O Amor no banco dos Réus

Coação

Capítulo I - Coação

"A primeira impressão é a que fica. Se começar o jogo perdendo, nunca terminará com uma vitória."

Dezembro de 2018

"— Liga para o Carl, diz que vou precisar dele — falava com seu assistente ao telefone, ao tempo que estendia um dos braços acenando para mais um dos muitos veículos amarelos que passavam em alta velocidade, espirrando água da chuva para todos os lados. — Táxi!

Era inverno em Manhattan, e um dos mais rigorosos ao que tudo indicava. A meteorologia especulava que nevaria antes do previsto. As ruas e avenidas já se encontravam completamente envoltas em decorações e espírito natalino.

Jungkook odiava o Natal.

O carro mal havia parado e ele já segurava a maçaneta, abrindo a porta traseira o mais depressa possível. Preferia dirigir a sua Mercedes, mas quando saiu do escritório naquela tarde, teve a infeliz surpresa de ver um dos pneus dianteiros completamente murcho. Ainda com o celular grudado na orelha ouvindo Jimin lhe confirmar a agenda do dia seguinte, não notou quando, simultaneamente, a porta oposta à sua também se abria e outro passageiro entrava tão distraído quanto estava.

— Para onde, senhores?

Só então perceberam a presença um do outro.

— Esse táxi é meu!

Não deu a mínima importância para o homem sentado próximo a outra janela, vestido com uma fantasia ridícula de ajudante de Papai Noel — cabelos avermelhados... e aquilo eram orelhas? — tentando secar a lente da câmera semiprofissional que tinha em mãos com a borda da manga da camisa.

— Avenida Madison, por favor! O Sr. Duende aqui está de saída.

— ¡No esta no! Você não vê alguém chamando um táxi, entra quando ele para, e diz que é seu!

Era tão difícil conseguir um táxi àquela hora que não sairia mesmo dali, ainda mais com a chuva que estava ameaçando voltar.

— É... senhores?

— Liga o taxímetro e cala a boca. — Puxou uma nota de vinte dólares e estendeu sem a menor educação para o motorista, voltando o olhar para o rapaz que agora se sentava mais confortável no banco, afivelando o cinto. — Ok! Meu tempo é precioso demais para perder com você. Diz logo pra onde você vai que eu pago a sua corrida, só sai logo desse táxi.

— Guarda a carteira aí, seu metido a besta. — Cruzou os braços formando um bico nos lábios ao que resmungava. — Me diz, Hobi, por que esses bonitinhos de terno acham que podem resolver tudo com algumas notas de dólares?

— Hobi? — O advogado estava confuso.

— Prazer, eu sou o Jung Hoseok Rodrigues, Hobi para alguns. — O motorista estendeu a mão, lhe fitando com um sorriso zombeteiro nos lábios.

Jeon conteve o revirar de olhos. Só podia ser brincadeira...

— El gatito aqui já pagou a taxa de privacidade, Hobi, se te pegar espiando no pagaré la corrida.

— Tudo bem, Tae — disse rindo, se acomodando em frente ao volante. — Sessão de fotos ou vai lamentar a vida con una copa de vino?

Jungkook estava estático, tentando entender a dinâmica daquele diálogo. Seu espanhol não era dos melhores, péssima pronúncia, mas a compreensão era satisfatória. Não precisou de um tradutor para decifrar algumas palavras e entender que os dois já se conheciam.