Triângulo

No quarto...

Guinevere

--- Gui? Acorda...

(Ouvi uma voz suave entrando em meu subconsciente... Minha mãe sempre teve uma voz bonita, calma, leve... Antes do Camilo entrar em nossas vidas, éramos só eu e ela. Minha mãe se separou do meu pai, eu era muito nova, devia ter meus 6 anos. Ele era um homem de boas condições, nunca havia nos faltado nada, minha mãe não trabalhava, quem mantinha a casa e os luxos dela era ele, sempre me tratou bem, lembro-me que sempre depois do jantar, ele me dava um bombom e falava que era para adoçar a vida. Na minha percepção, éramos uma família perfeita... Mas de repente, tudo mudou. Meu pai havia ficado um pouco distante, era notável em seu rosto a preocupação, havia um olhar diferente ali; na época eu não entendia muito... Para falar a verdade, até hoje. Daí veio a separação... Me lembro também que chegamos a passar dificuldades financeiras, pois o motivo da separação foi uma briga feia que eles tiveram. Minha mãe havia me dito, que ele foi embora nos deixando no "relento". Mas depois de uns 4 anos, ele veio a falecer, teve um infarto fulminante, todos nós achamos estranho, pois ele era muito novo, mas enfim, na época, meu pai havia investido todo o seu dinheiro em ações que não deram certo, levando a falência, e só deixando de herança dividas... No ano seguinte, minha já estava de casamento marcado... Antes eu me perguntava se meu pai realmente gostava de mim, ou se só estava "cumprindo" sua obrigação de pai... Ahhhh, seu Alessandro...Mal me lembro do seu rosto. O único retrato que tinha dele, o Camilo se desfez. Se não me engano a diferença de idade do meu pai com a minha mãe era pouca, eles me tiverem muito novos, minha mãe tinha 17 quando engravidou e ele 19... Por mais que não fosse presente na minha vida, eu gostaria que ele ainda estivesse vivo, talvez assim as coisas seriam diferentes... Ou não).

--- Mãe?! (Ainda estava sonolenta).

--- Bom dia dorminhoca... Porque dormiu de uniforme?

--- Não deu tempo de tirar, eu acabei dormindo assim mesmo...

--- Humm... Sabe, eu não entendi sua atitude ontem Gui, achei que ficaria feliz em saber que vai ganhar um irmãozinho ou irmãzinha...

--- Não é isso mãe, estou feliz pela senhora...

--- E então?

(Naquele momento eu pensei em contar tudo, mas ali não era o lugar, o Camilo estava em casa, seria muito arriscado, talvez não teríamos tempo nem de fugir caso ele tentasse fazer alguma coisa. Era notável a felicidade estampada em seus olhos. E eu não tinha o direito de tirá-la, não ali, não naquele momento).

--- Apenas fiquei surpresa...

--- Ah sim... Eu também. Na verdade eu já havia perdido as esperanças de ser mãe novamente; mas, está tudo certo filha... Agora sim, estou mais que completa.

--- Que bom mãe, gosto de ver a senhora feliz. (Parecia ter um nó em minha garganta. Mal conseguia respirar).

--- Obrigada, sei que você será uma irmãzona Gui.

(Dei um sorriso consentido, afinal o bebê não tem culpa).

--- Bem Gui, agora... Se ajeita e desça para aprontar o café. -Disse ela se retirando.