ir comigo? — perguntei.

     Celia sorriu e me olhou animada, mas depois de um momento ficou com uma expressão triste e desviou o olhar de meu rosto.

     — Não posso. Tenho que me encontrar com Stella hoje.
 
     — E quem é essa pessoa que está roubando seu tempo de ficar comigo? — perguntei em tom de brincadeira, mas por dentro estava curiosa.

Meet Me In The AfterglowOnde histórias criam vida. Descubra agora