Capítulo 4

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"Se uma mulher tem predileção por um homem e não se esforça para esconder isso, ele deve descobrir."

— Orgulho e Preconceito.

21 de março de 1843

Naquela noite era celebrado o baile do marquês de St. Lucas. Penélope, como sempre, estava ali por causa do apreço dos anfitriões para com seus tios.

Ela estava inquieta, esticando o pescoço para melhor observar o salão. Jamais admitiria para alguém, mas estava tentando localizar Lorenzo Thorne desde que chegou. Havia visto de relance um homem alto de cabelos negros parecendo fugir do salão, mas não tinha certeza se era ele.

Penny andava um tanto obcecada, tentando juntar mais informações sobre ele, mas até agora tudo que tinha conseguido era que ele tinha vindo de outro país. O que era bastante óbvio para ela, dado o seu sotaque. Porém, não soube de mais nada. E sua curiosidade estava a matando.

Se o encontrasse, apenas para passar o tédio, ia segui-lo. Quem sabe assim ela não ficaria sabendo mais coisas a respeito do homem.

A valsa acabou e vários casais deixaram a pista de dança. Uma dama loira foi guiada por seu par até a extremidade onde Penny se encontrava. Ela sorri para o cavalheiro e faz uma mesura. Penny não pode deixar de observá-la. A jovem parecia ser tudo o que uma dama deveria ser. Extremamente delicada, elegante e graciosa. Ela para ao lado de Penny e se abana com o leque de cetim claro.

— É um belo baile, não é mesmo? — diz Luna sorrindo para a garota que estava ao seu lado.

Apesar da moça não a conhecer, Luna já sabia tudo a respeito dela. Desde o dia que viu Lorenzo discutindo animadamente com aquela mulher, Luna decidiu saber mais sobre Penélope. Talvez aquela fosse a garota certa para Lorenzo e se assim fosse, não teria a mínima vergonha em tentar juntar os dois. Lorenzo era como um irmão para ela e sempre quis que ele fosse feliz.

— Me desculpe por começar uma conversa assim do nada, afinal não nos conhecemos. Eu me chamo Luna e você?

Penelope sorri de volta.

— Ah, não se preocupe — diz Penny — Muito prazer, me chamo Penélope Crane e não me importo em começar conversas do nada.

Penny olha ao redor e se volta para a Luna.

— Está mesmo bonito, mas bastante enfadonho. Já vi os próprios músicos da orquestra bocejando. E claro, acabei bocejando também. Uma coisa engraçada isso, não é? O efeito que tem... — ela para de repente — Ah, me desculpe. Às vezes falo sem parar.

Luna sorri, satisfeita. Talvez aquilo fosse exatamente o que Lorenzo precisava, de uma garota esperta e tagarela, que falasse pelos dois.

— É um prazer conhecê-la, srta Crane — Luna ri do comentário — Realmente está um pouco cansativo, mas que bom que você gosta de conversar, agora não teremos que ficar entediadas sozinhas. Podemos conversar o tanto que você quiser. E não se preocupe, sou uma ótima ouvinte.

Ela sorri para Penélope.

— É a sua primeira temporada? O que você está achando?

Penny se anima — gostou de Luna naquele instante.

— Ah, que ótimo — ela sorri —, sempre tenho comentários para fazer sobre os eventos. Uma lista extensa deles. Mas sim, é a minha primeira temporada — ela volta a olhar ao redor, em busca de Lorenzo — e para ser bem sincera, eu achei que iria estar muito feliz, mas na verdade estou um pouco decepcionada.

Penny franze a testa.

— Mas e você? Nunca a vi aqui antes... Você não é daqui, não é? — ela havia percebido o sotaque da garota.

Seus olhos passeiam pelo salão novamente em busca de uma outra pessoa que também levava sotaque.

— E por quais motivos está desanimada? — ela se aproxima de Penélope, de forma conspiratória — É por que ainda não achou o seu príncipe? — Ela sorri. — Também é a minha primeira temporada e minha primeira visita a Londres. Como percebeu muito bem, eu não sou daqui. Sou da Espanha.

Luna repara que Penélope estava distraída, procurando algo. Ela segura um sorriso, pensando e torcendo para que esse alguém fosse Lorenzo.

— Está procurando alguém, Penélope? Talvez eu possa te ajudar a encontrar a pessoa ...

Penny não consegue evitar uma risada.

— Todos que conheci estão mais para sapos. Londres é uma lagoa repleta deles — Luna solta uma risadinha — Ah, sim.. Quer dizer, não. Eu só achei ter visto um conhecido mais cedo. Na verdade não é conhecido, é só um cavalheiro terrivelmente rude e inconveniente. Mas espero que ele tenha ido embora — aquilo era uma mentira, e Penny sabia — Mas me conte, o que está achando daqui? Nunca fui à Espanha, mas pelo que já li parece um lugar mágico.

— Mas esse cavalheiro é rude mesmo? Ou talvez ele possa ser apenas tímido, não? Mas ele era bonito? Para você estar procurando por ele, mesmo sabendo que ele é desagradável... Deve ser uma vista e tanto...

Luna sorri para Penélope e então olha para o salão, enquanto se recorda de sua terra natal.

— Lá é um lugar maravilhoso, e sim, tem sua magia. Eu nem sei como descrever o lugar de onde eu vim, acho que não existem palavras belas o suficiente para falar de lá.

Ela encara Penélope.

— Acho que deveria ir me visitar lá um dia.

— Ah, eu adoraria. Com certeza — ela bate palmas, animada — quando eu for dar a volta ao mundo, vou colocar Espanha como prioridade.

Ela sorri e logo o sorriso morre. Do outro lado do salão estava Lorenzo Thorne. O semblante fechado e expressão de poucos amigos divertiu Penélope.

— Ele é terrível. Simplesmente insuportável ao ponto de me imaginar o estapeando às vezes. Acho que seria uma ótimo sensação... E sim, apesar de ser um cretino, ele é bonito — Penny ainda observava ele, Lorenzo era lindo. O que a deixava mais irritada — Mas ele não me pareceu tímido, só irritante. E infelizmente ainda não foi embora. Era isso, só queria garantir que ele já havia ido — ela decide dar as costas para o salão.

Não queria ficar olhando para o senhor Thorne mais. Uma sensação estranha lhe tomou o estômago. Luna ao ver de quem Penélope estava falando quase pulou e animação. E então fingiu que não o conhecia.

— É aquele cavalheiro dos olhos azuis? Ele é muito bonito mesmo... Que nem você, acho que formaria um belíssimo casal.

Luna junta as mãos perto do rosto e sorri para Penélope.

— De fato formariam um casal de dar inveja, apesar de você querer bater no pobre rapaz.

— E-eu não... Nem sequer o suporto — diz ela, constrangida — E tenho certeza que é recíproco. Eu jamais me casaria com um cavalheiro tão... tão irritante quanto o Sr. Thorne.

Ela de repente desejou ter um leque, precisava desesperadamente se abanar.

— Ah, uma pena — diz Luna fingindo pesar.

Penélope não parecia nenhum pouco convincente em seus protestos e Luna viu naquilo uma oportunidade. Agora estava mais do que decidida em tentar juntar aqueles dois. Arrumaria uma forma de ver como eles lidariam um com o outro e torceria para que tudo desse certo.

Continuaram conversando e rindo durante o baile. Luna gostou muito de Penélope e realmente pensou que seria uma ótima pessoa para ter em sua família. E foi pensando nisso, que na semana seguinte enviou uma carta para Penélope, a convidando para um chá em sua casa.

𝘼 𝙋𝙧𝙤𝙢𝙚𝙨𝙨𝙖 𝙙𝙤 𝘾𝙖𝙥𝙞𝙩ã𝙤Where stories live. Discover now