Capítulo 26: "Sair de cena"

101 11 11
                                    

"Este lugar é escuro, o medo parece dominar todo meu corpo. Não sei qual o motivo que me faz caminhar constantemente na direção do norte.

Há apenas eu nesse lugar desconhecido? Talvez eu deva gritar por socorro e me agarrar à fé, assim virão ao meu auxílio. Qualquer passo agitado arruinará a firmeza do meu corpo, cairia ao chão com possibilidades de não mais levantar.

Para onde vou? Por que é tão escuro? Abram-se as janelas do céu e meu olhar verá a luz.

Quão feliz serei ao ver o sol do meio-dia... Veja só! O cenário se modificou!

Este lugar é claro, a brisa é tranqüila e me dispersa prazer. Para o norte ainda vou, meus olhos bendizem o panorama nítido. Tamanha beleza me faz esquecer o medo que me rodeou. Aqui há árvores, flores e frutos. O trabalho artístico revela que o pintor destacou a sintonia do verde e o azul.

Prossigo meu caminho, interesseira a desfrutar a bela paisagem. O que ocasionou essa tentativa frustrada de conduzir meus passos? Algo me contraria, intrometido em me manter estática.

Olhar para trás foi o meu impulso. Ao ponto que minha alegria se perdeu. Densas trevas pareceu me acompanhar até o paraíso que fui proibida de adentrar.

Joguei-me ao chão encolhida a tampar meus olhos com as mãos.

-Desperte-se! Não sonhe!- dizia a mim mesma.

Movimentos lentos com as mãos desprendendo-as de meus olhos, abri-los para o real era o meu desejo.

Ao ato, desgosto. Novamente envolta a total escuridão a me cegar. De que serve os olhos nestas circunstâncias? Desperte-se! Já não quero mais sonhar!"

Lembrava que na noite anterior saltara da cama angustiada pelo mesmo sonho. Aquilo já soava a paranóia de sua mente. Mal sabia as vezes que este lhe fez chorar, ainda sem sentido tão quanto a insistência de seu manifestar.

Deveria desabafar com alguém, aquela velha mania de guardar tudo para si haveria de ser abolida. Mas não seria fácil encontrar alguém com um crachá indicando "sou todo ouvidos". Nem mesmo se dirigiria a qualquer um. Não havia cultivado amigos a não ser Willy e este não seria uma boa opção.

Pois muito era o seu sarcasmo, não a compreenderia sem antes lhe afetar com suas suposições humorísticas.

Até quando agüentaria? Esse seu viver solitário acabaria em ruína.

Seu minúsculo apartamento só servia para acentuar ainda mais sua solidão. Era filha de pais desconhecidos, mortos em alguma sepultura que o passado moldou ser. Por um momento se assemelhou a Angeline. Estava morta, em sentido figurado.

Tinha que vivificar-se, despir-se daquele pijama e vestir uma roupa proporcional ao sol da manhã. Logo o policial viria lhe buscar para darem continuidade ao trabalho investigativo. Uma família horrorizada com os mistérios da morte precisava de si.

Chamava-se antídoto aquela forma justiceira de solucionar problemas alheios ofuscando assim os seus?

O telefone tocara, sendo o motivo principal que a fizera levantar da cama.

-Alô!- sua voz falha lhe fez limpar a garganta.

-Senhorita Karen?

-Sim- reconheceu a voz masculina.

-É o Willy! Ocorreu um imprevisto, não poderei levá-la até Borborema.

-É algo grave?- preocupou-se.

-Não estou muito bem de saúde. Mas fique tranqüila, Jeremias a levará até a cidade!

Ela gelou ao ouvir. Era óbvio que o policial usara um pretexto, bem descarado por sinal. Que ousadia e insolência em querer a empurrar para os braços de Jeremias...

Na esperança de um caminho certoOnde histórias criam vida. Descubra agora