𝘼 𝙋𝙧𝙤𝙢𝙚𝙨𝙨𝙖 𝙙𝙤 𝘾𝙖𝙥𝙞𝙩ã𝙤

Prólogo

"É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro, possuindo uma boa fortuna, deve estar precisando de uma esposa"

— Orgulho e Preconceito.

Desde pequeno, Lorenzo Thorne aprendeu que a palavra de um homem era o bem mais valioso que ele tinha.

Independentemente de ser o rei ou um reles limpador de chaminés, se ele não cumprisse suas promessas e honrasse sua palavra, de nada adiantaria sua posição, pois de nada valeria confiar naquela pessoa.

E desde pequeno, sempre procurou honrar suas promessas, por mais simplórias que fossem.

"O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem" era uma frase de Confúcio que ele carregava como um lema de vida. Era uma das poucas coisas que recordava que seu pai havia ensinado a ele antes de morrer.

Podia não ser um rapaz muito agradável ou falastrão, mas era um jovem de bem. Alguém em quem podiam confiar.

Tinha ficado órfão muito jovem e mesmo não sabendo muito da vida, prometeu a seu pai que cuidaria de sua mãe. E assim o fez. Quando se mudaram para a Espanha, onde a família materna vivia, começou a trabalhar em um navio, onde começou a aprender sobre marinha mercante e sobre a vida.

E mesmo sendo tão jovem, seus superiores sabiam que podiam confiar nele, de forma que conseguiu, aos poucos, ganhar a confiança deles e aprender mais do que qualquer um dos jovens de sua idade que também estavam naquele trabalho.

Apesar disso, tinha seus momentos rebeldes, como qualquer jovem rapaz, e foi nesses momentos em que conheceu Javier, um rapaz que era totalmente contrário a ele em personalidade, e apesar de parecer improvável, tornaram-se amigos inseparáveis, praticamente irmãos.

Em seus momentos livres, os dois vadiavam pela cidade, flertavam com as jovens espanholas e se metiam em confusões contra outros rapazes.

E com o tempo, os laços de amizade entre eles acabaram unindo as famílias dos dois, até que as mães de ambos começaram a ser amigas também. E com isso, acabou ganhando também uma irmã, Luna, a pequena e radiante irmã de Javier, que seguia os dois jovens cegamente.

Lorenzo, apesar de toda a luta diária para cuidar de sua mãe, tinha uma vida boa e feliz. Seu trabalho era árduo, mas sua vontade de vencer e sua palavra acabaram levando ele a ganhar espaço dentro da marinha mercante e em poucos tempo já era respeitado.

Javier vendo que a vida no mar não era para ele, nem outras atividades disponíveis na cidade, decidiu seguir o exército e também parecia estar indo bem, até que um dia foi ferido gravemente em uma batalha.

Lorenzo, ao saber disso, vai até seu amigo, mas chega quase tarde demais.

Javier, ferido em combate, estava febril e debilitado e Lorenzo percebeu que seu amigo não duraria muito mais que algumas horas. Assim que chegou, pôde perceber o alívio de seu amigo ao vê-lo.

Fraco e com uma voz quase inaudível, Lorenzo ouviu tudo o que ele tinha a dizer. Pediu para que Lorenzo cuidasse de sua família, que não deixasse nada faltar a sua mãe e para Luna.

Lorenzo assentiu, solene. Carmem e Luna eram sua família, assim como Javier. E naquele momento, vendo e ouvindo os últimos suspiros de seu amigo, Lorenzo prometeu a Javier que faria tudo que fosse possível e o impossível para cumprir aquela promessa.

E Javier por fim descansou, aliviado, pois sabia que Lorenzo era um homem de palavra.

E assim Lorenzo fez tudo o que estava ao seu alcance para manter as duas felizes e em segurança. Era como um filho, pai e irmão para elas. E em momento algum falhou em sua promessa ao seu melhor amigo.

Até aquele dia. Anos depois de sua promessa.

O dia em que percebeu que talvez a palavra de um homem fosse tudo que ele possuía, mas que de nada adiantaria se não tivesse o que mais queria.

E pela primeira vez na vida, ele desejou ser outra pessoa, apenas para poder se dar ao luxo de abrir mão de sua honra e poder ter o que sempre quis, mas sabia que nunca poderia fazer isso.

E com isso em mente, renunciando aos seus desejos mais profundos, ele entrou naquela sala, decidido a manter sua palavra. Como sempre fez e como sempre iria fazer.

Afinal de contas, Lorenzo era um homem de palavra e era isso que ele fazia, mesmo que uma parte dele estivesse morrendo naquele momento.