Me sentei com os pés balançando na beirada e fiquei observando o horizonte. Raramente o sol batia aqui, só que hoje, mesmo com o frio intenso, ele resolveu aparecer para aquecer um pouco meu corpo.
Eu não conseguia me lembrar de quantos dias estava presa. Sequer me lembrava do som da minha voz, já que não falava a muito tempo. Todos os dias felizes pareciam um sonho distanteOlhei para baixo. Os dedos roxos de frio, a barra da calça velha que me arrumaram no último banho indo até meu tornozelo. Talvez se eu pulasse daqui de uma vez esse sofrimento horrível acabaria para sempre
— sua comida chegou — Ignorei a voz do guarda e continuei observando o horizonte — sabe que não gosto de ser ignorado
Ele destrancou a cela e eu me levantei, pronta para me defender de mais uma seção de socos. Absorvia cada impacto, nunca revidava, só que hoje ele me empurrou contra a parede e esfregou o pau na minha bunda
— você é uma puta tão gostosa — sussurrou no meu ouvido com o hálito fedido exalando — eu cansei de ficar batendo uma enquanto você dorme, vou aproveitar que aqui ninguém vai conseguir ouvir seus gritos
Esperei calmamente ele se concentrar em abrir o cinto. Quando notei que o babaca se distraiu completamente, empurrei minha cabeça para trás e o acertei no nariz
— vadia — resmungou agarrando meu cabelo
Empurrei nossos corpos até cairmos no chão e soquei sua cara com toda força que existia em mim. Ele pegou uma faca no quadril e tentou me acertar, mas tudo que conseguiu foi um arranhão na cintura, rasgando a camisa suja.
Levantei em um pulo rápido, chutei sua cabeça, depois roubei a faca de sua mão e antes que ele sequer conseguisse mexer eu a enfiei em sua barriga
— diga como saio desse inferno — falei com dificuldade, sentindo a garganta seca
— vai se foder — gemeu de dor
— como saio dessa merda? — perguntei novamente, rodando a faca com força, mas ele não respondeu — tudo bem, eu descubro sozinha
Agarrei as chaves em sua cintura, depois o puxei até que ele ficou em pé
— a quanto tempo estou aqui?
— uns dois anos
Minha raiva era tanta que eu o empurrei até a beirada
— se me empurrar você vai junto — disse agarrando meu pescoço
Sorri com a maior frieza que existia em mim
— você cuidou tão bem de mim esses dois anos, me bateu com tanta dedicação, seria uma honra morremos juntos
— cadela sarcástica
— vai para o inferno
Enfiei mais a faca, o fazendo soltar minha garganta e se desequilibrar, depois chutei o meio de seu peito e ele caiu para trás em direção ao abismo. Sequer consegui ouvir ele se espatifando lá embaixo, já que era muito alto. Dei um sorriso de vitória e em seguida limpei a mão ensanguentado na camisa, peguei as chaves que estavam caídas, depois sai da cela extremamente animada com a ideia de me libertar.
O andar parecia um labirinto infinito. Eu dava várias voltas e nunca achava uma escada. Parei para respirar um pouco e encostei contra uma pedra. Já era noite, o vento gelado cantava pelos corredores e eu estava ficando cansada.
Passei por um corredor escuro, mas uma mão me agarrou e então começamos uma luta. Meu corpo já estava dolorido, eu não comia a muito tempo e precisava de um esforço enorme para conseguir brigar com alguém. Ele acabou me jogando no chão e subiu sob o meu corpo, prendendo minhas mãos acima da cabeça

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Incompatível
RomanceZaya é uma jovem curandeira que vive em um pequeno vilarejo do reino do ar. Após presenciar um dos momentos mais difíceis da sua vida, ela decide que vai se vingar e a partir deste dia começa a traçar um plano para assassinar o rei tirano. * Para me...