Quando acordei seis meses atrás em um quarto de hospital e me disseram que eu tinha perdido trinta anos da minha vida, achei que logo tudo voltaria ao seu devido lugar. Quer dizer, parecia meio absurdo que eu jamais fosse me lembrar de tantos anos assim que tinham sido perdidos, e Atsuko Todoroki, minha heroína favorita, Psique, tinha uma certeza muito grande de que quando meu cérebro se curasse da pancada, as memórias voltariam ao seu devido lugar. Mas já tinham se passado seis meses, e eu tinha recuperado um total de zero memórias sobre esses trinta anos perdidos. O que de fato era um tanto frustrante já que eu tinha um filho do qual não lembrava, tinha conseguido a proeza de me tornar melhor amiga de Atsuko e não me lembrava, tinha casado e não me lembrava. Mesmo que esse último eu fingisse que nunca chegou a de fato a acontecer.
Era um pouco constrangedor. Morar com uma pessoa que não se lembrava, ser casada com alguém que não se lembrava, ter um filho com alguém que não se lembrava. Era péssimo ver a expressão no rosto de Katsuki todas às vezes que ele me via e se dava conta que eu não fazia a menor ideia de quem ele era e de quem deveria significar para mim. E eu me sentia um lixo em não poder fazer nada para aliviar tudo o que ele sentia. Nossas conversas sempre tinham um fundo de mágoa, palavras não ditas em voz alta. Katsuki tentava ser cordial, mas era nítido o quão desconfortável ele ficava na minha presença. Bem, eu entendia o motivo. Para mim, ele era alguém que eu tinha acabado de conhcer. Para ele, eu era a companheira de uma vida toda e que não lembrava de quem ele era. Uma bela de uma merda, né?
Eu estava dormindo no quarto de hóspedes desde que voltei para aquela casa que disseram ser minha, mas que de nada parecia me pertencer. Não me sentia confortável nem e estar naquela casa, seria mil vezes pior se tivesse que dormir no quarto que costumava dividir com Katsuki. Eu não me lembrava de absolutamente nada, e aquele lugar parecia tão dele e de uma pessoa que eu já não era que me parecia muito errado dormir ali. O quarto de hóspedes era a melhor opção; lá pelo menos eu podia o transformar em meu. Eu poderia ficar sozinha quando queria fugir e fingir que tudo isso não passava de um grande mal entendido.
Mas era muito difícil fazer isso. Todas às vezes que olhava para Shin, eu sentia uma imensa vontade de ter de volta tudo o que havia perdido. Um filho; esquecer um filho era demais pra mim. Desde que me entendo por gente, meu grande sonho tinha sido ser mãe. Claro que imaginei que teria isso com Liz, e nunca em minha existência pensaria que acabaria casando com Dynamight e pior, tendo filho com ele. Mas Shin, mesmo que eu não conseguisse lembrar dele, era como uma luz naquele momento difícil. Ele era tão carinhoso e bondoso que fazia eu me questionar o como ele podia ser meu filho. Como podia ser filho de Katsuki Bakugo, o herói com uma taxa de aprovação horrorosa das pessoas por só falar merda! Quer dizer, pelo menos costumava ser assim. Hoje em dia, pelo que percebi, horrorizada, ao entrar na internet, ele tinha mudado pra caramba. Eu também conseguia perceber que ele não era quem eu imaginava que fosse. Cada dia que passava e eu via as pequenas ações de Katsuki, me dava conta que até fazia sentindo eu ter casado com ele, mesmo que jamais fosse admitir uma coisa dessas.
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Hot Chocolate • BNHA
FanfictionNinguém pode dizer que é fácil lidar com Azami, e ela tem plena consciência de que não é uma das pessoas mais delicadas do planeta. Como escritora profissional, Azami usa suas horas vagas para fazer críticas em relação aos super heróis profissionai...