CAP 16

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O Daniel me convenceu a não ir ao reino do fogo sozinha. Ele disse que o rei provavelmente não estava lá devido à guerra e que se estivesse era arriscado demais para eu aparecer sozinha sem o Aires, já que ele poderia me usar para se vingar.

Nós partimos do reino água pela manhã e iniciamos nossa viagem de volta para a casa. Eu estava ansiosa para chegar, por isso sequer reclamei quando ele me fez comer carne de cobra, ou então dormir em um chão cheio de sapos.

Demoramos 5 dias para entrar nas fronteiras do reino do ar e ao mesmo tempo que era tenso, era ótimo saber que a gente estava em casa.

— tem soldados por todos os lados, fique atenta

Concordei com a cabeça e nós continuamos o percurso pelo resto do dia. Chegamos na capital a noite e após deixar os cavalos fomos para a cabana pelos esgotos

— fique aqui, vou verificar se alguém invadiu

Eu fiquei sozinha naquele pequeno parapeito que dava para um abismo enquanto ele olhava a cabana. Estava chovendo, o chão escorregadio e minhas pernas tremiam com o frio

— tudo livre — falou me estendendo a mão

Eu aceitei e fui conduzida até a porta. Quando entramos na cabana uma nostalgia me atingiu. Estava vazia e cheia de poeira

— nem parece que passamos só 15 dias fora

— eu tenho que averiguar as ruas e comprar comida, não temos nem água aqui. Volto mais tarde

Assim que ele saiu eu fui para o quarto e me joguei na cama. Tinha o cheiro do Aires nela e isso foi o necessário para que eu pegasse no sono

Passaram dois dias e o Daniel não tinha voltado. Isso me deixou muito preocupada pensando que ele poderia ter sido pego. Além disso a minha fome era tão grande que eu mal conseguia me mover

Tomei um banho gelado e após me vestir e colocar uma capa eu sai pelas ruas da cidade.
Estava tudo caótico. Várias lojas fechadas, lugares destruídos e não tinha tantos comerciantes como antes

— eu gostaria de alguns pães — pedi para a vendedora da pequena padaria próxima à praça principal

Ela começou a colocar em um saco e eu olhei ao redor. Tinha milhares de cartazes com minha foto pendurado por todos os cantos, além disso também colocaram do Alexei e do Daniel. A porta do castelo estava lotada de pessoas gritando revoltadas e tinha muito mais soldados do que o comum circulando

— o rei já tomou alguma atitude? — um homem falou para outro perto de mim

— não, agora sem o auxílio dos reinos da terra e da água a gente vai morrer de fome de vez

— ouvi dizer que fomos massacrados no campo de batalha

— dizem que o capitão foi brutalmente torturado e os outros soldados incinerados pelo rei do fogo

Por alguns segundos o meu coração parou de bater. O saquinho de moedas caiu no chão e abaixei para catar, mas quando me levantei o capuz caiu e a vendedora me olhou com reconhecimento

— você é a garota que está sendo procurada — falou alto chamando a atenção de todos

Eu não fiquei parada aguardando uma merda acontecer. Sai correndo pelas ruas e uma multidão de guardas me seguia

— não vai conseguir escapar, vadia

Eu corria pelas vielas e as pessoas tentavam me agarrar. Todos queriam a enorme recompensa que receberiam pela minha vida.

Uma dor absurda atingiu o meu ombro direito e quando olhei vi uma flecha me atravessando. Era desafiador correr com tanta dor. Consegui chegar aos esgotos e sair da cidade, depois escalei uma árvore alta e fiquei sentada aguardando eles se despistarem

— merda — gemi de dor quebrando a flecha

Sangue escorria pelo meu braço e manchava todo o meu vestido.

— ela foi por aqui — um homem gritou distante

Era difícil me equilibrar no topo da árvore com tanta dor. Mas fui resistente e aguentei ate o anoitecer.

Quando vi que estava seguro eu tentei descer, mas acabei me desequilibrando e cai de cara no chão. Sem dúvidas alguma costela tinha quebrado e fiquei sem ar por alguns segundos.

Levantei com cuidado e praticamente me arrastei de volta para os túneis, depois para a cabana, na esperança de o Daniel ter voltado já

— Daniel? — falei quando entrei

Não recebi nenhuma resposta. Corri para fazer um curativo no meu ombro e quando estava terminando de enfaixar a porta abriu e passos ecoaram para dentro

— mas que porra, onde você estava Daniel? — gritei do quarto

Não recebi nenhuma resposta e a minha espinha toda gelou.

— Aires?

Mais uma vez o silêncio. Então peguei a minha faca e fui caminhando até ondeio barulho vinha

— não sou o Aires, querida

O Liam estava sentado na poltrona da sala com as pernas cruzadas. Tinha tantos guardas esparramados pelo pequeno espaço que ficava difícil me mover

Procurei alguma saída, ou alguma faca só que tudo estava distante, eu estava cercada e sem saída

— você é uma garotinha difícil de encontrar, ainda bem que tenho bons espiões. Onde está o seu namorado?

— se os seus espiões são tão bons assim você deveria saber

Um guarda veio até mim e me deu um soco na costela machucada, depois no rosto me fazendo cair de joelhos sem ar

— cuidado com essa língua malcriada

— vai se foder, seu usurpador de merda

Ele levantou e começou a caminhar pela cabana

— um bom esconderijo, bem embaixo de nossos narizes

— e você é tão idiota que passou 7 anos sem descobrir nada

— peguem o anel, não estou disposto a ficar batendo boca com essa puta

Um guarda puxou minha mão direita e eu comecei a pular para tentar me soltar, mas eles foi ágil em tirar o anel de noivado que o Aires me deu

— me devolva — soquei o guarda

— espero que esteja preparada para o fim da sua vida — o Liam disse antes de sair pela porta

Não tive muito tempo de pensar. Um guarda se aproximou com um copo e segurou minha boca

— beba tudo

— beba você, seu merda

Por mais que eu tentasse lutar eles me imobilizaram e conseguiram enfiar o líquido na minha boca. Tinha gosto de veneno e eu sabia que ia morrer

— não se preocupe, vamos cuidar bem do seu corpo gostoso

O soldado me soltou e o meu corpo foi ficando mole. Cai de cara no chão e rolei até ficar com a barriga para cima

— Aires... — murmurei entre a bile que subia pela minha garganta

Eu conseguia o ver andando pela cabana. Ouvia as nossas risadas no quarto

— me ajude — pedi esticando o braço em direção nossa cama

Ele estava em pé de costas, rindo muito com a mão na barriga e em seguida foi caminhando em direção a cama. Minha visão clareou é mais uma vez eu estava no chão, vários soldados rindo e me olhando

— pare de me morder, princesa

Minha risada preencheu os meus ouvidos e meus olhos encheram de lágrimas

— é insuportável ter que conviver com vocês

— arrume uma namorada Alexei, você anda muito amargurado

Eu não conseguia mais entender o que era real e o que não era. Minha vista ficou embaçada e eu tentei rastejar até a porta, mas apaguei antes que conseguisse me mover os braços.

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