Capítulo 19: "O que convém a todos"

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"Fique no meio desses meus filhos e os aconselhem a viver bem."

Aquela voz em sua mente lhe fez assustar. Estava caminhando há alguns minutos pelas ruas de Borborema, aflito e pensante.

Ali sozinho lhe vinha recordações do céu, de Deus, dos anjos...

Que falta lhe fazia seu lar celestial, cheio de paz e luz.

"Fique no meio desses meus filhos e os aconselhem a viver bem."

Novamente lhe feio aquela mensagem, desta vez mais estrondosa em sua mente. De súbito atirou-se no chão, levando as mãos à cabeça.

Aquela voz reconhecia.

—O que queres meu Senhor? — continuava prostrado no chão com o rosto abaixado.

— Fique no meio desses meus filhos e os aconselhem a viver bem!

—Senhor, tudo isso eu já sei. Mas se vós dizeis três vezes mais é porque tens urgência em ser atendido. Que venha a mim todos os vossos filhos para que eu os fale sobre a mensagem. Coloque em minha boca palavras sábias, e assim os direi sem demora.

— Vá e diga aos meus servos que eu, o Senhor, quero que reúnam meus filhos em frente à capela.

XXX

Eram cerca de trinta pessoas no local, em sua maioria, idosos. A população de Borborema ultrapassava esse número, estavam ali aqueles que careciam de atenção para com suas vidas. Não eram de fazer festas, nem de visitarem uns aos outros, e reunir-se em grupo se tornava novidade para eles.

Visto que aqueles quatro estranhos prometeram surpresas, a maioria os seguiu marcando presença no local predito. Muitos sabiam do poder que Gabriel possuía, e era ele que tomava a palavra naquele instante.

—Convido a todos para se sentarem— alguns olhares desconfortáveis surgiram, não havendo banco, teriam que se acomodar na frieza do piso de cimento. Emanuel tivera que auxiliar alguns velhinhos que sentiam dificuldade ao realizar movimentos na coluna— Façamos um círculo e ouçamos com atenção o que Deus tem a nos falar.

Apresentação

—Seria prudente se eu dissesse a vocês que sou um anjo?— olhavam espantados e receosos. Alguns comentários escaparam discretamente, outros em alarido. Gabriel notou que dois daqueles olhos pasmados, se mantinham em encantamento. Eram os olhos de Matthew, prosseguiu— Me apedrejariam se soubessem que sou aquele que vim expor seus pecados uns para os outros? Pois lhes digo que isso é verdade, não sou desse mundo. E lhes afirmo também que os verdadeiros filhos de Deus não herdarão esse mundo deformado. Onde há fumaça, há fogo, e onde há fogo há destruição. Assim será o fim da Terra, que dará abertura para uma nova. Tudo o que há hoje num ligeiro momento desaparecerá. Alegrem-se, pois vim lhes revelar o caminho certo até a alva.

Revelações

—Sou um mensageiro de Deus. Devo lhes afirmar que observei o quão necessitam da tua luz. Alguns clamaram a Ele, e eis que de imediato os escutou. Assim foi feita uma meta. Deus traçou uma linha horizontal, onde espalharia sua verdade, e ela contornou uma figura redonda se tornando um círculo. Essa linha é feita de toda a sua palavra e sendo assim, é imutável. Aqui ela se enrosca, mas ninguém a vê. É desfiada toda a palavra, mas ninguém a ouve. De modo que preferem a abertura dos livros proibidos, das palavras ofuscadas, das doutrinas distorcidas e da submissão ao medo. Negaram a si próprios os olhos, que foram feitos para enxergar. Negaram também a mente, que foi feita para que tenham consciência e pensamento. Assim negam a vida, que lhes é oferecida também sob condição infinita. Então porque questionam o sofrimento, a existência, Deus, e tudo o que Dele testemunha? Se desviarem sofrerão, se contraporem o negarão, se negarem morrerão.

Notificações

—Ouçam! Deus fala convosco... Ele diz: Há muito tenho observado o quão errado estão os seus caminhos. Há muito tenho percebido o quão longe estão de mim e de meus ensinamentos. Por que agem dessa forma?! Porque fazem do livre arbítrio um meio de domínio próprio que é similar a autodestruição. Por que vivem como se não precisassem de mim? Pois esnobam e negam a minha presença, mesmo sabendo que minhas mãos manifestam a minha existência a cada detalhe das lindas paisagens, que fiz para lhes agradar e estar perto de vocês. Há muito não vejo sentimentos benéficos em meus filhos e filhas. Não desmereço aqueles que estão firmes e fortes, que sentem e me transmitem amor. Todavia, o meu amor é suficiente para todos. O que tenho a oferecer é ilimitado, no qual todos têm acesso imediato, basta o querer receber. E a minha infinita bondade se manifesta a todo o momento e no momento planejei ajudar esses cegos de corpo e espírito que negam a visualizar a verdade e insistem em viver na escuridão das trevas, que ao contrário da noite, não possui nenhum brilho de constelação e luar. Venham até mim, aqueles que procuram proteção. Troquem o escuro pela luz, o ódio pelo amor, a dúvida pela fé, a mentira pela verdade...

Algo a mais

—E isso não é tudo! O mundo afligido clama pelo fim. E esse há de chegar. O tempo se encurtou para os homens, que seja sim o sim e que seja não o não. A espera não mais retardará, a dúvida não mais ocupará o espaço da decisão. Chegou o momento da escolha, o convite deve ser aceito! Digam sim a Deus e serás libertado do perverso e das pervertidas armadilhas. Quem crê será prudente...

XXX

Como poderiam não se encantar com aquelas palavras? Tamanho conteúdo não merecia ser esquecido ou rejeitado. Quando pausava para continuar com outro assunto, alguns fizeram perguntas a Gabriel.

—Por acaso estou certa em acreditar nas tuas palavras?— uma senhora perguntou sem demonstrar dúvida e sim encantamento.

—Assim como da terra nascem flores, também nascem sorrisos ao saborearem estas palavras— disse sorrindo de lado— Pois é bom o que ouvem?— pausou e prosseguiu— Então julguem bom aquele que as deu, o Senhor de vocês, aquele que me enviou! Creiam...

—As palavras convencem por uma hora, porém nossa fé não é abundante! Aumente-a, aumente nossa fé— era um senhor que dizia com dificuldade.

—Se acostume com o impossível, pois tudo é possível aos olhos da fé! Se quiser aumentá-la, pisque e respire diferente!

— Não compreendo, meu bom homem— retornou a Gabriel confuso.

—Pisque... Limpe os olhos e veja o mundo como o produto do milagre da vida. Respire... E lhe permita viver como se esse ato fosse um milagre.

—Um tanto complexo— soltou Matthew admirado e confuso.

—Pois o milagre para acontecer não depende da fé?— perguntou Gabriel sorrindo— Como aumentá-la se não considerar a vida um milagre?

Começaram rir uns para os outros, como se necessitassem transmitir aquela descoberta de maneira explícita. Os olhos admiravam-se ainda mais. Ficariam ouvindo Gabriel, se possível, o dia todo.

Na esperança de um caminho certoOnde histórias criam vida. Descubra agora