Três: uma ideia

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Ana

— Anda logo, Ju. — digo pra minha amiga parada no meio da rua.

— Calma aí. Acho que pisei em um chiclete.

— Limpa aqui dentro. — entramos em casa e vejo um bilhete da minha mãe. Saíram.

— Olá, dona Ana.

— Oi, Isabel. Onde meus pais foram?

— Não faço ideia, querida. Só falaram que iam sair e, levaram sua irmã também.

— Tudo bem.

— Querem almoçar, garotas?

— Claro. — eu e Ju dizemos juntas.

Fomos pra cozinha e nos sentamos. Arrumamos nosso prato e comemos.

— Em relação à rainha do baile, o que você pensa em fazer, Ana? — pergunta Ju.

— Não sei, cara. As outras meninas estão fazendo propagandas de si mesmas. Não sei o que eu posso fazer.

— Vamos falar com a Tai amanhã. Ela é cheia das ideias. — rimos e lavamos nossos pratos.

Subimos pro meu quarto e vejo Bolota deitado na minha cama.

— Oi, garotão. Já almoçou? — pergunto. Ele mia em resposta. Deixamos nossas mochilas no chão e trocamos de roupa. Pego meu violão e sentamos na cama. — Música?

— O que você sugere?

Ju adora quando eu toco. Ela diz que minha voz é linda. Mas eu não acho. Penso em uma música e começo a dedilhar as notas. Ela ri e começamos a cantar.

Eu ouvi palavras ditas com carinho
De que na vida ninguém é feliz sozinho
E você é um alguém que sempre me fez bem
Me protegeu e me tirou de todo perigo
E quando eu precisei você chorou comigo
Valeu por você existir, é tão bom te ter aqui
Eu rezo e peço pra Deus cuidar
A sua vida abençoar
Vou correr por você até o fim

— Ana Beatriz, sua voz é perfeita.

Ju é muito dramática.

— Para, Ju. Não é nada.

— É mesmo, dona Ana. — diz Isabel entrando no quarto, dando um susto na gente.

— Faz isso não, mulher. — diz Ju com a mão no peito.

— Desculpe, meninas. Não quero atrapalhar. Só vim pegar a roupa suja. Ah, dona Ana.

— Ana! — digo, não gosto que ela me chame de dona.

— Eu já dei ração pro Bolota.

— Ele me falou. — ela sorri pra mim e sai do quarto. — Ju, hoje um cara esbarrou em mim na hora que a gente tava indo pra sala.

— E?

— E que os olhos dele são incrivelmente lindos.

— Cor?

— Verdes. Fiquei tão sem graça que acabei sendo "grossa" com ele. Enfim... Nem sei porque te disse isso.

— Sei quem é. — diz olhando pra um livro. Fico olhando-a por alguns segundos esperando ela falar.

— Quem, criatura?

— Ah, tá. O nome dele é Felipe. Se mudou pra cá tem algumas semanas.

— Como você sabe?

— Tenho meus meios de informação.

— Desculpa aí, Sherlock. — digo rindo.

Começamos a ver a matéria do dia. Estudamos, fizemos tarefa e ficamos livre. Brincamos um pouco com o Bolota e fomos ver um filme. Fiz brigadeiro e estourei pipoca.
O filme já está acabando quando meus pais chegam.

— Oi, meninas. — cumprimenta papai.

— Eu quero brigadeiro. — Mel vem correndo e pula no sofá. Passo a panela pra ela que começa a comer.

— Eu vou indo, Ana. — Ju se levanta do sofá.

— Quer que eu te acompanhe? — pergunto

— Não precisa, amiga. Essa é a vantagem em ser sua vizinha. — diz e dá uma piscadinha.

— Ok, então. Até amanhã.

— Beijos. — fecho a porta e olho para meus pais. Cruzo os braços e dou uma "tossida". — Onde vocês foram?

— Calma, filha, só fomos ao escritório do seu pai, e depois demos uma passadinha no Shopping.

— Bia. Sobe comigo? — diz uma Mel sonolenta. Pego-a no colo e subo as escadas. Coloco-a na cama e deito ao seu lado.

— Foram ver a vovó, né?

Se quer descobrir alguma coisa, pergunta pra Mel. Ela não sabe esconder nada.

— Sim. E ela te mandou um beijo.

— Vou ligar pra ela mais tarde. Agora dorme.

— Canta pra mim?

— Claro, pequena. — dou um beijo em sua testa e começo a cantar.

Ela fecha os olhinhos e acaricio seu rosto. Percebo que ela dormiu. Saio cuidadosamente da cama e fecho a porta do seu quarto. Desço as escadas e vou pra cozinha falar com minha mãe. Encontro-a bebendo água.

— Por que mentiu? — fui direta.

— Não queria que seu pai soubesse. Ele ainda está bravo com a mãe.

— Mãe, se o pai descobrir, vai ficar doido. Mas francamente, a vó também provoca demais. Não sei porque ela continua com essa ideia maluca na cabeça.

— Eu sei, minha filha. Mas não vou deixar que a briguinha desses dois afete a relação dela com a Melina. Não é nem justo.

— Tá certo. Bom, boa noite, mãe.

— Boa noite, querida. — subo pro meu quarto, tomo um banho e durmo.

* * *

Chegando na escola no dia seguinte, vejo Tainá conversando com o Miguel. Lanço um olhar pra Ju e suspiramos.

— Oi, casal. — cumprimenta Ju.

— Eu vou indo, meninas. Tchau, amor. — dá um selinho na Tai.

— Tchau, coração. — diz e suspira.

— Ai minha glicose. — Ju coloca a mão no peito.

— Fica quieta, Júlia. Mas e aí, presidente, quais são os planos pra campanha rainha do baile? — pergunta animada.

— Viemos discutir sobre isso. Eu não faço a mínima ideia do que fazer. — digo frustrada.

— Que cara é essa, garota? Trate de se animar. Vamos pensar em alguma coisa. Deixe-me ver... — coloca a mão na cabeça, como sempre faz antes de ter uma ideia. Ficamos olhando pra ela durante alguns minutos.

— É pra hoje, Tai. — diz Ju.

— Shii. Assim você tira a minha con... JÁ SEI! — grita, e algumas pessoas olham pra nós. — Tive uma ideia.

— Diga!

— Bom, as outras garotas estão fazendo propagandas de si, né? Bem, e se você fizer um filme sobre você?

Olho pra Ju e ela arregala os olhos como quem diz "boa ideia". Penso por alguns segundos.

— É... Realmente, é uma boa ideia. Mas eu não entendo nada de câmeras. — digo.

— Marcos! — dizem juntas.

Ele é um gênio com tecnologia, e esse tipo de coisa.

— Decidido. — digo animada e entramos pra sala.

Apaixonados Pelo AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora