22. Desculpa.

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O restante da semana se passou rapidamente.

E para o desespero de Neji, sua folga acabou.

Foi bom enquanto durou.

Ele aproveitou os dias em casa para passar um tempo com Naruto e também refletir. Pensou sobre a montanha russa maluca que sua vida havia se tornado nos últimos meses e chegou a conclusão de que estar apaixonado é uma loucura.

Se rendeu à droga do sentimento.

O que poderia fazer? O buraco em seu estômago não era sinônimo de fome, e parecia que quanto mais os dias se passavam, mais fundo seu coração se afundava no peito. A hipótese de viver a vida como se nunca tivesse se envolvido com Shikamaru começou a apavorar Neji.

Parecia simplesmente impossível. A cada minuto que se arrastava, a bagunça que o corroía por dentro ficava maior. Ele estava começando a sentir a dor de verdade, e era desumana. Ver Shikamaru vivendo normalmente, sempre com um café em mãos enquanto perambulava o campus ao lado de Choji e Temari deixou Neji irritado. Irritado não, chateado. Não estava com raiva, mas sim inconformado.

Egoísmo.

Definitivamente, um egoísta nato. Embora quisesse a felicidade de Shikamaru, Neji não podia evitar o sentimento de amargura enquanto o via viver como se nada tivesse acontecido.

Seu ego finalmente deu trégua ao coração.

No primeiro dia após a folga, Neji achou que o veria na cafeteria. Pensou que ele apareceria ali, no mesmo horário de sempre.

Mas isso não aconteceu.

Também não rolou na terça, quarta, quinta e sexta.

Bem.

Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé.

Ou seria "se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha"?

Neji não fazia ideia.

Mas ele estava disposto a ir até sua montanha.

No sábado, durante a tarde, Neji fez questão de se arrastar até o lar do alfa que estava atazanando sua vida e mexendo doentiamente com seus sentimentos. Ele parou em frente a casa cor creme e por lá ficou durante dez minutos.

Dez longos minutos.

Dez minutos encarando a porta, como se ela fosse a coisa mais fenomenal do mundo. Neji só se deu conta de que estava sendo covarde quando a senhorinha da casa ao lado se sentou em frente ao portão e passou a lhe encarar com pena.

"Tadinho, é esquizofrênico."

Ele tinha certeza de que ela estava pensando assim.

Por fim, Neji tomou coragem e bateu na porta, com as mãos trêmulas e as pernas mais ainda. Estava quase desabando.

Quando a porta se abriu, ele estremeceu.

Era Shikamaru ali.

Em carne e osso.

O mesmo de sempre. O mesmo tapado que há quase três meses atrás estava lhe prensando contra a estante de uma biblioteca.

Neji sorriu ao notar que ele estava vestindo um moletom do Bomberman. Os cabelos soltos, com alguns fios desobedientes sobre o olho e o restante enganchado atrás da orelha. Alargadores, cigarro entre os lábios, calça moletom folgada... E também menta. O cheiro de menta emanava da ponta das mechas negras e úmidas.

Neji deteve um passo para não acabar caindo no chão.

"Saudade" é um termo muito limitado e insignificante para o que ele estava sentindo. A bagunça que se acumulava em seu interior era simplesmente bizarra, com batimentos cardíacos reverberando no peito, boca seca e estômago se revirando.

Extremamente Atípico - shikaneji Onde histórias criam vida. Descubra agora