10- Desistir?

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Fiquei realmente chocado quando encontrei Yoongi na delegacia. Nos esbarramos por acaso e em poucos segundos pude ver seu rosto vermelho e inchado. Meu lado protetor apitou na hora, mesmo ele fugindo, eu fui atrás. Ofereci carona. Ele negou. Então nos alteramos. Ofereci carona novamente. Ele aceitou.

Eu havia ido na delegacia para me encontrar com meu pai para pegar um documento do meu carro que ficou com ele. Todavia, Yoongi apareceu no meu caminho e assim foi comigo para o dormitório do meu colega. Ele pareceu ficar melhor no carro e aparentemente ao conversar com Suran também. Vi eles falando sobre mim mas interrompi ao notar o rumo da conversa.

Suran e todos os outros sabem um pouco da minha história. Sempre saíamos para beber e um Hoseok bêbado carente fala mais do que deve. Mas eles foram gentis e sempre me apoiam. Em compensação, fiz Suran odiar meus pais. Ela me chama de idiota e é possível que eu seja. Conheci Suk na faculdade e a partir dele conheci os outros em uma balada. Somos bons colegas.

Depois de resolver tudo que eu tinha de resolver com Suk sobre os relatórios trimestrais, eu e Yoongi voltamos pro carro. Tivemos uma boa conversa, Yoon mesmo não sendo muito falante, ele parece se importar de verdade. Vejo verdade em Yoongi. Mesmo que não nos conhecendo totalmente, sinto que posso confiar nele. E ele deve sentir o mesmo, ao me pedir ajuda. Queria ir em sua casa. De início não entendi mas logo ficou claro. Se Yoongi precisa de mim, eu irei ajudá-lo, e é assim que o gps nos mandou para um lugar que me lembrava bem.

A casa pareceu sombria. Não sei se ela realmente estava assim ou se é por causa da lembrança do barulho de tiro que eu escutei vindo por essa região. Se é porque essa casa era a mesma casa do testemunho do caso do meu pai. Da vítima do meu pai. O que Yoongi está fazendo aqui? Nem ele mesmo parece muito confiante. Quero ir embora e quero tirá-lo daqui. Isso não é bom, estou assustado. Mas antes que eu tome qualquer iniciativa sobre irmos embora, ele apenas sai e me pede para ficar. E eu fiquei.

Fiquei assim como eu fiquei quando meu pai mandou. Fiquei também com medo, lá não era seguro. O silêncio me assombrou e os minutos passaram a ser torturantes. Yoongi não voltava. E mesmo ele me pedindo para ficar, segui meu coração e fui atrás dele. Bati em sua porta e quando não ouvi respostas, apenas entrei. Minha intuição nunca erra.

Yoon estava sentado no chão, tremendo e chorando aos soluços. Suas mãos maltratava o seu cabelo e eu senti o pesar em meus passos. Quanto mais eu me aproximava, mais aquela cena mexia comigo. O abracei, o segurei. Cantei e lhe fiz cafuné. Yoongi gritava que ele deveria ir no lugar dela. Dela quem? A vítima? O quão ligados eles eram? O que aconteceu com o gatinho? Quero ajudá-lo mas ele parecia apenas um ser indefeso. Nos meus braços, com as pálpebras pesadas, a boca ressecada e o rosto vermelho. Conversei com ele com cuidado, como se minhas palavras fossem fortes o suficiente para derrubá-lo. Como se ele fosse feito de porcelana.

Naquele momento, nenhuma angústia se comparou com a cena de ver o loiro sofrendo. Nesta tarde em que ele ficou sem chão, eu tomei a decisão de protegê-lo, de cuidar e curar das suas feridas. De regar todas com meu amor para que ele não sinta mais dor.

Agora, depois de pegarmos sua bolsa e colocarmos algumas roupas, estamos indo assim como o combinado, comer alguma coisa. Yoon ficou quietinho e dormiu antes mesmo de chegarmos. Parei em um drive-thru, decidido em não acordar o mesmo. Pedi nossos hambúrgueres, batatas, sua Pepsi e minha Sprait. Dirigi sem rumo até decidir ir no rio Han. Estaciono em um bom lugar, tendo a vista do sol da tarde que se vai.

As luzes laranjas batem no rosto pálido e cansado do mais velho. Observo seu rosto melhor, apesar dele inchadinho, Yoongi ainda é muito bonito. Seus cílios são longos e se destacam na pele branca. Sardinhas bem clarinhas também são presentes, assim como uma pintinha no seu nariz. Os lábios mesmo rachados, são vermelhos e carnudos. Seus fios ainda mais loiros por causa do sol ficam como mel. Um dourado que só brilha nele. E mesmo com um peso na consciência, não me seguro em tirar uma foto dele. Registro no meu celular e sorrio ao ver o rosto delicado agora em minha tela. Não importe o quão lindo ele esteja nela, pessoalmente ele é muito mais.

Marcas de Cereja 🍒 SopeOnde histórias criam vida. Descubra agora