08.

8.9K 1K 343
                                    

— Isso vai doer. — Jen avisou antes de encostar o algodão molhado em algum produto para limpar a ferida no meu braço. Fiz uma breve careta ao sentir a ardência espalhar por todo o meu braço. — Eu não sabia que estava te apertando tanto. Devia ter avisado.

— Aí a gente teria que refazer a cena. — respondi, sentindo a mão leve e delicada em contato com o meu braço.

— Pelo menos você não estaria machucada agora.

— Ah, para. Nem é pra tanto. — disse. Jen me olhou ainda parecendo culpada. — Para com isso, tá tudo bem, eu juro. — a puxei para perto e a abracei em instinto. Ela não hesitou em retribuir o abraço.

— Garotas, sinto muito acabar com o clima entre vocês, mas Burton tá chamando vocês no set. — Timothée se aproximou, fazendo a garota se afastar de mim.

— Valeu, Ti. — agradeci, descendo da maca e seguindo a minha amiga.

Quando chegamos ao set, a direção de figurino terminava de arrumar o cabelo de Emma, que comia um chocolate.

Tim Burton explicou qual cena iríamos fazer agora e depois de estarmos prontas, ele deu o sinal mundial de iniciar a cena, falando no megafone:

— Ação!

Fingi estar conversando algo com Wendy, que tinha uma expressão bastante neutra no rosto. Observei de forma discreta Angelina se aproximando e a câmera filmando seu rosto.

A morena baixinha parou do nosso lado e me encarou.

— Wendy, posso conversar com Eve por um momento?

— Angelina... — Wendy tentou, somente para ter o olhar frio de Angelina direcionado a ela. Wendy levantou as mãos em rendição e saiu da cena.

— O que você quer? — perguntei, indo direto ao ponto. Angelina respirou fundo e expirou.

— Quanto você quer? — devolveu com outra pergunta e eu franzi o cenho, sem entender do que ela estava falando. — Quantos dólares você quer?

— Do que você tá falando?

Angelina passou a mão no rosto em ansiedade, pegando meu pulso e me puxando para dentro do banheiro feminino. As câmeras não deixaram de nos acompanhar um segundo se quer.

— Ontem você me viu meio mal. — ela começou a se explicar. Cruzei os braços na frente do corpo, a encarando pelo espelho. — Quanto você quer pra não falar o que viu pra ninguém?

Tive vontade de rir, mas me segurei.

— Tá falando sério?

— É óbvio que eu estou! — Angelina estava mal humorada, andando de um lado para o outro dentro do banheiro. — Só me fala o valor e eu deixo o dinheiro dentro do seu armário.

— Você tem algum problema? — a minha personagem estava tão chocada com a situação que não sabia se respondia a pergunta ou dava um tapa na cara da morena. — Algum parafuso faltando dentro da sua cabeça?

— O que?

— Porque caralhos você tá me oferecendo dinheiro pra não contar pra alguém o que eu vi? Por que eu faria isso?

Angelina parou de andar para me olhar, um pouco envergonhada.

— Normalmente é assim que eu resolvo as coisas. — se explicou, sem graça.

— Não quero seu dinheiro.

— E o que você quer? Eu te dou o que-

— Cala essa boca! Você ainda não entendeu que eu não vou contar nada pra ninguém? Eu não sou babaca, mas que merda Angelina. — a garota pareceu atordoada com a minha resposta, ficando longos segundos me encarando.

— Você não vai contar nada?

— Não. Não tem motivo pra eu fazer isso.

— Eu te humilhei todos os dias nessa escola e você tá me poupando? Por que tá fazendo isso?

— Já disse que não sou uma babaca. — a olhei firmemente nos olhos. — Você me salvou aquele dia na sala e eu te ajudei também. Estamos quites agora, e ninguém precisa saber disso.

Angelina assentiu e quando me preparei para sair do banheiro, ela entrou na minha frente.

Arqueei as sobrancelhas em surpresa.

— Você tem certeza que não quer nenhum pouco de dinheiro? É só para eu ter certeza que você não vai fazer nad-

— Já disse que não. Por que você não usa esse dinheiro e paga uma terapia?

Estava saindo do banho quando batidas na porta me interromperam. Já passavam das nove horas da noite, então seja lá quem fosse que estivesse batendo na minha porta a essa hora deveria estar em apuros.

— Monroe, abre isso pelo amor de Deus. — Jenna pediu do outro lado. Não tive tempo de escolher uma roupa para vestir, então abri a porta de toalha mesmo.

Ela entrou no trailer e fechou a porta, aproveitando que estava dentro do meu aposento para olhar para mim e para o meu corpo sem nenhuma discrição. A garota engoliu em seco e desviou o olhar para o emaranhado de papel em mãos.

— Eu não consigo decorar as minhas falas pra amanhã. Eu tô tipo desesperada. — ela resmungou, se jogando no sofá.

— Calma, ok? Só vou colocar uma roupa e já volto. — ela assentiu sem me olhar e eu me direcionei ao meu quarto e vesti um pijama qualquer. — Ok, do que tá precisando?

— Essa merda. — ela passou algumas folhas até chegar na cena em que estava com dúvida. Toda a parte dela estava destacada com um marca texto de cor rosa. Confesso que achei fofo. — Eu não consigo decorar esse finalzinho, você pode me ajudar?

— Claro. — só quando passei os olhos pela fala da garota percebi o quanto ela teria que decorar. Era um monólogo que consistia em uma explicação sobre a família de Angeline. No roteiro, Jen devia falar sobre os problemas com a família da Angeline, a falta de amor e afeto e como isso a afetou atualmente.

— Hm... okay. Você vai falar pra mim até onde decorou e então vou te ajudar, tudo bem?

— Okay. Vamos lá.

Netflix | Jenna Ortega Onde histórias criam vida. Descubra agora