Capítulo 20: "Encarando o silêncio"

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—Que bom que veio, doutor. Acompanhe-me até o quarto de Maycon— era o psicólogo que deveria ter vindo dias antes. Ele fora indicado pela clínica médica de sua confiança, mas retardou sua vinda pensando que seu filho melhoraria. Maycon já havia despertado, mas mesmo assim se mantinha inquieto.

Não havia dado chances para que o psicólogo se apresentasse devidamente. Assim seguiram rumo ao quarto do garoto.

—Doutor, peço-lhe que seja paciente com meu filho. Ele não aceitou a idéia de ser atendido por um psicólogo antes e creio que neste momento não se abrirá facilmente_ dizia Sabrina pelo caminho até o quarto— Acho melhor omitir sua profissão de início. Quando lhe mostrar confiança, fale sobre sua real identidade!

–Tudo bem, senhora! Vou ser discreto— estava incomodado em perceber que Sabrina fazia pouco caso de sua presença. Nem ao menos o cumprimentou formalmente e até o momento não havia o fitado. Devia ser a preocupação com o filho, assim supôs.

—Entre! Ele está um pouco nervoso, acho que devo deixá-los a sós— abriu a metade da porta dando espaço para que ele entrasse— Vou mandar Alice, minha empregada, ficar aqui do lado de fora, no caso de precisar de alguma coisa.

— Okay, senhora! Fique tranqüila! Isso pode demorar alguns minutos, dependerá do jovem— sabia que não seria nada fácil.

Entrou assustado com a fisionomia do rapaz que estava bem abatida. Sua palidez também o preocupava. Um jovem garoto, que mal lhe corroia?

—Bom dia!— fora ignorado— Sou Marcos, vim lhe examinar.

A cada passo que lhe aproximava do rapaz um olhar raivoso era lhe dado. Pareceu não se intimidar e já com um termômetro em mãos deu-o para que colocasse abaixo do braço.

—Pode me dizer o que sente?— deveria ganhar sua confiança e então o cobri-lo de perguntas mais profundas.

—Fome— respondeu após um longo silêncio.

—Então não tem nada grave— quis ser agradável— Pedirei que tragam um prato cheio de guloseimas e resolveremos esse problema. Sente algo além de fome?

Desta vez não foi respondido. O garoto havia pegado seu celular e o utilizava sem se preocupar com a presença dele ali. Por mais que insistiu atenção, o garoto não lhe respondeu.

— Vou pedir que tragam algo para comer, okay?— novamente ignorado. Já estava perdendo a paciência com aquele mudo aborrecido.

Abriu a porta do quarto entediado. Avistou a tal Alice perto dali. Acenou dizendo:

—Quero que prepare algo para Maycon comer. Talvez uma sopa— ela assentiu com a cabeça— Ah, chame os pais do jovem. Diga-lhes que ele está muito resistente e não responde a minhas perguntas.

XXX

—Maycon, como poderemos te ajudar se você permanecer nesse silêncio?—Sabrina dizia ao filho. Willy também estava presente, talvez assim obedeceria as suas ordens.

—Me dê esse seu brinquedinho!— Willy retirou aos arrancos o celular das mãos de Maycon.

—Que droga!— o garoto abaixou a cabeça nervoso.

—Agora ouça as perguntas do médico e as responda devidamente— continuou Willy com voz de comando— Não se comporte como um moleque, senão já sabe o que acontecerá.

—E o que faria?— alterou a voz e o olhou amargo.

—Não pensaria duas vezes antes de lhe transferir para o exército. Você sabe que é só eu estralar os dedos para que isso ocorra— sorriu sarcasticamente.

—Willy, não assuste meu filho— interveio Sabrina— Os deixemos a sós.

—Qualquer incômodo é só chamar, doutor!— enfatizou Willy e saiu juntamente com Sabrina.

Ótimo! Agora sim o clima estava mais tenso. O garoto o encarando e ele sem saber como o acalmar. Talvez se lhe contasse uma piada conseguiria arrancar-lhe um sorriso.

Na esperança de um caminho certoOnde histórias criam vida. Descubra agora