Capítulo 23 - Ruína

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Sinceramente, por mais que eu ame finais de semana – amo porque isso significa não ir a escola, nem aguentar o treinador e os cara do time, além de poder passar mais tempo sozinho –, eu só queria, que exatamente esse em questão, eu tivesse apenas como pulá-lo. É um saco que mamãe tenha marcado esse jantar com seu novo namorado e eu esteja querendo sumir da face da terra e voltar só quando o dia encerrar.

Às vezes sinto inveja de Bella por conseguir lidar tão bem com tudo, talvez isso seja porque ela ainda tem nove anos, o que me faz pensar que eu gostaria muito de voltar a ser criança e não me sentir tão sobrecarregado de sentimentos como estou sentindo. Isso é um saco.

— Você esqueceu a lista – Bella, me entrega um papel dobrado assim que pisamos pra fora de casa – você tá tão pensativo, mamãe disse pra irmos ao mercado e você só saiu, não esperou ela dizer o que era pra comprar, nem pegou o dinheiro.

— Estou preocupado com coisas da escola – passo a mão em frente ao rosto em um sinal pra garota deixar isso pra lá, porque não tem tanta importância.

— Tá bom, se quiser ajuda pra atravessar a rua – ela dá um sorrisinho debochado esticando a mão na minha direção, eu odeio que Bella sempre guarde todas as situações que acontecem comigo pra poder tirar sarro o resto da vida – você não deve saber nem onde é o mercado, né?

Eu encaro a pirralha antes de olhar pra frente e realmente constatar que eu não sei, não sei se devo descer a rua ou subir. Esquerda ou direita? Eu simplesmente não sei onde fica o mercado, Bella ri da minha confusão.

— Se a pé você já não tem senso de direção imagina quando tiver um carro – ela começa a andar resmungando e eu vou atrás – isso me fez lembrar de algo, pode me emprestar o seu celular?

— Pra quê?

— Vou fazer uma ligação. É pra mamãe eu esqueci de perguntar algo – ela dá um sorriso, o sorriso que ela dá sempre que está aprontando algo.

— Mas a gente nem saiu da nossa rua.

— É mais rápido do que eu ter que voltar lá. Vai logo.

Eu entrego relutante, ela pega o celular e olha pra tela, a claridade me impede de vê-la digitar o número de nossa mãe, ela franze a testa enquanto olha para algo, dando um sorrisinho de lado

— Anda logo.

— Calma – ela coloca o telefone no ouvido e do outro lado mamãe atende em um segundo, o que me deixa em dúvida, mamãe não atende as ligações tão rápido assim. Ela mal fica perto do celular – Oi, quem fala?

— Bella – repreendo me dando conta de que a garota não está falando com a nossa mãe, ela se vira com o telefone fugindo de mim com um sorriso empolgado, enquanto a pessoa do outro lado parece finalmente responder.

— Você pode buscar eu e meu irmão? – ela faz uma voz meiga – a gente precisa ir ao mercado, mas ele é um cabeça oca e não sabe onde fica. E eu, sou apenas uma criança.

— Merda Bella, me dá o meu telefone, agora! – quando tento pegar, ela se vira novamente dizendo onde estamos para a pessoa do outro lado e desliga – pra quem diabos você ligou, Bella Köning?

— Jogador irritante – ela olha pra tela rindo – Quando vi o nome imaginei que era o Thomas, ele tem carro e é seu amigo. Ele é tão legal, Jay, nem parou pra pensar quando eu perguntei se ele podia buscar a gente, só deu uma risadinha e disse que estava vindo.

— Que merda, Bella – não consigo esconder que estou irritado com sua atitude, mas ela sequer parece ligar, só me entrega o celular enquanto eu fico olhando pra tela. – não acredito que você fez isso.

Invisível [Em Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora