19. Gosto de você.

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Neji exalava a menta.

Os cabelos.

O corpo.

Tudo.

Descobriu naquela manhã que Shikamaru tinha uma prateleira com shampoo, condicionador e colônia de menta. Não foi um choque, na verdade. Só era um pouco atípico. Neji nem sabia que existiam produtos não comestíveis com cheiro de menta antes de conhecer ele.

As coisas pareciam ter se tornado uma só naquela cama. Braços envolvendo quadris, pernas sobre pernas, cabelos emaranhados e corpos próximos. Ou ao menos foi assim quando Neji adormeceu, minutos depois de sair do banho. Quando acordou, o outro lado da cama estava vazio.

Não deu muita bola.

Shikamaru era o dono da casa, apareceria a qualquer momento. Ou talvez estivesse na cozinha, mexendo em panelas. Ou na sala, lendo o Manifesto do Partido Comunista.

Neji riu com o pensamento.

Ele se banhou novamente no banheiro de ladrilhos verde lunar. Escovou os dentes com o indicador e prendeu os cabelos em um coque solto com um elástico que encontrou em uma das gavetas do armário abaixo da pia. Vestiu as mesmas roupas do dia anterior.

Quando retornou para o quarto, ficou aliviado ao notar as horas no celular. A bateria estava no trinta por cento, já que não o havia deixado no carregador naquela noite.

Ele enfiou o aparelho no bolso do moletom e deixou o quarto após passar os olhos rapidamente por cada aviso besta pendurado na parede que não havia notado na noite passada.

Havia até um capacho.

Tipo?

Quem coloca capacho no quarto?

"AH, NÃO! VOCÊ DE NOVO?"

Neji revirou os olhos.

Quando passou em frente a escrivaninha, um meio sorriso se curvou em seus lábios. Já havia visto um pouco da letra de Shikamaru antes, mas era realmente impressionante o quão horrível aquela caligrafia conseguia ser naqueles textos. Havia uma variedade de canetas pretas em uma caneca, e vermelhas em outra. Uma pilha de livros bizarramente grossos e um papel da anatomia de um torso impresso, cheio de círculos, setas e anotações em vermelho. Sobre o encosto de uma cadeira, um estetoscópio.

Era um quarto grande, espaçoso o suficiente para andar de um lado para o outro tranquilamente e não se sentir sufocado no processo. As janelas estavam abertas e as persianas afastadas, jogadas para os lados da parede. O dia ainda era meio cinza, com gotas finas caindo no solo.

Neji virou no fim do corredor, dando de cara com a sala, e consequentemente a cozinha. Não haviam mais roupas espalhadas pelo chão, já que quando ele acordou, elas estavam dobradas ao lado da cama, de uma forma meio desleixada. Viu Shikamaru em frente ao balcão, os cabelos meio presos e o rosto pensativo. Os olhos distantes, encarando algum ponto fixo da parede do outro lado do cômodo amplo. Ele estava segurando um copo grande de café, e a estampa dizia: "SE VOCÊ PODE LER, VOCÊ CHEGOU" e em seguida, em letras miúdas: "muito perto do meu café. TIRA O OLHO!" Havia a imagem de um óculos redondo abaixo das letras.

Neji revirou os olhos. Não para o copo de café, e sim para o moletom que ele vestia. Um enorme, gigante e monstruoso "MEDICINA" escrito sobre a peça verde musgo.

— Bom dia — ele se apressou a dizer antes que encontrasse mais cafonices.

Shikamaru não desviou o olhar da parede quando murmurou um arrastado e rouco "bom dia..."

Extremamente Atípico - shikaneji Onde histórias criam vida. Descubra agora