Capítulo 9 - Fugitivo

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O treinador me deu uma lista das tarefas que eu tinha que cumprir como seu ajudante.

Primeiro: limpar os banheiros, o vestiário e a sua sala.

Segundo: manter os uniformes dos jogadores organizados. (Claro, eles não tinham mão pra fazer isso)

Terceiro : Estar sempre a disposição durante os treinos.

Já fazia duas semanas que eu estava nessa função e ainda não via a hora de tudo terminar. Aquilo era trabalho escravo e eu não tinha dúvidas de que ele estava me usando, mas eu não tinha sequer coragem de reclamar aquele homem era enorme e incrivelmente assustador.

Quando os garotos chegavam para o treino eu sempre dava um jeito de fugir pra onde eles não estivessem, se eles fossem para o vestiário eu ia para a quadra, quando eles estavam na quadra eu começava a limpar a sala do treinador e assim eu vivia como um rato fugindo dos gatos.

Durante o intervalo eu me escondia em algum lugar que eu sabia que ninguém poderia me encontrar. Eu não queria ser um cachorrinho de Thomas andando com ele para todos os lados e muito menos queria me enturmar com a sua turma. Eu estava descaradamente descumprindo o nosso acordo, mas quem se importa, era bom ser só eu, sozinho como sempre, sem o peso de outros olhares sobre mim, a última coisa que eu queria era que tudo mudasse.

Eu só não sabia que aquilo estava completamente fora do meu controle.

Quando terminei todas as minhas tarefas do dia, os jogadores já tinham ido embora do treino, fui em direção a quadra e do corredor pude escutar o som de uma bola batendo no chão, diminuí os passos e parei no final do corredor onde eu tinha uma visão de toda a extensão da quadra.

Thomas corria sozinho no espaço batendo a bola de basquete no chão e indo até a cesta, pude ver o quanto ele estava suado e ofegante, mas sequer dava sinal de que iria parar, com a bola em mãos ele deu um salto enterrando-a com violência dentro da cesta, ele pegou a bola de volta do chão e se afastou parando no meio da quadra, lá suas pernas se tencionaram e ele deu um pulo e jogou a bola que bateu com muita força na tabela e não entrou, ao invés disso ela ricocheteou e veio parar aos meus pés.

Thomas deu um grito de frustração e antes que ele virasse em minha direção eu peguei a bola e caminhei até ele.

— Acho que isso é seu – joguei a bola no momento em que ele virou o olhar pra mim e com rapidez ele a agarrou nos braços.

— Achei que estivesse empenhado em fugir de mim – ele colocou a bola no chão e se sentou nela sem tirar os olhos dos meus.

— E estou, mas você parece estar em todos os lugares. 

— Eu sou tão péssima companhia assim? – eu não pude deixar de achar o seu tom inseguro um tanto fofo, ele era sempre tão confiante perto dos outros era raro o ver daquela forma.

Dei de ombros a sua pergunta olhando para os traços sutis no rosto dele que demonstravam certa preocupação.

— Você parece chateado – confirmei.

Ele respirou fundo como se estivesse carregando um grande peso e depois direcionou o olhar para o chão.

— É... só que meu desempenho vem caindo, Joel está pronto para pegar o título de capitão do time e fazer da minha vida um inferno, meu pai vive cobrando perfeição de mim, o campeonato estadual já está começando e você me ignora o tempo todo – ele se levantou e jogou a bola longe com violência – é até engraçado como todo mundo só quer saber do meu desempenho e dos malditos jogos, mas nunca se eu estou bem, isso é um saco.

Ele diz tudo com bastante raiva como se tivesse direcionando todas as palavras pra mim, como se eu tivesse culpa de tudo, acabo me sentindo atacado, então me defendo:

Invisível [Em Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora