Sexto Capítulo - Sacrilégio

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Para afugentar os as imagens em minha mente e me impedir de cometer esse sacrilégio começo a rezar de forma fervorosa e que provoca em Ragnar e sua esposa uma mistura de confusão e frustração.

- Então fique aí, e vá dormir com seu deus.

Diz Ragnar se levantando.

E com isso os dois se afastam de mim, sinto que enfim consigo respirar, a proximidade com o corpo nu de Ragnar e a visão de sua esposa à minha frente de forma provocante, me deixaram uma sensação de falta de ar, como se eu estivesse segurando o fôlego por tempo. Eles voltam para a cama rindo de mim, sinto-me envergonhado e sujo, como se olhos de Deus estivessem sobre mim à me julgar, mesmo que eu tenha conseguido resistir a tentação de me entregar aos desejos da carne, sinto-me um pecador, estou frustrado, pois esse novo sentimento me fez perceber que mesmo que eu tenha dedicado anos à minha fé eu ainda era apenas um homem.

Luto contra minha mente por mais algumas horas até que meu corpo vence a batalha e acabo dormindo, desperto na manhã seguinte todos ainda dormem com cuidado consigo me levantar sem que percebam, e saio com cuidado da casa, o dia está claro e sinto a brisa fresca tocar minha pele, sinto que preciso me limpar, me sinto sujo ando lentamente na direção do grande rio que corta o fiorde, tiro minha túnica mais pesada ficando coberto apenas por minhas vestes íntimas, e me ajoelhei na beira do rio sentindo a água fria tocar meu corpo.

Retiro devagar a corda que estava amarrada ao meu pescoço, coloco minhas mãos na água e levo à meu rosto, por um momento olho para meu reflexo na água, passo minha mão por entre meus cabelos até chegar ao topo onde o círculo está, sinto-me miserável, falho, pecador, sinto meu coração se encher de raiva, o que antes era um símbolo agora neste lugar não significava nada. Meus olhos ardem e sinto as lágrimas caírem de meus olhos, e com isso deixo toda a tristeza, angústia e desalento saiam de mim, choro até que me acalme volto para dentro da casa antes que todos acordem, sento em minha cama e busco conforto no livro do apóstolo João.

Aos poucos os outros habitantes da casa acordam, Ragnar e o primeiro a sair da casa, sua esposa sai em seguida, ambos começam a realizar as tarefas da casa.

Me levanto e caminho receoso até a porta, onde vejo Ragnar limpando alguns peixes, e posso ouvir sua esposa mesmo que não esteja vendo a.

- Era isso o que queria? Há tantos anos...

Volto para dentro da casa, e vejo sobre a mesa uma pequena faca, sinto que essa pode ser uma oportunidade, caminho até a mesa pegando a faca, em minha mente diversos questionamentos:
- O que pretende fazer com isso Athelstan?

Caminho até a minha cama, ao lado à uma tigela com um pouco de água, sento com a tigela a minha frente, molho meus cabelos e começo a cortar o todo de minha cabeça, sinto que estou cortando minha pele pois uma gota de sangue escorre e cai na água.

- Olá.

Escuto o filho de Ragnar me chamar, olha na direção da voz e vejo que estão todos me olhando.

- Vamos andem, vamos tomar nos alimentar.

Diz a esposa de Ragnar com um olhar de reprovação em quando seus filhos riem de minha atitude.

A noite cai em Kattegat e todos estão dentro de casa ao redor da mesa Ragnar está servindo um copo de cerveja para Athelstan, que já demonstra sinais de embriaguez.

- Não, chega.

Diz Athelstan se segurando na mesa para não cair para trás.

- Não gostamos que as visitas passem fome ou sede em nossa casa.

Diz Ragnar sentado à frente de Athelstan com um sorriso ao ver como o monge luta para se manter sentado, ele estende o como na direção do monge que com dificuldade entende que o mesmo lhe propunha um brinde silencioso. Athelstan tenta sem sucesso não olhar nos olhos de Ragnar.

- Eu estou muito curioso para saber mais sobre a Inglaterra. Eles têm só um rei que comanda todo o país inteiro?

Por alguns segundos, Athelstan se perde nos olhos azuis de Ragnar antes de responder a pergunta do viking. Ele sorri tentando disfarçar o constrangimento. Ele pensa por alguns segundos tentando encontrar as palavras corretas para dizer, seus pensamentos estão embaralhados pela bebida e pela certa proximidade com Ragnar.

- Há quatro reinos, com quatro reis. Você desembarcou no reino de Nortúmbria. O rei de Nortúmbria é chamado de Aelle. Ele é um grande rei. Um rei muito poderoso.

Diz Athelstan novamente olhando nos olhos de Ragnar, que o tempo todo em que falhava o olhava sem perder o foco, fazendo um arrepio percorrer todo o corpo do monge, e fazendo com que suas bochechas ficaram rubras.

- E então por que ele não protegeu o seu templo?

Pergunta Ragnar, se aproximando um pouco mais de Athelstan fazendo com que seus joelhos se tocassem.

- Até você chegar, não precisávamos proteger nosso monastério. Vivíamos em paz.

Ragnar se curva e paga a jarra de cerveja servindo mais um pouco do líquido em seu copo.

- Todos o respeitavam como um local de Deus.

Ragnar coloca mais cerveja no copo de Athelstan e pergunta com um sorriso nos lábios, fazendo com que Athelstan tivesse novamente a sensação de estar prendendo o fôlego.

- Por que seu deus precisa de prata e ouro, hum? Ele deve ser ganancioso como Loki!

Diz Ragnar rindo, ele estende as duas pernas e coloca uma sobre a outra, cruzadas ao lado do monge.

- Também temos deuses gananciosos.

- Meu Deus não é ganancioso. O seu reino não é deste mundo.

- Então por que vocês têm tantos tesouros?

- Os cristãos doam as suas riquezas para as igrejas e monastérios para salvarem as suas almas.

- O que são almas?

Questiona Ragnar, olhando nos olhos de Athelstan de forma profunda como se buscasse no interior do monge uma resposta para sua dúvida. O monge fica confuso e percebe que não sabe como responder a pergunta do viking, que se aproxima ainda mais dele repousando uma mão sobre a coxa de Athelstan.

- Eu tenho interesse em aprender sua língua. Você me ensina padre?

Ragnar brinda com Athelstan e ambos bebem cerveja em seus copos.

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