olho por olho

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- O que houve, meu bem?

- Aconteceu... De novo.

- Ah minha querida. Venha, sente-se aqui. - Sua mãe disse, mas já estava te arrastando para o sofá grande e aconchegante na sala.

- Eu achei que...

- Shii, você não precisa dizer mais nada se não quiser. Apenas coloque tudo para fora.

Ao chegar na casa de seus pais, sua mãe não tardou em te envolver em seus braços e passar conforto para você, enquanto seu pai conversava - não tão calmo- com Kokonoi.

- O que você fez para deixar minha princesa assim?

- Eu? Nada!

- Você foi um merdinha na adolescência, eu te conheço muito bem.

- O que caralhos meu passado têm que afetar meu presente, hein? O fato dela ter perdido o bebê foi minha culpa?

Os dois homens mais importantes na sua vida não se davam bem. Nem um pouco. Independente do momento que estavam; em um churrasco de família, chá de bebê de suas primas, jantar em um restaurante caro ou um simples jantar em casa, eram sempre palcos para grandes discussões. Você ficava de um lado tentando acalmar Kokonoi, enquanto sua mãe ficava de outro, fazendo o mesmo com o seu pai.
Isso deixava ambos os casais sem se falar por um bom tempo.

- Ela... Ela perdeu meu netinho?

- Nem tinha neto. Ela inventou aquilo de novo.

- Ah, entendi... Se ela está em momento tão delicado, porque você que é noivo dela não está do seu lado?

- Ela preferiu assim. E eu tenho muitas coisas para fazer. Passar bem - deu um sorriso debochado e entrou no carro.

Seu pai entrou em casa raivoso, ficando furioso quando viu o seu estado, se aproximou em passos pesados até a lareira e pegou o atiçador.

- Pai! O-o quê você...?

- Querido!

- Fiquem tranquilas. Eu não vou matar ele hoje.

E então passou pela porta a batendo, causando um estrondo e uma leve tremedeira no chão da casa.
Foi pela parte traseira do carro, aproveitando que Kokonoi dava ré e começou a furar o carro e fazer lever arrombos no porta-malas, furou o farol -do freio e da seta - e só não furou o pneu porque queria que aquele bosta saísse de sua propriedade o meu rápido possível. E assim foi feito.

- Filho da puta.

Não do jeito que queria, pois kokonoi bateu com seu próprio carro no veículo de seus pais. Deixando a frente amassada, mas Hajime já não se importava, era só comprar outro e vender esse após arrumado.

Já o carro de seus pais, bom, este estava com a porta do motorista amassada, juntamente com a porta traseira. Gastariam uma boa grana para arrumar. Coisa que para Kokonoi não tinha importância. Se ele teria que gastar dinheiro com seu próprio carro por culpa dos outros, os outros também teriam que arcar com as consequências.

Independente de quem fosse.

Uma vez recentemente, quando a casa de Inui pegou fogo, este estava usando um relógio que por algum motivo Kokonoi o emprestou. O objeto queimou no fogo. E Inui pagou caro por isso. Mas de consciência tranquila, pois o tratamento de Akane estava sendo pago do bolso de Kokonoi, que não pediu por nada em troca.

Vocês namoravam na época, Akane era uma grande amiga para vocês, assim como Inui, claro. Sendo um pouco mais velha que você, ela sempre a aconselhou sobre como tratar Kokonoi, já que convivia com ele desde que este era pequeno, por ser amigo do Inui.

Quando souberam do incêndio, vocês correram para o local, saindo do restaurante que estavam às pressas, o que acabou com Kokonoi dando nota de cem a mais na hora de pagar. Com o tumulto na rua e alguns caminhões de bombeiros ali, não foi possível de estacionar perto. Então correram até o lugar. Também não foi possível se aproximar muito, afinal os bombeiros tinham que fazer seu trabalho de maneira com que ninguem atrapalhasse.

Inui saiu primeiro, sendo seguido por Akane desacorda. Os dois foram colocados na maca da ambulância, que chegou ali pouquíssimo tempo depois de vocês, e vocês trataram de os segui-los.
Kokonoi entrou na ambulância que Akane estava, apenas dizendo pra você que ela estava em um estado mais grave.
Você não o respondeu, já rumando para a outra ambulância, mentindo sobre ser parente de Inui e ficando ali. Segurou sua mão enquanto os paramédicos tratavam de suas poucas feiras pelo corpo.

Ao chegarem, se encontrou com seu namorado que estava em estado de choque. Akane foi direto para a sala de cirurgia, uma viga podre havia caído em sua cabeça a fazendo bater a testa na ponta da mesa e abrir um pequeno corte, mas que precisaria de alguns pontos. Fora seu corpo que estava com um boa parte queimada, não chegava em 50% e após o médico dizer, souberam que foi entorno de seus 31%. Mas ainda sim, era possível ver a pele da mão, dos braços e das costas enrugadas.
Akane precisou passar por vários tratamentos caríssimos e Kokonoi bancou tudo isso. Enquanto Inui já estava melhor, Akane estava sendo transferida de hospital em hospital.

Você achava aquilo muito estranho, comentou com Kokonoi indiretamente sobre isso, mas ele apenas te olhou de forma dura.

"Eu sei o que pensa. Mas ela é só uma amiga de infância, irmã do meu melhor amigo que não tem condições para pagar o tratamento dela, eu estou apenas dando o meu melhor, entende isso, não?"
Perguntou fazendo carinho com o polegar na sua bochecha.

"É claro."

Outra vez foi quando Taiju estava quase falindo em seu restaurante, e com umas ideias aqui e ali resolveu melhorar algumas coisas e comprar mais ingredientes para pratos especiais. Como estava falindo, não havia dinheiro o suficiente para as reformas, não teve escolhas a não ser pedir emprestado para Kokonoi, já que seu nome estava sujo e não poderia fazer empréstimo no banco, deixando claro que pagaria assim que a movimentação no restaurante voltasse e ele obtivesse a quantia em mãos.

Acontece que Kokonoi não gosta de esperar por dinheiro sem um prazo seja; um mês, dois meses, três, quatro, não importa. Mas esperar por um tempo indefinido com toda certeza não faz o tipo de homem que Kokonoi se tornou.

Passando o prazo para seis meses, Kokonoi retornou, dessa vez para cobrar e não para comer mais um de seus pratos tradicionais.
Faltava pouco para Taiju conseguir o dinheiro -algo entre mil reais e mil e quinhentos-, Kokonoi fez as contas e não tardou em destruir alguns pratos, mesas, cadeiras e o fogão.

" Ótimo, agora a dívida foi quitada."
E saiu com um sorriso debochado no rosto e uma maleta nas mãos.

Taiju gastaria bem mais do que mil e quinhentos.

Agora, saindo as pressas do estacionamento da sua família, estava rumando para a reunião de sua empresa. Batia os dedos no volante de forma bruta, mordia os lábios que chegavam a sair sangue, ele odiava criar espectativas que logo seriam quebradas.
Ele odiava esse sua cabeça fodida que criava pensamentos alucinógenos e os fazia acreditar que dessa vez ela estava grávida.
Você é estéril, e se não fosse a porra de um milagre como você engravidaria?

Para Hajime foi fácil não "acreditar" dessa vez, pois na primeira vez que isso aconteceu, há três anos, o mesmo médico já havia o alertado sobre sua "incapacidade" de engravidar. E mesmo assim você tornou a voltar com o mesmo assunto. Isso o irritava, tipo, você já sabia disso, seus pais, amigos, todos já sabiam que era infértil. Então porque raios você, uma pessoa que não pode engravidar, engravidou?
E Kokonoi nem acredita em milagres, ele deixa essa parte com Taiju.

Isso o deixava muito puto, mais puto ainda com sua família por novamente crer nessa sua ilusão louca.

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