Capítulo 29 - Vazio

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Passo alguns minutos ainda parado na porta do vestiário depois de Joel ter ido embora. Pensando no que fazer depois dele ter me deixado completamente confuso quase como se tivesse puxado os tapetes dos meus pés. Sinceramente, não sei quanto tempo se passou entre meus devaneios e o momento que vi o treinador sair da sala dele, ele acabou me vendo no corredor e por impulso tentei disfarçar saindo do batente da porta e expressando alguma animação, mas meus olhos estavam vermelhos e sequer havia como eu disfarçar o que estava sentindo de verdade. Ele parou com os braços cruzados e posse ereta me analisando enquanto girava um molho de chaves no dedo.

— Eu não aguento mais drama por hoje – reclamou, bufando ao mesmo tempo que soltava o peso dos ombros – o que aconteceu? Os garotos fizeram alguma coisa?

— Não – respondi virando meu rosto e encarando o chão.

— Então por quê você tá com cara de vira-lata abandonado? – virou os olhos desconfiados, minha mãe costumava fazer muito aquilo quando pensava que eu estava mentindo ou escondendo algo.

— Eu não tô. – forcei um meio sorriso, mas foi tão difícil fazer aquilo quando meu peito estava sendo comprimido por um sentimentos de medo e frustração, ainda mais com tudo que aconteceu no treino a minha conversa com Joel, não saído por nada da minha cabeça.

— Ei, acho melhor não chorar, não gosto que chorem perto de mim. – avisou, apontando o dedo na minha direção inclinando a cabeça levemente. – não espere que eu te console.

— Eu tô bem. – dei de ombros já me sentindo irritado com toda a situação. Quem disse que eu iria chorar?

— Não é o que parece, Köning – exclamou, sua voz não tinha mudado de tom, ela nunca mudava era sempre o mesmo tom de ordem e grosseria – pegue suas coisas vou te levar até em casa!

Olhei para os lados. Não queria aceitar, mas  resolvi não me opor ao seu tom imperativo, ainda mais quando eu sequer tinha cabeça pra fazer isso. Assim, busquei minha mochila enquanto ele me esperava pacientemente no mesmo lugar, depois segui obediente a figura mais velha como eu sempre fazia com meu pai quando criança, deixando que ele me guiasse até onde tínhamos que chegar. No percurso peguei meu celular vendo que Melissa havia me mandado várias mensagens perguntando se eu iria querer carona. Depois outra, dizendo que não pôde me esperar porque Thomas não estava bem e ela precisava levá-lo embora. Com minha falta de resposta ela insistiu pedindo pra que eu mandasse mensagem para confirmar que estava bem e que tinha conseguido chegar em casa em segurança.

Respondi ao mesmo tempo que me acomodava no banco do passageiro do carro do treinador, ele começou a dirigir em silêncio enquanto eu ainda mexia no celular. Abri o contato de Thomas, observando nossas últimas conversas, não tinha muita coisa ali, mas ainda assim, cada mensagem tinha um significado, o que fez meu coração se apertar enquanto as palavras de Joel martelavam na minha cabeça. Não queria acabar com tudo, mas estava cansado de sentir aquele sentimento de frustração incessante. E, ainda mais, de que eu estava investindo em uma relação que acabaria me fazendo sofrer, sempre voltando em um ciclo sem fim.

Comecei a digitar uma mensagem pra ele, mas acabei apagando, levantei meu olhar para o treinador sabendo que eu não queria ir pra casa naquele momento, contudo também não tinha um lugar específico para qual eu queria ir. Recordei que havia uma lanchonete próxima, em que eu já tinha ido uma ou duas vezes com mamãe, era um lugar tranquilo que na maioria das vezes estava vazio. Abri a boca e pedi pra que ele me deixasse lá, dando uma desculpa de que iria encontrar com alguém, o homem me observou com o olhar comprimido e ainda mais desconfiado até dizer que estava tudo bem.

Quando parou, Sr. Calvin colocou a mão  pesada no meu ombro com um olhar severo que era dele mesmo e nunca mudava, seu rosto também parecia que nunca se suavizava seja o que fosse.

Invisível [Em Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora