Demorei o dia todo para conseguir dar uma voltinha com o primeiro parafuso, minhas unhas estavam sangrando e eu precisava de algo para tirar o outro. Quando era noite o Daniel entrou no quarto com minha comida e eu comi sem reclamar, estava com fome e além disso queria ficar sozinha logo. No outro dia ele voltou pela manhã, olhou meus dedos com sangue enquanto tirava a algema mas não perguntou nada
— banho, anda
Eu entrei no chuveiro gelado e lavei o sangue, depois passei a mão no pescoço que ainda ardia pelo corte e por fim me olhei no espelho. Eu não tinha a aparência de uma prisioneira, estava mais limpa que nunca, tirando as feridas se você me olhasse eu era uma garota comum
— não tenho o dia todo garota
Desliguei a água e enquanto me secava tive uma ideia. O espelho já estava meio quebrado então não ia fazer falta arrancar uma lasca para usar com o parafuso. Enfiei o pedaço correndo na toalha e então me vesti no banheiro mesmo. Eu coloquei com cuidado no decote e depois que fui algemada e deixada sozinha voltei ao trabalho.
O pedaço de vidro não era muito grande mas virado de lado se encaixava no pequeno buraco e eu conseguia soltar um pouco quando o rodava. O ruim é que a cada giro um corte novo surgia na minha mão e mais uma vez eu estava toda suja de sangue. Demorei quase a noite toda e enfim consegui me soltar, as correntes passaram pelos vãos soltos e eu levantei da cama. Ficar tanto tempo ma mesma posição estava deixando minhas costas doloridas, então me alonguei e caminhei lentamente até a porta. Eu ainda tinha as algemas presas no pulso e as correntes penduradas, mas ia aproveitar para usá-las como uma arma já que eram pesadas
— está tudo bem — ouvi a voz do Aires do lado de fora e parei de me mover — eu já disse que está bem, encontro vocês amanhã
— podemos ficar de guarda, você deve estar cansado
— é só uma garota, ela não vai fazer nada comigo
Uma porta bateu e enfim passos vieram na direção do quarto. Me encostei atrás da porta e assim que ela abriu eu pulei nas costas do Aires com a corrente em seu pescoço
— como? Que merda
Agarrei sua cintura com as pernas e ele ficou tentando soltar meus braços que o enforcavam. Pensei que ia vencer dessa vez, só que ele abaixou a cabeça e impulsionou o corpo de uma maneira que me fez voar por cima de seu ombro e cair no chão de costas. Fui rápida e chutei sua canela com força, o fazendo cair também e em seguida subi em cima dele e arranquei a faca que estava presa na cintura. Ele foi muito ágil em agarrar as correntes e passar para minhas costas de uma forma que os meus braços ficaram presos para trás
— caramba princesa — disse sentando e me mantendo em seu colo — você sempre me surpreende
— me solta
— acho que não, eu gosto de te ver no meu colo
Ele tinha um sorriso sem vergonha no rosto e quando o analisei melhor vi que estava todo sujo de sangue
— me solta — ordenei mais uma vez
— só se me dizer como se soltou
— eu tirei os parafusos da cama
— garotinha espera
Tentei puxar meu braço mas os pulsos estavam doendo. Acho que fiz uma careta de dor porque ele afrouxou o aperto e arrancou a faca da minha mão
— vai me dizer quem te mandou aqui?
— eu já disse, ninguém me mandou
— então qual o motivo pra querer tanto me matar se sequer me conhece? — sussurrou perto do meu ouvido
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Incompatível
RomanceZaya é uma jovem curandeira que vive em um pequeno vilarejo do reino do ar. Após presenciar um dos momentos mais difíceis da sua vida, ela decide que vai se vingar e a partir deste dia começa a traçar um plano para assassinar o rei tirano. * Para me...