Tortura da recuperação.

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-Delphine-

"O nosso quarto pode ser nosso local mais sagrado, mas quando se passa a maior parte do tempo nele, você se torna claustrofóbico.

•Sem informação de hora.•

Eu contava os dias, e cada vez que passava o tempo, mais eu percebia que ia demorar pra me recuperar.

Eu odiava ficar naquela casa fechada sem puder fazer nada, só com minha própria companhia.

Por outro lado, Ashtray todo dia ia me visitar, com o seu jeito rude e desnecessário de sempre.

Ele me ajuda com curativos e com nescessídades básicas, do qual eu ainda precisava de ajuda.

As minhas cicatrizes estão se recuperando com o tempo lentamente, já outras, percebe-se que iram ficar.

A minha insegurança alarga os meus pensamentos, com a auto-estima a baixando rapidamente.

Não utilizava mais roupas que eu gostava, só andava com uma camisa larga até demais e calças de pijama.

Me sinto totalmente feia, a minha cara inchada de choro e marcada pelos homens abusadores e pela almofada do qual passo horas deitada, os meus braços marcados e meu corpo todo cortado, o meu cabelo bagunçado e minha franja totalmente grande me faziam delirar e ter vergonha de mim mesma.

Meu irmão não falou comigo desde que eu cheguei, ele me evita totalmente e quando se é pra tratar de assuntos meus ele fala com o Ashtray.

Com um tempo minúsculo que estou em repouso, mas para mim parece anos, consigo cada dia fazer algo de novo, como fazer alguns curativos ou ir ao banheiro sozinha.

Mas ainda não consigo descer as escadas, tomar banho e nem cozinhar.

Rue me visita frequentemente e me ajuda com higienes pessoais, como o banho, além de que fica comigo as vezes quando o Ashtray ainda não chega.

Nos divertimos bastante, rimos, jogamos e conversamos sem parar, aqueles momentos me faziam esquecer dos meus traumas afetados pelo mundo sombrio do crime.

Mas quando a Rue e o Ashtray saem, volta o vazio no meu quarto, os pensamentos negativos  e o depressivo momento me faziam paralisar na cama só a pensar na vida idiota e totalmente anormal pra minha idade do qual eu tenho.

O meu gato murmurava pelo tédio daquela casa e andava entre a vizinhança me trazendo presentes o tanto peculiares, com o silêncio daquele momento me faziam sentir coisas, ver e ouvir coisas que nunca percebi.

A minha pia depois de um tempo que eu abro começa a fazer barulhos de uma barriga esfomeada.

Quando o vento bate na janela faz um barulho de enferrujamento.

A prateleira em cima da minha cama precisa rapidamente de uma limpeza e um reparo.

As minhas gavetas tendem a travar em um certo momento.

O relógio da cozinha é estranhamente barulhento.

A casa do meu vizinho tem duas crianças.

O carpete do meu quarto faz barulho perto da porta.

A minha poltrona tinha comida escondida entre as frechas das almofadas.

Dando a perceber todos os defeitos do meu quarto, o tédio voltou fazendo-me deitar novamente na cama.

•18:18PM•

A porta do meu quarto se abre fazendo-me rapidamente sentar na minha cama do qual eu estava deitada, me fazendo um pouco de incomodo na barriga.

Entra então o meu amante, revelando minha paz interior.

O menino entra e fecha a porta, me fazendo deitar-me relaxando.

O mesmo chega perto de mim e senta do meu lado.

Qual é a novidade de hoje? - O menino perguntava avaliando o local.

O Perry trouxe um escorpião morto. - Falei me referindo ao meu gato.

O menino solta um leve risinho mas tenta esconder logo quando avisto do garoto.

Como meu irmão ta? - Eu pergunto pelo fato de que eu não falo com o mesmo.

Mesma merda de sempre, mandando fazermos bosta pro lado, matando filhos da puta, você sabe... - Ele diz relaxando na cama.

Não estávamos tendo tanto afeto amoroso quanto antes, pelo meu lado, me sinto feia e intocável demais pra ele, e nesse momento tão delicado, não sei se ele iria querer.

O que você acha de mim? - Pergunto segurando a mão do mesmo e olhando pra ele.

Como assim? - Ele pergunta me olhando estranhamente e revirando o olhar.

Você sabe... Como eu estou agora. - Eu pergunto meio tímida.

Denovo com estas merdas Delphine? - Ele afirma levemente irritado.

Retiro a minha mão da mão dele com uma cara levemente triste.

Delphi... Eu já falei que eu gosto de você e acho você mais bonita de qualquer jeito! - Ele diz tentando ser paciente mas falha levemente.

Não convencida com a resposta do mesmo.

Não! não tem como você gostar do mesmo jeito! olha como eu estou! - Dou-me de ombros irritada.

Porra por que você acha que estas merdas como aparência e qualquer coisa insignificante não importa! caralho eu gosto de você como você é! - Ele afirma levemente irritado pela minha insistência.

Eu sei, eu só me sinto horrível assim, nunca me senti antes e o meu maior medo é você não gostar do jeito que eu estou agora, que você tenha medo de me tocar ou algo assim. - Eu revelo evitando contato visual.

Nunca. - Ele fala pegando meu queixo e colocando nossos lábios juntos depois de algum tempo.

Eu precisava disso.

O menino evita de colocar a mão em mim, mas logo coloco as minhas em seu pescoço, dando espaço pra ele segurar meu rosto com cuidado e sua outra mão meio desnorteada pelo medo.

O beijo ficava mais demorado e os sentimentos necessários pra mim já era o suficiente pra melhorar.

Pela minha inclinação do corpo, senti depressa uma dor na minha barriga, me fazendo soltar um suspiro de dor do qual ele sabia muito bem decifrar.

Você está bem? - Ele diz muito rápido se afastando de mim e erguendo as mãos, com medo que ele tocasse em algo.

Dou um sorriso e afirmo com a cabeça fazendo ele aliviar-se, e colocando sua cabeça perto da minha.

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La Hermosa - AshtrayOnde histórias criam vida. Descubra agora