CAPÍTULO 19

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      Usar a carteirinha de Dean para ter acesso à biblioteca (e poder levar um livro daqui pra casa sem complicações) é a primeira vez em séculos que eu assumo uma identidade que não é minha. Não que seja um grande coisa, até porque não vamos enganar ninguém conhecido e nem nada do tipo.

       Assim que entro na biblioteca, sou recebido por um aceno e um sorriso gentil do moço que está sentado atrás do balcão. Resisto à vontade de levantar uma das sobrancelhas e analisa-lo cima a baixo, porque isso com certeza não é algo que Dean faria, então me limito à apenas devolver o sorriso e marchar em direção as prateleiras, com o capuz do moletom ainda escondendo o meu cabelo.

       Não faço ideia de como é a organização desse lugar e por onde devo começar a procurar, então ando entre as prateleiras sem muito rumo, sem saber ao certo como é a capa do livro que tô procurando, até porque há muitas edições diferentes dele.

       Passo vários minutos perdido aqui dentro, enquanto procuro nas estantes e olho algumas fotos no Google para saber como são as capas mais famosas. Acho que matteo vai ficar me devendo uns beijos bem demorados depois disso aqui, e caso ele não goste da minha ideia, eu vou fazer ele engolir esse livro página por página, isso se pelo menos eu o encontrar.

       O meu coração dá um salto com a lembrança da conversa com Dean ontem a noite, e isso é o suficiente para questionar a mim mesmo se o que eu sinto por Matteo. Gosto do cara? De certa forma, sim. A gente virou meio que amigos depois de tudo, mesmo que de um jeito meio inusitado.

      Sei que o cara já namorou algumas vezes, e que gosta de relacionamento. Mas tirando o fato de que estamos transando de vez em quando, ele não parece querer alguma coisa comigo (isso faz o meu ego doer um pouco. Bem mais do que eu gostaria de admitir), não que eu fosse aceitar caso ele propusesse algo assim.

      Quer dizer, eu recusaria, certo? Tento pensar por alguns segundos e quase caio durinho no chão quando percebo não desgosto tanto da ideia de ter ele como meu namorado.

      Puta merda. O que tá acontecendo comigo?!

      Resolvo não ficar pensando nisso e continuo procurando o bendito livro, resolvendo focar as minhas buscar no nicho em que ficam os clássicos.

      Estou tão entretido vasculhando os livros abaixado ao lado da estante que mal noto a presença na minha frente, só notando quando dou de cara com um peitoral duro.

      — Opa. Foi mal. — Levando rapidamente e olho para o rosto do rapaz, que me parece vagamente familiar. Ele é loiro e tem um cabelo meio espetado, além de olhos azuis escuros. A parte branca dos seus olhos estão levemente avermelhadas, e os seus lábios um pouco ressecados, como se ele estivesse fumando maconha pouco tempo atrás.

      Tenho quase certeza que já vi esse cara antes. Ryan? Bryan? Não lembro do nome.

      — Ãhn... Tudo bem? — Cruzo os braços e ergo uma das sobrancelhas, depois que ele me dá um belo vácuo e apenas continua alí, me encarando com as mãos enfiadas nos bolsos.

      — Tô sim. Você é o...?

     — Sean. — Respondo, tirando o capuz da cabeça apenas por tempo suficiente para revelar o meu corte de cabelo. Ele arregala os olhos e morde um pouco o lábio, como se eu tivesse acabado de lhe contar um segredo bastante especial. E é um pouco estranho, na verdade. — Bom... Vou indo então.

       Passo por ele e continuo procurando nas prateleiras o livro, ainda sentindo o seu olhar sobre mim. Felizmente, não demora muito para eu encontrar uma edição bem antiga e amassada do livro, mas depois de folhear rapidamente, percebo que algumas partes estão rabiscadas, e talvez isso me ajude a encontrar as partes importantes.

      Enfio o livro debaixo do braço e começo a andar em direção ao balcão que fica ao lado da saída, procurando o cartãozinho de Dean, que permite que ele (e agora seu irmãozão lindo) leve os livros pra cara sempre que quiser.

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    O Uber me deixa na casa de Matteo vinte minutos depois, e ele abre a porta quase um milissegundo seguinte após eu dar algumas batidinhas na porta.

      — Oi. — Abro um sorriso para ele, encarando o seu rosto bonito. Matteo está vestindo apenas uma calça de moletom, com o cós baixo o suficiente para que eu veja as suas entradas em forma de "V" e aquela fina trilha de pêlos escuros que começam no seu umbigo.

      — Oi. — Ele devolve o sorriso, mostrando aquele espacinho sexy nos seus dentes. Matteo inclina a cabeça para o lado e indica para que eu entre, então faço isso rapidamente.

      Não fico surpreso ao ver o notebook em cima do sofá, mostrando o seu joguinho pela metade.

      — Vim de mostrar a minha ideia. — Explico, tirando o livro da mochila e mostrando para ele, assim que sentamos no sofá. Talvez eu esteja um pouquinho nervoso com a possibilidade dele simplesmente odiar? Com certeza.

      — A divina comédia? — Matteo pergunta, inclinando-se para mais perto e olhando a capa do livro.

      — E-eu pensei em colocar o inferno de Dante como cenário no seu jogo, que vai ter nove fases diferentes. Cada fase seria um ciclo do inferno, com cenários e pistas totalmente novas, ficando cada vez mais difíceis à medida que o jogador passasse de nível. — Engulo em seco, sem conseguir indentificar as emoções no sua expressão, mas continuo explicando mesmo assim. — os nove círculos são: limbo; Vale dos Ventos; Lago da Lama; Colinas de Rocha; Rio Estige; Cemitério de Fogo; Vale do Flegetonte; Malebolge e Lago Cócite.

       Depois que eu termino de fazer o rápido resumo, vários minutos depois, nós apenas ficamos nos encarando por um longo tempo. Eu meio que tenho vontade de enfiar esse livro na cara dele por apenas ficar parado aí, me encarando sem dizer nada.

      — Isso é... ISSO É GENIAL!! — ele grita, pulando em cima de mim e me abraçando com força, antes de simplesmente começar a beijar o meu rosto sem parar. Isso me faz soltar uma risada alta, envolvendo o seu pescoço.

      — Que bom que gostou. — Fico um pouco envergonhado, apesar de estar feliz pra caramba.
    
     — É PERFEITO, SEAN!! Mas você vai ter que me explicar como é a aparência de cada uma das fases, e me ajudar em todo o processo!! — Ele continua, tão alegre quanto eu.

      — Okay okay, bobão. Acho que precisamos comemorar um pouquinho agora, né? — Abro um sorrisinho malicioso, antes de beijar os seus lábios.

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