Capítulo 19 - Amadurecimento

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Desde muito pequeno eu me lembro de termos um dia dedicado somente a família em casa, não sei exatamente a história por trás e nem sei se foi papai ou mamãe que criou o dia embora isso tenha muita a cara da minha mãe. Sempre que papai voltava das viagens costumávamos nos reunir e jogar diferentes tipos de jogos, os meus preferidos eram os de raciocínio lógico porque na maioria das vezes eu ganhava e me sentia orgulhoso por isso. Bel sempre acabava chorando, dizendo que eu deveria dar a oportunidade de todos ganharem e que eu era muito egocêntrico, ela tinha acabado de aprender aquela palavra então a usava o tempo todo como um xingamento pra mim. Por não gostar daqueles tipos de jogos os seus preferidos eram os que não envolviam raciocínio lógico, qualquer coisa que envolvesse dançar ou conversar demais era com ela mesmo. Bel era exatamente a versão de papai. E eu, bem, embora não quisesse admitir era uma versão mais problemática de mamãe, era por esse motivo que as nossas duplas nos jogos era a combinação perfeita, os garotos contra as garotas. Eu era o mais competitivo e Bella não ficava para trás, o que resultava sempre em uma discussão e os dois mais velhos tendo que apartar. 

Eu nunca disse para os meus pais o quanto eu gostava do nosso dia da família, desde sempre eu tenho essa grande dificuldade de me expressar em palavras, aqueles dias faziam eu me sentir bem. Porém quando cheguei na adolescência e comecei a me sentir confuso com quem eu era eu simplesmente resolvi me afastar e me isolar com meus pensamentos turbulentos, meu pai sempre procurava conversar comigo e dizia que não importava o que eu estivesse guardando dentro de mim eu poderia conversar com ele a qualquer momento e ele iria entender, já minha mãe estava sempre me analisando e tentando entender o porquê das minhas mudanças, era o seu jeito de ter certeza que eu estava bem. Toda a minha confusão de sentimentos e de auto entendimento eu guardei somente pra mim como eu já fazia com tudo, somente eu sabia dos meus segredos, porque pra mim confiar nas pessoas era o mesmo que deixar a minha vida a mercê de alguém que poderia me decepcionar e acabar usando isso contra mim.

Quando papai morreu foi quando eu mais senti falta dos dias de jogos, me arrependi de não ter dado mais valor, eu achava que teria toda a vida com ele, mas eu só tive dezessete anos ao seu lado. Foi por isso que quando mamãe bateu na porta do meu quarto segurando um monte de caixas de jogos na mão eu não consegui dizer que tudo que eu queria era apenas dormir. Ela estava se esforçando tanto pra manter a nossa conexão de família.

— Vamos Jay, você pode escolher o jogo que quiser – tentou me convencer, ela estava tão animada que fiquei com medo de ser contagioso.

— Tudo bem, só pare de sorrir tanto tô começando a ficar com medo, vai que eu começo a sorrir assim também. – ela ri levando uma mecha dos cabelos atrás da orelha.

— Espero você lá embaixo.

Eu vou pra sala sem nem me importar em trocar de roupa, usando um pijama de calça comprida e mangas longas do Bob esponja, o amarelo do conjunto é capaz de chamar a atenção a metros de distância, mas não me importo já que estou em casa e lá fora faz um friozinho relaxante. Levo junto meu travesseiro. Quando aponto na porta vejo Bel e mamãe sentadas no tapete envolta de uma mesinha de centro.

— Pode ser esse – Bel diz segurando uma caixa de um jogo que envolve fazer mímicas, eu me aproximo e tomo da sua mão como uma criança.

— Mamãe disse que eu posso escolher.

— Demorou demais – a garota tenta tirar da minha mão.

— Ei, chega. – mamãe ordena – Bella, deixa seu irmão escolher, você sabe que ele vai fazer um show se não puder.

Ela me mostra a língua enquanto eu sento ao lado das duas com um sorriso vitorioso, pego a caixa de Scrabble um jogo de palavras e Bella bate a palma da mão na testa com um olhar de tédio.

Invisível [Em Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora