Capítulo 20 - Adrenalina

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Eu realmente não estava em um bom dia na manhã seguinte, tinha acordado atrasado, colocado a roupa do avesso e ainda tive que usar um par de meias diferentes porque eu realmente não estava com paciência pra procurar o par certo no meio de toda a bagunça do meu quarto. Pra completar estava tentando evitar minha mãe de uma forma que não ficasse tão na cara que estava fazendo isso, eu não queria magoá-la, mas era impossível não sentir uma sensação incômoda quando eu a olhava, minha mente fica imaginando-a como uma vilã sem remorso, dizendo coisas como: Que amor era aquele que ela dizia ter por papai, que não esperou muito tempo pra se envolver com outro depois que ele morreu? Eu fazia de tudo pra nublar esses pensamentos mas era difícil quando eu estava magoado demais.

Eu passei todas as minhas aulas do dia pensando sobre isso, que mal me lembrei sobre minha promessa de procurar o diretor para tentar reverter meu castigo, automaticamente eu terminei a última aula e caminhei até o ginásio.

Os ânimos da escola tinham voltado a se animar quando mais um jogo da equipe de basquete se aproximava, dessa vez em casa, as esperanças estavam renovadas desde a última derrota. Dessa vez eles não podiam perder, senão as chances de conseguir chegar nas semifinais iam ser jogadas ao ralo. 

Os alunos estavam confiantes como nunca, mesmo depois da recente derrota, eles veneravam o time de uma forma que eu nunca ia entender.

Quando me aproximo do ginásio os jogadores estão treinando pesado, enquanto o treinador grita ao pé do ouvido de cada um andando de um lado para o outro tranquilamente. Eles estão suados e ofegantes, vejo Paul quase desistir do exercício, que consiste em correr de um lado para o outro da quadra, finalizando com uma série de abdominais, Paul não desisti porque o treinador grita insinuando que se alguém parar pode se considerar um perdedor, vejo-o respirar fundo todo vermelho e ofegante e, então, Thomas aparece ao seu lado diminuindo seu ritmo só pra acompanhar o amigo. O capitão está suado e com a pele corada pelo esforço, mas continua firme com um ânimo de que pode aguentar uma maratona até o outro lado do país.

Com o foco nos jogadores, o treinador acaba me dando um momento de paz, que eu ainda não havia tido desde que comecei a ser seu auxiliar. Assisto tudo que acontece na quadra sentado na arquibancada, não nego que ver o time sofrendo me deixa momentaneamente feliz, eles vivem infernizando minha vida além de serem babacas demais para ter um pouco do meu remorso, eu ainda estava ressentido com Ronald por ter me jogado na piscina, por causa da sua brincadeira idiota eu tive um pesadelo em que me afogava, o que não acontecia há anos.

Contudo, depois de duas horas no mesmo exercício foi impossível não sentir pena, todos eles estavam em um péssimo estado, eu definitivamente nunca havia os visto em estado tão deplorável como aquele, os novatos pareciam prontos pra desmaiar a qualquer segundo. Thomas se mantinha firme ao lado deles, fazendo seu papel, o que me fazia ter um olhar complacente a ele, uma coisa que eu não podia negar é que ele era um bom líder.

Desci as escadas, abrindo um cooler no banco de reservas, peguei algumas garrafas de água e distribuí entre os jogadores que me retribuíram com olhares extremamente agradecidos. De alguma forma, me sentir útil foi bom depois de só ter ficado observando o sofrimento deles.

Deixei a última garrafa para Thomas, joguei ela em sua direção enquanto ele fazia a corrida, confiando nas suas habilidades e ele pegou-a certeiro dando um sorriso exausto em agradecimento, sempre que ele sorria daquela forma eu ficava desnorteado e não era de uma maneira ruim 

— Bom trabalho – me forcei a dizer tentando soar indiferente no momento que ele chega no final da quadra pra fazer as flexões. 

Ele está mais perto de mim agora, seu rosto cansado se ilumina novamente com um pequeno sorriso deixando toda a exaustão de lado, parece que minhas poucas palavras direcionadas a ele foram suficientes para recarregar suas baterias. E é quando ele faz isso, me olha como se eu fosse o centro do universo, que esqueço completamente que eu odeio ele, que odeio cada pequeno centímetro dele. Ele se abaixa e eu fico parado observando o movimento do seu corpo no vai e vem das flexões, sinto a extensão do meu corpo se esquentar, mas o momento não dura muito porque é quebrado pelos gritos infernais do treinador.

Invisível [Em Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora