Capitulo 13 - Bilhetinho

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_Tchau amor, estamos saindo pro Rapha não se atrasar pra escola, e depois vou correndo pro escritório porque tenho um cliente que irá lá às 8h ver os detalhes do projeto daquela casa que estamos fazendo em Alphaville.
_Tá bom amor, já estou de saída também, bom trabalho ... dá uma abraço aqui filhão, boa aula, faz um gol pra mim hein!

São 7h08 , o Rapha entre na escola as 7h15. Felizmente moramos muito perto da escola, basicamente do outro lado da rua. Se eu fosse a pé, o que as vezes gosto de fazer, seriam 5 minutos do nosso prédio até lá, mas como hoje tem reunião cedo, estou indo de carro, aí demora um pouco mais pois tenho que fazer um retorno na Hélio Pellegrino pra chegar na escola.

_Filhinho, já estamos chegando, você está pronto pra descer
_Siiiimm mãe
_Chegamos, da um beijo na mamãe que o tio João já vai abrir a porta pra você
(Sr João)_Bom dia Dona Monica, posso pegar esse rapaz aqui
_Bom dia senhor João, ele tá animado, disse que hoje tem futebol na aula de educação física ...
(Sr João)_Vem pra cá jogador...
_ Tchau mãe
_ Tchau filhinho, boa aula, mamãe te amo
_Eu te amo mais
(Sr João) _ Até mais Dona Monica
_Obrigado Senhor João , bom trabalho!

São 7h25 e já estou a caminho do meu escritório. Normalmente vou pra academia depois de deixar o Rapha na escola e chego no escritório umas 10h, mas hoje tenho esta reunião cedo, então vou direto e quero chegar um pouco antes pra dar uma última olhada na apresentação ...

_ alô, Su...
_ bom dia socia
_ você vai estar nesta reunião agora às 8h com os Silvestrini da casa do Alphaville
_ não me programei pra estar lá não, Moni, mas você precisa de algo?
_ não, tudo bem, é uma reunião tranquila , de status do projeto, mas quero mostrar os desenhos pro Beto e a Joana, queria inclusive usar o óculos de realidade aumentada pra eles sentirem um gostinho de como vai ficar a casa nova deles. Enfim, se você estivesse no escritório ia pedir pra ver se está tudo ok, mas pode deixar que vou falar com a Ana, ela vê isso pra mim. Estou a caminho...
_Tá bom, umas 10h chego por lá, mas se precisar de algo antes disso, me chama
_obrigado, beijão
_beijos , boa apresentação !

Estou perto, mais uns 10 minutos e chego no escritório, mas não gosto de fazer os clientes esperarem, então sempre quero ter tudo pronto com antecedência...

_ Oi Ana, bom dia! Assim que ouvir este áudio, me ajuda com umas coisinhas... To chegando no escritório em 10 minutos , vamos receber os Silvestrini as 8h pra olhar o projeto da casa deles. Por favor, deixa a sala com o ar ligado, abre o arquivo do projeto deles, deixa já projetado na TV, e os óculos de realidade aumentada no jeito, talvez eu os use. Também pede pro Ronaldo que está trabalhando neste projeto, ficar na sala, ele vai operar o computador durante a apresentação, tá bom, obrigada!

Eu não gosto de mandar nem ouvir áudios, abro uma excessão quando estou dirigindo ou é algo urgente. Sei que a Ana é atenta e ouvira rapidamente a minha mensagem. Talvez ela até já tenha providenciado tudo, mas prefiro fazer o duplo check nestes casos .
O Beto e a Joana são clientes antigos, não são um casal, embora muitos achem isso. Eles são irmãos , que nunca se casaram, e que vivem juntos desde sempre. Moravam com os pais, a Dona Jô e o seu Carlos, gente da alta sociedade paulistana, que vieram da Itália e fizeram fortuna como industriais. A Dona Jô era uma mulher forte, pra ser franca foi ela quem construiu o império da família. O seu Carlos, um legítimo cavalheiro, daqueles que usava lenço de lapela por acreditar que sempre precisaria ter um a mão para oferecer a dama mais próxima. Dizem que ele tentava ensinar aos netos, jovens, que deviam usar lenço ... os netos não entendiam aquele hábito, achavam que era uma moda ultrapassada, e ele esclarecia que o lenço não era moda, nem muito menos ultrapassada, e nem mesmo era para uso do próprio homem que o carregasse, mas, antes, um acessório a ser oferecido a uma dama, pois as mulheres as vezes choram, e o lenço seria pra elas.
Dona Jô teve um câncer severo, estava lúcida e altiva apesar dos 82 anos. Ela teve o diagnóstico e faleceu em 45 dias. Dois meses depois foi o seu Carlos, morreu dormindo, todos acham que de tristeza após a perda da companheira, e foi como se a morte quisesse retribuir toda gentileza que ele teve em vida, levando-o sem que percebesse e sem nada sentir.
Beto e Joana eram muito próximos dos pais, e não conseguiram seguir vivendo na mansão que a família tinha no Morumbi há décadas. Mudaram para o meu prédio aqui na Vila Nova temporariamente, e nos conhecemos no elevador. Eu sempre encontrava um ou outro pela manhã, indo levar o Rapha, ou voltando da academia , e eles são muito simpáticos. Nestas idas e vindas, falei que era arquiteta, e daí foi um pulo pra eles virarem clientes.
Agora querem voltar a morar numa casa, mas não na casa onde viveram com os pais. Lá eles pretendem abrir uma fundação e um museu com o nome da família. Seu Carlos era um mecenas, apreciador de fotografias, ele tem uma coleção respeitável dos fotógrafos mais aclamados no mundo. Dona Jô gostava de artes plásticas, e também amealhou peças importantes ao longo da vida. Agora os filhos querem fazer da casa do Morumbi um projeto educacional para crianças carentes da favela de Paraisópolis  que fica próxima, e abrir a casa e o acervo de arte para visitação pública. As crianças terão a chance de trabalhar como menores aprendizes no projeto e ter uma remuneração atuando como guias da casa para os visitantes, e ainda estudarão idiomas, arte, e poderão fazer cursos profissionalizantes.

7h43 entro apressada no escritório e passo na minha mesa apenas pra deixar minha bolsa e ir para a sala de reuniões. Encontro na mesa uma trufa de chocolate suisso, do tipo que eu amo, com um bilhetinho da Ana, onde está escrito à mão: "lembrei de umas coisinhas interessantes que "eu nunca"... ansiosa por mais uma rodada do nosso jogo chefinha !!!!"

Um misto de euforia, frio na barriga e medo me invadiram. Fiquei até bamba, tive que sentar por uns instantes e respirar fundo antes de ir pra sala me preparar pra apresentação.

Que "coisinhas interessantes" seriam essas?
Será que ela também ficou lembrando do happyhour como tenho lembrado? Será que também não queria parar onde paramos?
"Mais uma rodada"? O que será que ela quer dizer com isso, seria um convite pra mais um happyhour , ou para uma rodada do "eu nunca" em outro lugar?
O que será que ela quer dizer com "nosso jogo"? Será que entendeu que estamos num jogo de sedução ou algo assim? Meu Deus....
São tantas coisas passando em minha mente que eu não consigo nem pensar direito, e o pior, tenho uma reunião em 5 minutos e nem revisei a apresentação...
Dobro o bilhete e jogo dentro da minha bolsa, acho que terei que ler ele umas vinte vezes pra decifrar o que está nas entrelinhas e tentar entender as intenções da Aninha.
Sigo pra sala, e chegando na porta la está a Aninha, que me recebe com um lindo sorriso, dizendo: _tudo pronto chefinha! Projeto na tela, Ronaldo a postos e óculos de realidade aumentada testados e prontos pra usar se precisar...
_Obrigado Ana! Ronaldo, vamos passar rapidinho pelo projeto inteiro só pra eu entender em que ponto estamos
_Ok Monica, esta aqui é a fachada da Casa...

A ESPOSA, O CEO E A MENINAOnde histórias criam vida. Descubra agora