Guinevere
(Assim que o Camilo saiu, me segurei em uma das portas do guarda-roupa, pois minhas pernas estavam bambas, tremendo, mal consegui me manter em pé… Então, me sentei sob a cama, pensando nas palavras que acabará de dizer… Será que ele tem razão? Será que realmente sou culpada por tudo isso?... Esse era o tipo de pensamento que estava por dominar a minha mente… Mas não! Não posso deixar cair em suas manipulações… É isso que ele faz, tenta me confundir para me desestabilizar).
--- Eu vou conseguir sair dessa, e quando ele der por conta, eu e minha mãe já estaremos bem longe…
(Sussurrei para mim, enquanto enxugava algumas lágrimas que saíram despercebidas…
Coloquei a mão no bolso da minha blusa para esvaziá-lo, e acabei pegando em um papel; era o papel que o Arthur havia me dado com o seu número de telefone… {Respirei fundo}, pois por um momento eu havia esquecido de tudo que acabará de acontecer, e o meu coração começou acelerar… E de repente, uma vontade imensa, de ligar, falar com ele, ouvir sua voz, começou a pairar sobre mim… Porém, como eu iria fazer para falar com ele daqui de casa?! É muito arriscado).
--- O que eu faço?!
(Talvez em uma ligação rápida, apenas para poder ouvir sua voz… Isso! Me levantei da cama, passei a mão no rosto para tirar qualquer vestígio de choro, respirei fundo, saí do quarto, e desci as escadas… Chegando à cozinha, avistei minha mãe e o Camilo sentados a mesa… Ver os dois ali como se nada tivesse acontecido, como uma família feliz, minha mãe passando a mão na barriga e conversando com o bebê, o Camilo sentado à sua frente sorrindo junto… Era como se não faltasse nada, como se estivessem completos, e a única coisa que sobrará, era eu… Houve um tempo que eu me importava mais com isso, de quando minha mãe está com ele, acaba esquecendo de mim, ou quando me percebia, pedia para que eu fizesse as coisas para ele. Será que ela nunca notou?! Ou nunca percebeu o quão cruel ele é! Não consegue ver um palmo à sua frente quando está com ele… Mas não me sinto no direito de julgá-la ou culpá-la. Minha vontade era chegar lá e dizer toda a verdade. Mas como? Como eu arrancaria aquele sorriso tão bonito que minha mãe está esbanjando, ou tirar o brilho que vejo em seus olhos quando passa a mão na barriga… Um bebê que ela sempre almejou… Será que comigo foi assim?! Será que ela me desejou desse jeito? A ponto de ficar com esse sorriso lindo e esse brilho no olhar?!).
--- Venha Gui, junte-se a nós. -Disse o Camilo me avistando.
(De verdade eu não queria acompanhá-los, muito menos me sentar a pedido dele… Eu esperei que minha mãe me chamasse, mas ela estava muito entretida, que só percebeu quando eu sentei à mesa. Não estava com fome, mas mesmo assim peguei um prato e me servi com uma pequena quantidade de comida).
--- Desculpe a minha demora é que eu me atrapalhei guardando algumas roupas que estavam espalhadas.
--- Oras, deixasse para arrumar depois, já estamos até terminando de comer… (Suspirou). Mas enfim, diga… Como foi o seu dia hoje, Gui? -Perguntou minha mãe.
--- Foi bom…
--- Fiquei contente que você foi passear, há tempos não saia de casa.
--- Sim, eu estava precisando mesmo.
--- Em qual lanchonete vocês foram?
--- Em uma nova que abriu, eu nem sabia, a Carol que me apresentou.
--- Não gosto de você com essa menina! -Falou Camilo.
(O ignorei).
--- E como foi a sua consulta, mãe?
--- Foi boa, o bebê está bem, saudável… Só não deu pra saber o sexo, mas eu tenho um pressentimento de que seja uma menina! Falam que a nossa intuição feminina é ótima para acertar essas coisas, o que você acha, Gui? Uma menina ou um menino?
--- Bem… Eu não sei… Não entendo isso.
--- Não precisa entender… Apenas dê um palpite. -Insistiu ela.
--- Hum… (Suspirei). Vindo com saúde é o que importa.
--- Nossa Gui! Que resposta mais clichê. -Disse ela arqueando as sobrancelhas.
--- Bom… Já eu, prefiro que seja uma menina, me dou muito bem sendo pai, tenho por base, a Gui.
(Me olhou dando um sorriso de lado. Eu já estava começando a ficar incomodada).
--- Também acho meu amor, talvez seja devido a convivência.
(Ver toda aquela cena, ouvir eles falando sobre isso como se fossemos uma família perfeita, foi horrível… Não sei ao certo se foi a comida, mas algo estava se revirando no meu estômago).
--- Mãe, com licença… Irei me retirar.
--- Mas já? Nem tocou na comida direito.
--- Não estou com muita fome… E está me dando uma dor de cabeça, irei me deitar.
(Falei já me levantando e saindo em disparada).
--- Mas, filha?
(Sai o mais rápido possível daquela mesa, antes que eu vomitasse ali mesmo).
--- Ué, o que será que ela tem?
--- Deve ter ficado enciumada em saber, que irá perder o posto de filha única.
--- Não deboche, Camilo… Até que a Gui está reagindo bem.
--- Foi apenas um comentário, Olívia… Relaxe.
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Triângulo
RomanceComo pode... Três pessoas serem tão diferentes, corações diferentes, e de repente são tão iguais, é como se tivessem vividos na mesma época, como se tivessem partilhado do mesmo prato, do mesmo sentimento... Como pode?! São épocas diferentes; ela te...