CAP 4

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Demorei o dia todo para conseguir dar uma voltinha com o primeiro parafuso, minhas unhas estavam sangrando e eu precisava de algo para tirar o outro. Quando era noite o Daniel entrou no quarto com minha comida e eu comi sem reclamar, estava com fome e além disso queria ficar sozinha logo. No outro dia ele voltou pela manhã, olhou meus dedos com sangue enquanto tirava a algema mas não perguntou nada

— banho, anda

Eu entrei no chuveiro gelado e lavei o sangue, depois passei a mão no pescoço que ainda ardia pelo corte e por fim me olhei no espelho. Eu não tinha a aparência de uma prisioneira, estava mais limpa que nunca, tirando as feridas se você me olhasse eu era uma garota comum

— não tenho o dia todo garota

Desliguei a água e enquanto me secava tive uma ideia. O espelho já estava meio quebrado então não ia fazer falta arrancar uma lasca para usar com o parafuso. Enfiei o pedaço correndo na toalha e então me vesti no banheiro mesmo. Eu coloquei com cuidado no decote e depois que fui algemada e deixada sozinha voltei ao trabalho.

O pedaço de vidro não era muito grande mas virado de lado se encaixava no pequeno buraco e eu conseguia soltar um pouco quando o rodava. O ruim é que a cada giro um corte novo surgia na minha mão e mais uma vez eu estava toda suja de sangue. Demorei quase a noite toda e enfim consegui me soltar, as correntes passaram pelos vãos soltos e eu levantei da cama. Ficar tanto tempo ma mesma posição estava deixando minhas costas doloridas, então me alonguei e caminhei lentamente até a porta. Eu ainda tinha as algemas presas no pulso e as correntes penduradas, mas ia aproveitar para usá-las como uma arma já que eram pesadas

— está tudo bem — ouvi a voz do Aires do lado de fora e parei de me mover — eu já disse que está bem, encontro vocês amanhã

— podemos ficar de guarda, você deve estar cansado

— é só uma garota, ela não vai fazer nada comigo

Uma porta bateu e enfim passos vieram na direção do quarto. Me encostei atrás da porta e assim que ela abriu eu pulei nas costas do Aires com a corrente em seu pescoço

— como? Que merda

Agarrei sua cintura com as pernas e ele ficou tentando soltar meus braços que o enforcavam. Pensei que ia vencer dessa vez, só que ele abaixou a cabeça e impulsionou o corpo de uma maneira que me fez voar por cima de seu ombro e cair no chão de costas. Fui rápida e chutei sua canela com força, o fazendo cair também e em seguida subi em cima dele e arranquei a faca que estava presa na cintura. Ele foi muito ágil em agarrar as correntes e passar para minhas costas de uma forma que os meus braços ficaram presos para trás

— caramba princesa — disse sentando e me mantendo em seu colo — você sempre me surpreende

— me solta

— acho que não, eu gosto de te ver no meu colo

Ele tinha um sorriso sem vergonha no rosto e quando o analisei melhor vi que estava todo sujo de sangue

— me solta — ordenei mais uma vez

— só se me dizer como se soltou

— eu tirei os parafusos da cama

— garotinha espera

Tentei puxar meu braço mas os pulsos estavam doendo. Acho que fiz uma careta de dor porque ele afrouxou o aperto e arrancou a faca da minha mão

— vai me dizer quem te mandou aqui?

— eu já disse, ninguém me mandou

— então qual o motivo pra querer tanto me matar se sequer me conhece? — sussurrou perto do meu ouvido

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