Passo toda a manhã inquieto, batendo os pés no chão embaixo da carteira, não consigo pensar nas matérias ou no que quer que seja, tudo dentro da minha cabeça é Thomas. Descobrir sobre seu transtorno me deu um alívio por certo momento já que agora eu tinha um motivo para as suas atitudes tempestuosas, mas assim que pesquisei no Google sobre o transtorno eu fiquei apreensivo só querendo apagar tudo da minha mente. Em vários sites falavam que uma pessoa com TPB não conseguia ter relacionamentos duradouros, será que seria assim comigo e com Thomas? Será que ele se cansaria de mim achando melhor ir atrás de outra pessoa mais empolgante? Dentre tantas coisas isso era o de menos, foi difícil ler que uma porcentagem muito grande de pessoas com TPB acabam se suicidando, isso era assustador.
Esfreguei tanto as mãos nos olhos durante as aulas que eles acabaram ficando irritados e vermelhos. O sinal tocou dando fim aquele dia cansativo e por um momento esqueci completamente que era o dia do penúltimo jogo da temporada. Assim que sai da sala fui engolido pela nuvem vermelho e branco, as cores do time estavam em todas as direções e os alunos eufóricos mais do que nos jogos anteriores. Claro, estávamos a dois passos da vitória e até eu estava ansioso com a possibilidade de ganharmos, conviver com o time tinha feito isso comigo.
Mas no momento, em meio a toda aquela euforia eu só conseguia pensar em procurar Thomas e puxá-lo pra conversar, queria saber se ele estava bem, já que depois de sua ligação não tínhamos conversado mais, e, logo depois descobri sobre o transtorno o que me deixou mais preocupado ainda. Consigo chegar no ginásio desviando da massa de corpos, a maioria são alunos da escola, mas tem muitos vestidos de verde a cor do time adversário.
Vejo primeiro o grupo de garotas em um canto da quadra balançando pompons, procuro pelos jogadores enquanto caminho até elas, mas eles ainda não estão em quadra. Me aproximo de melissa enfiando minhas mãos no bolso e ignorando as caretas das outras garotas.
— Eu preciso conversar com você – digo, Mel confirma com um sorriso delicado e nos afastamos.
Aos poucos o ginásio começa a ficar cheio, o que não é tão ruim por que o barulho de conversas e gritaria faz com que minha conversa com mel seja abafada.
— O Thomas tá bem? – pergunto soando um pouco desesperado.
— Viemos para a escola juntos e até onde consegui ver ele estava bem sim, pelo menos fisicamente. Ele não conversou muito – Eu mordo a língua olhando para os meus pés – você já sabe né?
— Sobre o que melissa, sobre o transtorno? Sim eu já sei. Você deveria ter me contado, somos amigos.
— Jay, ele me pediu pra não contar. Eu queria te falar, até pra que você entendesse o que estava acontecendo com ele, mas eu prometi que não contaria, só que, não teve um dia que eu não tentei convencê-lo de que era o momento de você saber. Ele disse que não queria usar o transtorno como justificativa, porque o borderline não é quem ele é.
— Eu não sei como me sentir sobre isso, eu tô confuso pra caralho e tô com medo, eu li algumas coisas no Google e não foram boas e...
Melissa tocou meu ombro acariciando a região com seu sorriso tranquilizador.
— Ei calma, não vou romantizar isso e dizer que vai ser tudo maravilhoso entre vocês porque não vai, e se tivesse que te dar um conselho como sua amiga eu com certeza diria pra você cair fora.
— Que animador.
— Eu convivo com ele desde pequena e aprendi muitas coisas, como lidar com as crises, a saber quando me afastar e como me aproximar quando ele mais precisa de mim, com a convivência você também vai aprender isso. Tem dias que vão ser difíceis como se você estivesse em um campo minado, mas Thomas é uma pessoa incrível, Jay, não digo isso porque sou amiga-irmã dele, mas sim porque é verdade e ele merece alguém incrível na vida dele também e que esteja pronto para lidar com a confusão que ele é. Talvez eu seja muito condescendente pra te dar conselhos, porque realmente gosto de vocês dois juntos, não quero te encorajar a nada que vá te fazer mal nem a ele, mas não sei, vocês parecem tão perfeitos um para o outro.
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Invisível [Em Reta Final]
Roman pour AdolescentsPor causa de um acontecimento traumático no passado, Jayden se isolou do mundo ao seu redor. Não conseguindo confiar em ninguém e com a certeza de que qualquer pessoa que se aproxime só irá machucá-lo, ele cria sua própria bolha de proteção se torna...