Capítulo 14:"Pequenos traços"

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—Willy, que bom lhe ver novamente!— os cumprimentos começaram a partir de Jeremias. Abraçou seu amigo e iniciou as apresentações— Como vai? Sou Jeremias. Este aqui é Matthew, parente da falecida.

—Prazer em conhecê-los— agora já sabia de quem se tratava Jeremias. Karen não pôde evitar, o olhava detalhadamente.

Não era de se espantar a felicidade do policial ao perceber aquele clima romântico, onde duas almas se encontram como se fossem feitas uma para a outra. Não quis estragar aquela cena, mas logo em seguida a voz de Matthew importunou a situação.

— Venham ver o corpo da vítima. Creio que estão planejando levá-lo para o IML, não?— notou o olhar do policial, que não era nada bom. Mas eles seguiram-no sem dizerem uma só palavra.

A poucos metros estava o caixão, com a inocente criança. Emocionou-se ao vê-la naquele objeto que deveria não lhe pertencer. A morte, agora, triunfava sobre a podre garota e isso fez com que nascesse em si tamanha vontade de revelar seu misterioso assassino.

Faria até mesmo o impossível para desvendar aquele crime, que como todos, era imperfeito. Não demoraria para que o resto de sua equipe chegasse no local.

—O corpo será levado para o IML assim que a perícia chegar. Já estão a caminho e tenha certeza de que em breve saberão a causa da morte da garotinha— dizia de forma que suas palavras davam um ar de profissionalismo e confiança. Karen sabia da importância de transmitir credibilidade e atendia à suas exigências como mandava seu currículo.

Certamente ela era perfeccionista. Notava a milhas seu transtorno em captar cada detalhe daquele corpo imóvel e frio. Ela não parava de olhá-lo. Fez alguns rabiscos e tomou nota daquilo que via.

Como se não bastasse os dados que tinha, pressupôs que ainda não era o suficiente. Precisava saber mais e já. Não poderia coletar provas e suspeitos tendo a garota como desconhecida. Do pouco que sabia, listava a ficha:

Nome completo: Angeline Agnoli Berilo

Idade: sete anos

Características físicas: pele clara, olhos castanhos, altura mediana, cabelo castanho escuro

Nome dos pais: Coralina Agnoli Berilo, Adam Batista Berilo

Seriam peças fundamentais se não estivessem adormecidos numa curta eternidade... Além do mais, deveriam conhecer Angeline melhor do que qualquer outra pessoa. Karen suspirou, como se no vento contivesse as verdades que necessitava ter. Procurar fervorosamente era, desde o início, sua opção alcançável. A verdade teria que ser capturada de alguma forma para o bem de sua sanidade, pois insaciáveis perguntas invadiam sua mente que se perturbava com aqueles minutos sem resposta.

Não demorou muito para levarem o corpo da pequena Angeline. O choro de algumas pessoas soou um adeus comovedor que ficou impregnado na mente de Karen. Não seria fácil para os alheios a dor ficarem remoendo aquela cena o resto do dia. E certamente o clima estaria tristonho não só por meras horas.

—Parece não se sentir bem, Karen— Willy havia percebido o desconforto de Karen após o corpo se ausentar do local. Disse a ela de modo reservado já que estavam próximos dos parentes da falecida, despertar preocupação para aquelas pessoas seria desproporcional naquelas condições.

—Não dá para fingir nessas circunstâncias, Willy. Realmente não consigo ficar alheio a esse sofrimento, também sofro— era óbvio, sendo extremamente emotiva também pudera.

—Não vai dar bandeira, senhorita Karen. Acho melhor irmos antes que você comece a chorar também— estava falando sério, apesar de dizer sarcasticamente. Não havia dado chances para Karen se defender. Fora até Jeremias para lhe oferecer uma proposta.

Pousar na casa de Willy era uma boa alternativa. A muito não via Sabrina e seus filhos. Aliás, ele conhecia apenas Maycon, o filho mais velho que já era um rapaz feito.

Jeremias não havia os esquecido. Por uma conjuntura pessoal se desfez do afeto que os unia. Para si era o melhor a fazer, nas velhas circunstâncias do seu coração, era inegável aquela separação longínqua.

Caso fosse com Willy, teria que se concentrar em não dar pistas do verdadeiro motivo de ficar longe por longa data. Logicamente seria pressionado por Sabrina, mas meia palavra seria o suficiente para domá-la.

Willy também estava cheio de perguntas a fazer a Jeremias. A conversa seria longa, bem longa até se esclarecer os boatos que ouvia sobre aquela inexplicável ausência. Apesar desse ponto, ainda se encontrava em dívida com Jeremias. Estava disposto a pagá-lo oferecendo a ele as reticências que faltava naquela história descolorida. Onde já se viu, um homem de trinta anos sem nenhum indício de estar apaixonado ou interessado por alguém?

XXX

Aquilo era música para os ouvidos de Willy. A sorte estava do seu lado, Jeremias havia aceitado o convite e iria junto a eles. Mas quem não tinha gostado muito era Christopher. Para ele, haviam passado por cima de suas ordens e ficarem unidos era uma delas.

Parecia ter perdido a autoridade que deveria demonstrar ter. Afinal, era ele quem recebera as normas do jogo, cada um tinha sua função. E por ser o mestre, já era o suficiente para que temessem a ele.

"Será que são cegos? Não veem que devem satisfação a mim e não a Gabriel?"

Encheu seu coração de ódio. Christopher precisava tomar para si o lugar que lhe pertencia.

—Olhem todos! Precisamos esclarecer a função de cada um nesse jogo— naquele momento, Jeremias já havia ido com o policial. Christopher falava para Emanuel, Cecília e Gabriel.

—Tem razão, Christopher. A função de cada um é essencial na nossa missão— era Gabriel que falava— O senhor escolheu cada um de vocês e lhes deu capacidade para realizar seu intento.

—Deixe que eu fale, Gabriel!— mais uma vez se irritou com o domínio do diálogo que o anjo sempre tivera todo para si.

—Por que tenta me censurar? O que digo não lhe agrada?— notava-se aborrecimento naqueles olhos dilatados de Christopher. Pareceu estar sendo inconveniente para ele.

—O que você diz cabe a mim dizer. Eu sou quem dita as regras e você...

—Agora não, Christopher! Preciso me retirar, pois o Senhor quer falar comigo. Mas saiba que você não tem razões para me confrontar dessa maneira, estamos do mesmo lado. Ou não?— poderia ter se irritado, mas se abateu em tristeza e pena de Christopher. Afastou-se de todos ao seu redor para ouvir a nova mensagem de Deus.

Na esperança de um caminho certoOnde histórias criam vida. Descubra agora