can you stay with me?

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Há batidas na sua porta. Regulus não move um músculo, está absorto de mais em seus próprios pensamentos nublados para que diga que não quer que ninguém entre em seu quarto ou até mesmo se levantar da cama para trancar a porta. As cobertas quentes que Héstia achou numa prateleira alta do guarda-roupa eram aconchegantes o suficiente para que ele se sentisse flutuando. Ou talvez fosse o remédio que o fazia se sentir assim. Não importava realmente.

        De qualquer jeito, a maçaneta é girada. Não dá para ouvir passos, o chão é coberto de carpete, mas a pessoa respira fundo o suficiente para deixar claro sua presença. É Sirius, claramente. Ele sempre fazia isso quando não sabia o que dizer. Não demora para que uma região do colchão próxima a suas pernas afunde, deixando as cobertas um pouco mais justas.

          Regulus não faz ideia de que horas eram mas tinha quase certeza que já era noite. Não acreditava que tinha ficado muitos minutos em crise, o tempo que elas se desenrolam tinha diminuído bastante desde que parou de ir na psicóloga com tanta frequência. Mas dormiu por algum tempo, o remédio para ansiedade o fazia apagar em um piscar de olhos. Olhando pelo lado bom, não estava mais se sentindo tão mal quanto antes.

          Estava apenas apático. Muito culpa das pílulas, esse efeito passaria melhor só no dia seguinte, mas o choque por algo tão antigo ainda conseguir o afetar tão diretamente também tinha culpa no vazio que sentia.

           — Quer me dizer o que houve? — o voz de seu irmão, paciente e até mesmo macia como geralmente não era, soa pelo quarto silencioso.

            — A música.

         Se limita em dizer apenas isso. Sabia que o mais velho iria entender. Não sabe se é verdade, mas tem impressão de que Sirius acenou com a cabeça em concordância ao se ajeitar sobre a cama. Regulus não tinha forças para mandá-lo embora e por mais que sua mente o grite que quer ficar sozinho mais que tudo, não acha que seja um desejo real. Era uma droga não saber se o que pensava era de fato algo que você queria ou era só seu eu auto-destrutivo querendo te dominar. Não era o melhor em diferenciar ambos, apesar de já ter sido bem pior nisso do que era agora.

       Pensa como estragou a noite para si mesmo e até mesmo para Héstia. Estava tudo bem, eles estavam passeando mas ruas de Palermo como se estivessem em um filme e tomavam um dos melhores sorvetes da Itália, entravam de loja em loja vendo acessórios, bibelôs, jóias, roupas e várias coisas bonitas, iriam jantar em um ótimo restaurante dali a algumas horas. Tudo estava muito bem até ele perder a cabeça por causa de uma música.

       Aquela maldita música, que ativa as piores memórias que tem guardadas na mente. Desenterra tudo, fazendo uma bagunça e o obrigando a estragar tudo que esteja fazendo para paralisar com aquele som.

      — Estava na sua cabeça ou...? — Sirius indaga após algum tempo, cauteloso.

      — Estava fora — responde, os dedos apertando a fronha do travesseiro abaixo de sua cabeça.

      — Entendi — murmura. — Do que você lembrou?

     — Você sabe — funga, seus olhos encarando as várias almofadas a sua frente. — Lembrei da mamãe, do piano, do sangue.

— Do armário? — pergunta, a voz aflita.

— Só um pouco. Minha mente não foi pra lá dessa vez. Mas acho que meu corpo sim.

— Sinto muito, Reg — Sirius diz, pousando uma mão em seu ombro. Por mais que sente seu corpo querer se afastar, a quentura da palma de seu irmão é reconfortante. — Desculpa, eu devia estar lá...

HEAT WAVES, starchaserOnde histórias criam vida. Descubra agora