Ex vi legis

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XIX - Ex vi legis

"Domine seus sentidos e escape da loucura, quando o medo e a ilusão lhe induzirem ao erro." 

Simbiose; termo usado para designar uma relação funcional, estreita e produtiva, onde seus integrantes interagem ativamente, resultando em uma ou ambas as partes se beneficiando. Em termos biológicos existem três tipos de relação simbiótica, nas quais o ser humano participa diretamente, sendo ele o agente agressor ou o hospedeiro, principalmente quando se trata do parasitismo.

Mas o que ocorre quando essa relação simbiótica se dá dentro de um único hospedeiro, entre o seu imaginário e o medo, tornando-o seu próprio agente agressor? Transformando uma mente sã em um banquete nutritivo para um sanguessuga faminto, que se alimenta e cresce a partir do temor?

Nada mais do que uma mente acorrentada; escrava. Nada além de um parasita das próprias emoções; em um jogo de amarras imposto por uma consciência vulnerável, incapaz de meros discernimentos lógicos.

— Uma bomba, Taehyung?!

O som alto veio da porta do apartamento sendo fechada com força. O fotógrafo arregalou os olhos e correu para abri-la novamente, já que — levado pelas turbulentas emoções que faziam seu sangue borbulhar —, Jeon nem sequer notara que havia fechando-a na cara dos amigos.

— Foi de mentirinha, conejito!

Yoongi não esboçou incômodo ao atravessar a porta depois de outra vez aberta. Em silêncio, seguiu diretamente para o escritório do advogado, servindo-se de uma dose seca de uísque, entornada em um único gole.

Ainda que tivesse fechado a porta do escritório, podia ouvir em bom som a revolta do advogado.

— De menti- — Travou o maxilar, prendendo o restante da palavra na garganta. Por pouco não mordeu a língua. Continuou indo e vindo pelo apartamento, caminhando de um lado ao outro, abrindo e fechando portas e gavetas como se aquele ato tivesse uma dose terapêutica no som proporcionado — Você está se escutando, Taehyung?

— Estaria mais, se você parasse de bater as coisas! — Seguia-o pelo apartamento.

A maçaneta da porta do quarto do casal estava envolvida pela mão firme do advogado, que lentamente foi soltando-a, ao mesmo tempo em que buscava respirar fundo pela enésima vez desde que ouviu as notícias no rádio sobre a suspeita de explosivos no prédio da Suprema Corte.

— Você tem a mínima noção do que fez? — regulou o volume da voz, porém manteve o tom cortante de reprovação.

— Você continua subestimando minhas habilidades crimi-

Jeongguk voltou a segurar a maçaneta com força e, antes de concluir a frase, Taehyung teve a porta fechada com força em sua cara assim que ele a atravessou, deixando-o sozinho no corredor.

— ...nosas. — Fixou o olhar na madeira envernizada, sussurrando o final da palavra até sua voz sumir. Segurou a maçaneta e respirou fundo antes de entrar — Mi amor, claro que tenho noção do que eu estava fazendo.

Jeon estava de costas, se desfazendo da gravata com gestos brutos, desabotoando os punhos da camisa a ponto de arrancar uma das abotoaduras fora. Se Taehyung não queria enxergar a seriedade da situação, não gastaria o pingo de paciência que lhe sobrou com ele. Tentaria usá-la para se acalmar.

O fotógrafo podia ver, pelo mover das costas largas e o respirar fundo e cadenciado, que ele estava nervoso, irritado, com raiva e, principalmente...

— Você tem noção do medo que eu senti? — Odiava o gosto amargo que dominava sua boca, vindo do temor que sentiu ao chegar no tribunal e não encontrar Taehyung de imediato. — Sabe quantas merdas eu imaginei?

O Amor no banco dos RéusOnde histórias criam vida. Descubra agora