Capítulo 3: "Desatando o nó"

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 Porque será que agiam como duas crianças mimadas? Já não diziam uma só palavra um para o outro, nem se olhavam.

Cecília estava naquele mesmo vitrô, agora aberto, tomando o ar que exigiu ser necessário. Sua cabeça fervilhava, teria que encontrar uma solução para aquele problema que já estava os desunindo. Certamente a sorte havia lhes virado as costas, toda risonha.

"Cansei-me de Cecília, essa garota presa em minha proteção se tornou um fardo muito pesado para mim. Ela deve evoluir sem mais depender de mim para tantos fatos, que sem minha intercessão seriam opacos e sombrios. Estou a entregando para o azar, aquele ser levado. Posso supor que ele não será bondoso como eu sempre fui para ela. Não sou má, sou uma pobre senhora que necessita de descanso! E sinceramente, a coitadinha esgotou as minhas energias..."

A dona Sorte estava sapeca ultimamente... Cecília não concluiu de outra forma.

Pensou e pensou... Queria o apoio de seu marido, mas Emanuel era firme nas suas idéias iniciais, raramente se submetia a outras. Seria mais fácil para si aceitar aquela loucura, mas seu raciocínio lógico impediria constantemente.

"Viver numa mata? De jeito nenhum! Sem proteção, sem abrigo, sem dignidade... Continuar ali, como se não tivesse dado crédito aos avisos de Jeremias? Também não podia! Seria suicídio... Pedir ajuda a seus pais ou amigos? Parecia o melhor a fazer!"

Sua mente se abria.

Havia um parêntese, Emanuel. Sabia o quanto era resistente e acanhado quando se tratava de pedir ajuda aos amigos. Ainda mais, depois de explorarem a bondade deles para os trâmites do casamento. Ele não cederia a seu orgulho machista.

Teria que engenhar uma estratégia para ir contar-lhes toda a desgraça que cairia sobre eles caso não acudissem. Cecília não pensou diferente e se pôs a projetar um plano mais astuto que a mente safa de seu marido.

_Vou arrumar o de comer_ ele finalmente havia falado_ Trancarei a porta para que você não fuja como um passarinho.

_Meu marido brinca, não é?_ virou-se para ele assustada.

_Devo ser precavido! Esses minutos silenciosos não devem ter produzido bons frutos. Percebi sua conversa privada consigo mesma_ estava desconfiado.

_E porque estaria eu pensando em te abandonar? Justo eu que te amo_ deveria o acalmar, mas ele não disse nada e saiu apressado.

Aquilo era um aviso para que ela tomasse cuidado e não o subestimasse. Já estava desconfiado, nada mais prudente que tranqüilizá-lo em seus braços. Quando voltasse seria mais dócil, mais compreensiva. Devia passar-lhe confiança e não mais julgar os fatos negativamente.

XXX

Teve tempo de pensar no que faria, tempo demais que parecia não ter fim. Onde estaria Emanuel que a mais de duas horas não aparecia? Já havia posto em ordem a mini casa, preparado um banquete com o pouco de mantimento que trouxeram e até se banhado. Mas nada de seu marido aparecer.

Continuava trancada, solitária. Aguardando impaciente e preocupada. Onde ele estava?

Já era demais para seu senso otimista. Supôs ter ocorrido algum infortúnio com seu marido, se ao menos pudesse o procurar... Mas estava ali, totalmente trancada.

Aquela porta estava sendo resistente demais para uma casa a ponto de desmoronar, como podia? O desespero lhe tomou conta, então se pôs a chorar. 

Olhava pelo vitrô, já era tarde do dia. Logo a noite viria aumentar sua dor. Não era seu intuito atestar que o azar havia feito outra obra, apelou pela fé... "Traga Emanuel de volta, traga!"

Na esperança de um caminho certoOnde histórias criam vida. Descubra agora