Puxado o gatilho

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Pov Annabeth

Na manhã de volta ao castelo, Iris veio até mim com uma notícia que, apesar do momento complicado, não podia ser ignorada. Eu precisava preparar um discurso para o final de semana, um projeto para apresentar à população em horário nobre. Agradeci por trazer as anotações do meu pai. Elas seriam essenciais para o que eu tinha em mente.

Após sair do quarto, tive uma conversa franca com os meninos. Eles choraram durante todo o tempo, me abraçando e implorando para que eu ficasse. Minha madrasta também me abraçou quando eu estava saindo de casa, mais do que o normal e com muito mais emoção.

— Seu pai está muito orgulhoso de você, querida — ela disse, passando a mão no meu cabelo com um carinho que eu raramente via nela. — Ele sempre acreditou em você.

Assim que entrei no quarto, me troquei. Minha camisola rosa não estava mais lá; no lugar, havia uma azul. Não precisei pensar muito para saber quem tinha mandado deixá-la ali. Amarrei o cabelo e pedi às criadas vários livros da biblioteca, um quadro branco (o maior que tivessem) e muito papel e tinta. Muito.

Essa foi minha semana. Às vezes, à noite, Percy aparecia no meu quarto e dormia abraçado comigo enquanto eu lia mais algum livro. Naquela semana em que o pai dele estava no castelo, ele não parou por um segundo, mas sempre que tinha tempo, mandava criados deixarem café quente na minha porta. Surgiram algumas fofocas de que o príncipe e eu tínhamos brigado, já que uma revista de fofocas inventou que eu odiava café. Além disso, ninguém o via no meu quarto, exceto as meninas, a quem eu havia dito estritamente para não comentarem nada.

Naquela semana, também escolhi meu vestido para o final de semana: um azul quase preto, liso, que cobria desde os braços até as canelas. Afinal, ainda estava de luto pela morte do meu pai. Queria que isso ficasse bem claro.

— Dorme um pouco — Percy disse, deitado ao meu lado, com um ar manhoso. — Eu sei que você ama derrubar o governo, mas esse príncipe aqui precisa de atenção.

— Você está muito folgado — resmunguei, deixando o livro de lado.

— Meu pai disse que ouviu que brigamos hoje no café da manhã — ele comentou, abraçando minha cintura. — Sua amiga Thalia não pareceu convencida disso. Na verdade, Rachel me perguntou como você estava, e eu me fiz de sonso.

— Foi difícil? — debochei, caminhando até a cama.

— Haha, engraçadinha — ele ironizou, deitando também.

— Você não é bom em disfarçar que gosta de mim — afirmei, orgulhosa.

— Não tem como — ele falou, seu hálito quente contra minha pele, me fazendo arrepiar.

— Por sorte, eu sei, né, príncipe? — falei em seu ouvido, antes de abraçá-lo.

— Um beijo de boa noite?

— Vai dormir, Perseu Jackson — debochei, virando para o outro lado.

🩵👑

Eu estava me vestindo, meu cabelo preso em um rabo de cavalo que deixava os fios volumosos, com uma maquiagem quase imperceptível, parecendo natural. O vestido ficou perfeito no tom que pedi, um azul tão escuro que parecia preto. Peguei minha pasta com os documentos e o planejamento do discurso e desci as escadas. No final delas, avistei o resto das garotas, todas de preto. Rachel foi a primeira a se aproximar de mim.

— Annabeth, ficamos tão preocupadas com você — Rachel me abraçou. — Meus pêsames.

Eu segurei o choro e abri um sorriso para minha amiga. Thalia logo chegou e me abraçou também. Reyna me confortou do jeitinho dela, e Kelli ficou mais à distância, com seu vestido rosa, como os que eu usava no começo da seleção. Quando entramos no salão, fomos instruídas a sentar na fileira, uma ao lado da outra, em ordem de apresentação. Por algum motivo (talvez por peso na consciência), Iris me deixou por último. Isso seria de grande vantagem.

As meninas tinham projetos incríveis. Kelli falou sobre turismo e urbanização (pena que errou ao sugerir que destruíssem as "favelas" para "acabar" com a pobreza). Thalia falou sobre o gasto de água e algumas medidas para conscientizar a população e as grandes empresas a retardar a destruição do planeta. Rachel trouxe à pauta a educação e a alienação, além de um apoio aos artistas pequenos e pessoas com novas ideias. Reyna falou sobre segurança e proteção dos bens públicos, propondo uma reavaliação da polícia, que tratava pessoas negras e de castas mais baixas de um jeito muito mais hostil do que pessoas brancas e de castas maiores.

Finalmente, minha vez chegou. Eu me posicionei no palco com um leve sorriso no rosto.

— Boa noite, povo dos Estados Unidos da América — foi a primeira coisa que eu disse. — Eu, como uma pessoa de uma casta menor que conseguiu se manter até a final da seleção, estou aqui para representar essas pessoas. Claro que não agrado ou falo por todos, mas eu já vi meu pai ter que escolher entre pagar a energia ou passar fome. Também vi pessoas que não tinham a opção de escolher.

Ergui algumas cartas que havia trazido.

— Estas são cartas de alguns rebeldes ou apenas cidadãos de castas menores que encontrei ou que chegaram até minhas mãos. Muitas são pessoas implorando por comida, por viverem em condições precárias. Por serem de castas inferiores, não conseguem empregos ou educação adequada. Médicos se recusam a atender uma idosa em estado terminal, e pais perderam filhos porque a polícia confundiu uma mochila com uma arma.

O silêncio se fez na sala. Eu respirei fundo, tentando tomar coragem para dizer o que queria, e me senti encorajada quando olhei para os olhos de Percy, que sorria orgulhoso para mim. Era daquilo que eu precisava.

— Eu proponho uma nova sociedade. Eu proponho o fim das castas.

O silêncio na sala se foi, substituído por resmungos e sussurros. Grover, que estava se preparando para dar as manchetes, engasgou com a água e a derramou no chão, em choque.

— Isso é impossível — disse Zeus lá de cima.

— Não é, Vossa Majestade — respondi de imediato. — Eu tenho um plano. Com a ajuda de várias pessoas, criei um rascunho de como isso poderia funcionar e como todos nós poderíamos fazer acontecer.

Ergui a pasta que estava na mesa. O comecei a falar dos projetos, mas mal tive tempo de explicar.

— Encerrem as gravações! — ouvi Poseidon lá de cima. — Abaixem as câmeras! Está tudo encerrado!

Tudo foi desligado imediatamente, as câmeras abaixaram, eles desligaram a luz de apoio e as pessoas da produção corriam de um lado para o outro tentando colocar alguma coisa no lugar. Do lugar reservado a família real eu vi Poseidon apontar para mim.

— Você está expulsa da seleção, senhorita Chase — foi a última coisa que Poseidon falou antes de sair.

— Pai, espera! — Percy foi atrás do rei, suas presas afiadas.

Ártemis tinha razão.

Eu tinha a arma nas minhas mãos.

E eu apertei o gatilho.

A Realeza | Percabeth | Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora