9- De volta pra casa

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Pessoas mais velhas dizem que os jovens de hoje em dia vivem em uma vida falsa. Que estamos dormindo para o verdadeiro mundo e se condenando em coisas tolas. Viciados em álcool e drogas são um exemplo. Geração covarde.

A questão é que pessoas não são viciadas em álcool e drogas, as pessoas são viciadas em fugir da realidade. A realidade horrível, maçante e de miséria. Eu quero fugir da realidade. Fingir que meus problemas não passam de um sonho ruim. Sonho que me faz pensar em que momento eu amadureci o suficiente para começar a ter problemas. Problemas reais. Saudades de quando dormir resolvia tudo. Por mais que eu queira me mergulhar na realidade que eu criei, onde o mundo é perfeito e minha vida segue o roteiro que eu planejei, não importa o quanto eu me esforço para fugir, não vou chegar á lugar algum. Apenas a triste e crua realidade.

Detetive Kim havia entrado em contato comigo para nos encontrarmos no sábado. O dia infelizmente chegou. E com ele, veio também a ansiedade. Estou nesse exato momento me arrumando para ir á delegacia, ao mesmo tempo, que penso em mil e uma maneiras e desculpas que eu posso dar para não ir. Minhas olheiras estão evidentes pela noite mal dormida. Jungkook se ofereceu para ir comigo mas eu insisti para que ele não fosse. Quero deixar meu amigo o mais longe possível de tudo isso.

Pego um taxi por causa da chuva que cai lá fora. É uma chuva forte e abafada. O tempo está uma bagunça assim como minha vida, o frio está passando e vestígios de calor começam a voltar lentamente para Seul. Minhas mãos descontam beliscos na minha palma, uma tentativa falha de me acalmar. O pior ainda está por vir. Fecho os olhos tentando me distrair do caminho que se vai até a delegacia, atentando meus ouvidos ao barulho do rádio e por um momento realmente funcionando, até o motorista dizer que chegamos.

Caminho como se pisasse em pedras, devagar e desencorajado. É só o detetive. É só uma chave. É só uma casa. Sinto os pingos respingarem e molharem o couro da minha coturno, o guarda chuva azul escuro está barulhento também por causa deles. Chegando na porta do estabelecimento, sinto um arrepio. Talvez pelo frio, ou talvez, pela ansiedade. A porta automática se abre e eu vejo todo o interior. Um interior de cores frias mas o ar está quente por causa do aquecedor. Já tive aqui antes, e cada vez que piso aqui, sinto um pedaço de mim trincar. Aqui eu sou obrigado a encarar meus pesadelos. Ir na delegacia encarar meus pesadelos é quase como se fosse uma lei secreta. Não tenho escolha.

Passo pelo balcão e eles me instruam para uma sala onde o detetive Kim já está em minha espera. Paro em frente a porta, sem forças para bater ou até mesmo girar a maçaneta.

- Algum problema? - Um oficial de óculos e cabelos curtos pergunta ao me ver todo idiota parado na frente da porta.

- Não. - Sai rouco. Ele bate como uma pessoa normal deveria bater na madeira em minha frente e o detetive a abre.

- Como vai Min Yoongi? - ele pergunta e eu me esforço para sorrir educado. - Kim este é o Yoongi, do caso que estamos trabalhando. Yoongi, esse é o oficial Kim Namjoon.

- Prazer em conhecê-lo. Eu e Kim Seokjin estamos tentando bastante para acharmos os culpados, e sem me esquecer, desejo minhas condolências Yoongi... - ele termina sem jeito quando eu retribuo a sua mão estendida, percebendo meu nervoso.

- Obrigado. - digo como uma criança tímida que agradece á um presente que ela não gostou.

- Yoongi entre por favor! - ele murmura algo com o outro Kim, que sai após se despedir.

E assim como o detetive pede, eu obedeço. Tento controlar minha respiração áspera. O ar quente e gélido misturado faz meu corpo tremer. Ao sentar na cadeira, meus pés batem em um ritmo que não controlo, como uma música desafinada.

- Seus pertences já podem ser devolvidos. As coisas de Min Daehyun vão ser passadas para você, e depois você pode decidir o que fazer com elas. - Seokjin começa, pegando alguns papéis e termos para eu ler. - Depois de algumas semanas, já avaliamos o local, recolhemos o necessário e arrumamos o ambiente. As paredes também foram limpas e pintadas novamente. - congelo. Minhas cabeça dói mas antes que eu pense mais, ele continua. - Tudo vale o mesmo para o carro. Yoongi, eu preciso da sua assinatura em alguns papéis, para que tenhamos garantia de que você está ciente disso. Também precisamos que você averigue o local, para que afirme que as coisas estão assim como no documento á sua frente. - me entrega este.

Marcas de Cereja 🍒 SopeOnde histórias criam vida. Descubra agora