Marcas de Cereja 🍒 Sope

4- O crime

Passei a noite em claro. Meus olhos não ousaram fechar. As palavras de Jimin estão consumindo cada parte da minha mente.

Talvez eu esteja perdendo a sanidade. Não sei bem como me sinto em relação á isso, acho que passei tantos dias apenas me amaldiçoando com a culpa, me autossabotando... que suas palavras parecem até cômicas. Ridículas. Caluniosas. Minha mente tem um milhão de vozes, é minha própria inimiga, me colocando como o vilão condenado. Mas não era eu com uma arma na mão, não era eu apontando uma arma para outra pessoa, então por quê?? Porque carrego isso nas costas?

Hoje é sábado. Oito e meia da manhã de um sábado. Essa hora está encerrando a missa de sábado. Como eu sei disso? Ela sempre ia á igreja quando encerrava a missa. Nunca assistia as cerimônias porque segundo ela, o ambiente silencioso e sem ninguém é o ideal para poder conversar com Deus. Que missas são apenas quando muitas pessoas pecadoras se juntam para se sentirem menos culpadas dos seus pecados, mas logo depois, pecar mais. Presentes em vão. Nunca fui religioso, diferente dela. Nunca á acompanhei depois que comecei a ter minhas próprias opiniões, e ela nunca me obrigou.

Nesse exato momento, estou vestindo uma roupa descente para sair. Indo á caminho da igreja. Ela sempre buscava refúgio lá. Ajuda, desabafos e salvação. Não que eu acredite nisso, mas estou desesperado. Então quando pronto, sigo o caminho para a mesma. É engraçado que um lugar que eu não frequentava à anos, foi um dos lugares que mais fui essa semana.

Entro no ambiente de decoração clara, vazia, assim como previsto. Tem pouquíssimas pessoas espalhadas pelo local, me sento em um banco à frente para o altar. Não sei o que fazer. Não sei rezar. Nem sei exatamente o que eu busco. Estou vazio, quebrado e certamente louco. Olho para a imagem do homem sofrido pregado na cruz em minha frente. Cada detalhe bem aperfeiçoado, desde dos machucados pelos pregos até aos machucados pela coroa de espinhos. Encaro ela tentando achar alguma resposta, alguma coisa, implorando que aquilo reaja de alguma maneira.

Mas nada me acontece, continuo o mesmo e talvez agora mais frustrado por ter criado uma mínima expectativa. Quando estou preparado pra levantar e ir embora, uma senhora senta ao meu lado. Me sinto envergonhado em levantar exatamente no momento que ela senta, não quero dar entender que estou saindo por causa dela. Acho que todo mundo já passou por uma situação parecida. Então não me levanto, resolvo ficar mais um tempo.

- Ele é lindo não é? - Ela me pergunta. Demoro um tempo pra entender do que ela falava. A imagem.

- Ah, sim... É uma estátua bem feita - Digo embaraçoso. Será que já posso me levantar?

- Ela consegue passar o sentimento de uma maneira incrível. Consigo sentir a dor só de olhar para os olhos dele. Você também vê? - busco os olhos tentando ver o que ela fala. Nada. Mas nunca fui bom em admirar obras de qualquer tipo de arte.

- Acho que não.. Eu não sei. Talvez.

- Você não parece certo sobre isso. Acredita no meu Deus? Posso estar julgando precipitada, mas você não parece acreditar.

- Me sinto envergonhado em admitir, mas sim, não sou religioso. Não acredito em seu Deus, mesmo que eu esteja aqui esperando algo vindo dele. - Ela ri amigavelmente dando tapinhas de leve no meu ombro.

- O ser humano é assim filho, quando as coisas estão impossíveis e difíceis, nós buscamos até o inacreditável em pedido de ajuda. Deus acaba sendo um último caminho para muitos.

- É egoísta não é? - ela dá um balançar de ombros. - Não posso me chatear por não receber nenhuma resposta dele. Ou por ele não me dar o que eu peço.

- O meu Deus ajuda todos que o busca, independente do que você fez ou não. Basta fé nele para que ele lhe mostre o caminho. - Diz com orgulho. - As coisas podem não acontecer magicamente. Mas não podemos desistir por isso.