Capítulo 6: "No escuro da noite"

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Logo que dormiram o anjo se retirou. Sabia que estavam protegidos e nenhum mal ousaria tocá-los.

Ele não era como antes, se exposto ao medo correria perigos.

_Sabendo do que sei, não vão se aproximar caso esteja comigo, meu Senhor! Como então acharei o que me pedes? Se a carta está com eles, terei que ir até eles! Mas nem sei o caminho, e vós sendo puro não me levará até lá.

_Gabriel, por este motivo ficará sem Minha proteção! Cuide para que não tropece e não se envolva naquela imundície_ ressoava a voz nos ouvidos do anjo.

_Sim, meu Senhor! Mas antes me dê forças para que eu agüente a tentação que me cairá_ já estava temendo o pior.

_És forte! Agora vá caminhando, o mal logo virá sabendo que tem chances de te prejudicar!

_Oh meu Senhor, tirai Sua proteção, mas não os Teus olhos de mim! Caso eu fraqueje, venha ao meu auxílio_ a angústia já o abatia.

XXX

Aquela madrugada iniciava o começo de sua jornada. Já era a hora da interferência contra os poderes das trevas camuflados em rostos humanos.

Sabia que eles o observavam, se sentiu uma presa fácil exposto na escuridão da noite.

Os ruídos perturbavam seus ouvidos, uma voz próxima de si lhe fez parar seus passos.

_Ora, ora... Como é bom rever meu amigo!

_Retire-se, se for dialogar com ironia! Todos sabem que seres das trevas não caminham com outros da luz_ estava feito. Agora Gabriel tinha certeza que estava ali desprotegido. Dizia com autoridade, mas seus olhos se negavam a ver quem falava por trás de suas costas.

_Da luz eu era, mas decidi aventurar-me por esta Terra_ o tocou_ Gosto dessa carne, me seria bem útil!

_Afaste-se de mim, invasor de almas! Nesse meu corpo não habitará nenhum espírito imundo_ virou-se a ele e então o viu. Reconhecia aquela face_ Não se intimida ao me revelar sua identidade? Pois bem sabe que estampa uma figura desfigurada, cheirando a derrota.

_Qual derrota insinua? Aquela que o Filho do Homem proporcionará?_ deu risadas_ Ele nos aniquilará assim como fará com os seus filhos perdidos que somam conosco! E você, anjo sem asas, sabe bem que esse número será como a areia do mar... Aqueles milhões de grãos empoeirados e miúdos queimarão no fogo!

_E você muito se alegra_ aquelas risadas fez Gabriel se enfurecer_ Mas sabe bem que muitos ainda se salvarão pela graça, antes que chegue o fim!

_Isso certamente não será fácil, Gabriel_ dizia amargo.

_Certamente não, mas alcançaremos vitória!_ retrucou astutamente.

_Viu a situação do mundo? O nosso arquiteto o transformou completamente, não se confunde com o original! Percebeu o caos silencioso que há aqui?_ o testava.

_Me preocupo com essa arma perigosa que seu líder utiliza! Ele se move silencioso, persuade suavemente e acorrenta a qualquer um_ seu semblante se tornou abatido.

_Interferimos na vida humana sem que eles permitam, e às vezes eles nos convidam!

_Vocês são excelentes invasores!

_Sei que queria ter essa atitude! Mas sua classe não permite... Ora, anjo obediente e fiel, mancha-te pois e verá quão belo é ter poder! Terá o domínio de muitos, basta juntar-se a nós!

_Não necessito de poder, pois sabiamente me submeto à autoridade daquele que me criou! Sou um servo fiel e serei até o fim_ encarou aquele ser.

_O que faz aqui? Diga o que deseja_ arregalou os olhos de um jeito sombrio.

_Bem conhece Christopher, ele é a minha preocupação! Quero que me dê a carta!_ Gabriel revelou.

_Sim, você é o mensageiro! O escolhido para livrá-lo da dívida que tem conosco_ debochou risonho_ Ele deveria permanecer do nosso lado!

_Sabe bem que o Senhor tem planos bondosos para com ele! Então não seja resistente em vão...

_Não posso com a decisão Dele, mas conspirarei contra!_ enfureceu-se.

_Me dê a carta que comprova o cancelamento daquele maldito acordo! Deus ordenou, então vim buscá-la.

_Me acompanhe! Terá o que deseja_ seguiu em frente, planejando maldades contra o anjo.

XXX

Faltavam algumas horas para amanhecer o dia. Seu coração palpitava, cheio do desejo de aninhar na proteção divina. Corria risco, sabia bem desde o início. Ainda mais sendo acompanhado por seres contra si.

Tudo aquilo para sanar um equívoco. Para por em liberdade um homem querido por Deus. Esse tinha boas intenções para o mundo, o homem procurava destruir um engano posto na mente de muitos.

Mas, infelizmente, esse erro veio a lhe contaminar também. Seu objetivo tinha um nome diferente, do qual o sentido era bom aos olhos de Deus e aproveitável aos olhos malignos.

O homem caíra na armadilha feita para desviá-lo, a mentira ofuscou a verdade. E quando resolvido a agir para o bem, ele correu para os braços do mal. Assim o auxílio se tornou um empecilho.

A carta seria o comprovante que Gabriel usaria junto a seus argumentos que convenceriam aquele homem do erro. Nela diria com muita clareza que conquistada estava sua liberdade.

Não mais viveria amedrontado e a ponto de iniciar a busca pelos "escolhidos" do tal jogo. Não havia jogo nenhum, os escolhidos apontados pelos seres das trevas eram aqueles que, desde o início, Deus tinha selecionado para uma missão.

Essa deveria ser pacífica. Frutífera e contagiante.

Havia parado seus passos, ordenado pelo ser que lhe trazia a um lugar desconhecido. Onde estaria?

Muito fez para que enxergasse melhor naquela escuridão, porém tivera que se submeter àquela visão limitada.

Algo lhe tocou. Virou-se confuso e apavorado com aquela situação. Ainda mais quando vultos lhe rodeavam tentando o assustar. Eram eles, talvez uma legião inteira pronta para lhe tentar.

Debochavam de si, riam escandalosamente. Aquilo serviu para descontrolar-se em pavor. Era óbvio que perceberam seu medo, era esperado o momento que seria atacado em desvantagem.

Já estava modificado, possuído por um ser preso ao seu corpo lhe comandando enquanto se mantinha inconsciente. Não havia resistido, o ataque fora certeiro. 

Na esperança de um caminho certoOnde histórias criam vida. Descubra agora