Acordei sentindo um vento muito gelado, a cabeça doendo e estômago queimando como se eu tivesse comido brasa
— merda — falei tentando me sentar
Abri os olhos devagar e levei um baita susto. Meu corpo estava muito perto da borda e abaixo tinha um enorme precipício que sequer dava para ver o fundo. Eu estava tão enjoada que apoiei sob os cotovelos e vomitei um líquido preto, depois me arrastei para trás, até que encostei em uma grade. Era uma cela pequena, feita de pedra e bem escura
— Liam seu desgraçado — falei levantando
Passei horas tentando abrir a grade e gritando para alguém aparecer, mas era como se tivessem me deixado lá para morrer aos poucos.
Passei dois dias sem ver ninguém, sem ter água para beber ou comida. O vento a noite era muito frio, meu vestido tinha a manga longa só que mesmo assim não esquentava nada
— olha só, parece um cachorrinho enjaulado
Me virei para trás e o Liam estava em pé apoiado na grade com vários guardas ao seu lado
— você vai passar o resto da sua vida ai, completamente esquecida
— por que está fazendo isso?
— porque eu quero — sorriu enquanto passa pelo vão da grade um cobertor velho, um copo de água e me jogou um pedaço seco de pão — uma refeição digna da realeza
— o Aires vai arrancar seus olhos com os dedos — gritei vendo ele se afastar — volte aqui seu filho da puta
Eu comecei a marcar na pedra os dias que fiquei lá. O inverno veio e a neve entrava no pequeno espaço deixando tudo úmido e muito frio. Eu fiquei muito doente, pensei que fosse morrer mas ainda não era minha hora
Uma vez na semana alguém vinha me trazer um pedaço de pão seco e uma pequena jarra de água, que aprendi a racionar. Dormir era horrível, eu sonhava a noite toda e acordava perdida
— venha me encontrar, amor — pedi antes de apagar
— eu já disse que você é a pessoa mais linda do mundo?
— eu estou toda suja, passei a tarde limpando esse quarto
— mesmo assim você é a pessoa mais linda do mundo
Ele sorriu e deu alguns passos para perto de mim, passou a mão no meu rosto com carinho e beijou minha testa
— espero que nossos filhos pareçam com você
— espero que eles tenham seus olhos — respondi observando o brilho em seus olhos cinzentos
— eles vão ter, todos os descendentes do ar nascem assim
— eu sei, mas seus olhos são muito mais bonitos do que qualquer outro descendente
Ele deu um sorriso de lado e abraçou minha cintura
— preciso tomar banho, estou suja
— sem chance de te soltar
Tentei correr mas ele ainda me segurava e eu comecei a rir
— Aires, me deixe
— eu nunca vou deixar você
Acordei assustada com um barulho e vi que a cela estava sendo aberta. Por alguns minutos tive esperança, só que um soldados que aparentava ter uns 30 anos entrou
— o chefe disse que posso me divertir com você, afinal está sendo muito bem hospedada em nossa casa
Me arrastei até a parede oposta e encostei na pedra. Ele parou na minha frente me encurralando e agarrou a minha canela. Eu não facilitei as coisas. Comecei dando um chute nele e então levantei, mas acabei tropeçando na coberta e bati as costas na pedra, me causando uma dor aguda
— você é uma vadia tão linda — disse agarrando meus braços, me deixando imóvel
Ele socou a minha cara várias vezes, quando cansou desceu para meu estômago e eu apanhei o tempo todo sem dizer absolutamente nada
— vamos fazer algumas mudanças — estava um pouco escuro, mas ainda assim eu conseguia ver o brilho da faca em sua mão — por onde vou começar?
Ele me jogou no chão e subiu em cima de mim. Fui rápida e o soquei na cara com força, fazendo sangue escorrer de seu nariz
— sua... vagabunda
Meu cabelo foi agarrado e ele passou a faca cortando os fios. Depois me fez vários cortes pelo corpo e por fim saiu rindo.
Ao menos uma vez na semana ele voltava para me bater. Perdi completamente minha sanidade, os dias já não eram contados mais, eu não sentia o frio do inverno, meus machucados não doíam, não tinha fome, mas meu instinto não me deixava desistir, eu lutaria até o último segundo
— hora do banho — ignorei a voz é um outro guarda que eu não conhecia algemou minhas mãos e me puxo— seu cheiro está horrível, ninguém aguenta mais
Ele estava acompanhado por outros 4 homens e eles me escoltando ate um banheiro escuro no final do corredor. Eu mal comia, então não sentia muitas necessidades, muito menos dor de barriga. Dava para me virar com um balde que deixaram na cela.
— tire sua roupa
— não
— se você não tirar nós vamos rasgar, depois não vai ter nada para vestir
Bufei e comecei a tirar o trapo de vestido que já estava duro em meu corpo. Eu estava muito suja, queria passar horas naquele chuveiro da cabana sem reclamas
— gostosa, vira de costas
— vão se foder — respondi os ignorando
Meu cabelo não passava de um tufo caindo pelo chão, eu era uma bagunça de machucados e roxos, estava tão magra que os ossos da minha costela marcavam a roupa
— mandei você virar — o guarda disse dando um tapa na minha cara
Revidei, mas depois de três tapas acabei virando e um outro homem se aproximou para tirar as algumas
— você tem 2 minutos
Todos saíram e eu entrei na água que estava extremamente congelante. O chuveiro sujo soltava poucas gotas em mim, então me virei para ser rápida e limpar tudo que precisava
Assim que o tempo passou um guarda voltou e me entregou uma calça e uma camisa que ficaram bem gigantes, depois me arrastou de volta para a cela.
Essa rotina se repetiu por muito tempo. Alguns dias o mesmo guarda voltava e me arrastava para uma outra cela sem janelas, me deixava lá por tanto tempo e eu sequer sabia se era dia ou noite.
Mesmo me sentindo muito fraca, com muita fome e dor, eu sempre tentava treinar alguns golpes que o Aires me ensinava, porque algum dia o idiota do guarda iria abrir a porta e eu o jogaria desse buraco, depois assistiria seu corpo se espatifar lá em baixo e fugiria para casa.
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Incompatível
RomanceZaya é uma jovem curandeira que vive em um pequeno vilarejo do reino do ar. Após presenciar um dos momentos mais difíceis da sua vida, ela decide que vai se vingar e a partir deste dia começa a traçar um plano para assassinar o rei tirano. * Para me...