Capítulo 17 - Nosso pacto

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Eu sempre senti como se em toda a minha vida eu passasse mais tempo sonhando do que realmente vivendo, e mesmo tendo total noção disso eu nunca dei muita importância pra mudar e fazer algo diferente. Parte de mim sempre achou que viver fosse só uma grande perda de tempo, a gente nasce, enfia as caras nos livros na esperança de ter um futuro brilhante e uma conta bancária dos sonhos quando na verdade são poucos os que conseguem chegar lá, a maioria mesmo com todo o esforço e tendo dado tudo de si vai ficar preso dentro de um escritório ou algo do tipo, ou até em um carro de aplicativo na esperança de juntar dinheiro suficiente pra comprar um apê e então se aposentar. Não tem como acreditar em meritocracia em um mundo cheio de desigualdade.

Acabo percebendo que estou como sempre divagando com milhões de pensamentos aleatórios dentro da minha cabeça.

— Então, você já sabe o que quer fazer no futuro? – É a segunda vez que o doutor Corye pergunta isso, da primeira eu dei de ombros e não respondi e ele respeitou isso, mas, agora veio toda essa reflexão na minha cabeça. Porém essa reflexão está mais para um problema do que para uma resposta.

— Eu acho que... bem, eu só não quero que as coisas mudem – dou uma resposta um tanto evasiva jogando o assunto para outro tópico.

— Por que?

— Porque eu me sinto mais seguro assim. – observo um quadro que está na parede às costas do Doutor, é um quadro de diferentes misturas de cores umas mais vivas e outras mais apagadas que formam uma paisagem deslumbrante, eu definitivamente amo arte.

O psicólogo se vira seguindo meu olhar e depois volta pra mim com atenção.

— Gostou do quadro? Você não para de olhá-lo desde que chegou.

— Sim, mas ele não estava ali antes, quero dizer nas outras consultas.

— É, eu comprei em uma venda de garagem e achei interessante trazê-lo pra cá – ele dá um sorriso simpático – você está muito pensativo e distraído hoje.

Eu o ignoro trocando meu olhar para o teto.

— Quer compartilhar algo? – tenta mais uma vez fazer com que eu me abra.

Então penso em Thomas. No beijo. Na sua boca tocando a minha. Sua mão circulando meu corpo. Quero contar isso para alguém, quero contar como foi incrível, como meu coração parecia barulhento e frenético demais, como eu nunca havia me sentido assim com ninguém antes, suspiro porque todos os meus pensamentos bons vêm carregados de desconfiança. Minha respiração se torna pesada pois não sei lidar com tanto sentimento conflituoso.

— É. Eu estou bem, muito bem na verdade, mas... eu tenho medo que isso acabe, porque sempre que eu me sinto realmente bem algo acontece pra destruir tudo.

— Isso é a parte engraçada da vida, nada vai acontecer do jeito que esperamos, simplesmente tem coisas que precisam ser vividas sendo boas ou ruins para que toda nossa personalidade e experiências sejam moldadas a partir daí. O medo sempre vai existir e é normal, é claro que, não se isso se tornar excessivo demais de uma forma que te impeça de viver – ele larga a caderneta de lado e deixa o corpo inclinado pra frente com todo seu olhar preso em mim como se estivesse prestes a dizer algo muito importante  – Você, Jayden, tem medo de mudanças e prefere a comodidade da sua zona de conforto. Por causa disso vou te fazer um pedido, quero que faça algo, quero que imagine que você tem um script com todos os seus planos traçados da maneira que você deseja, as coisas e pessoas que você mais gosta, tudo que você ama fazer, lugares onde você gosta de ir e se sente seguro. Agora, imagine que está rasgando esse script, destruindo-o por completo, você pode fazer isso?

Cruzo meus braços sob o peito e sigo as ordens, mesmo achando tudo uma grande palhaçada.

— Pronto.

Invisível [Em Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora