Nove

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Felipe

Acordo de manhã bem cedo pra conferir minha irmã. Passar a madrugada limpando vômito não é fácil.

— Tudo bem, peste? — entro em seu quarto. — Pelo menos o cheiro de vômito foi embora.

— To bem, Lipe. Você não vai se arrumar?

— Escola? Com você assim? Mas nem que a vaca tussa. — nessa hora ela tosse. — Você não serve.

— Engraçadinho. — ela volta a tossir. Pego o balde e coloco em seu colo. — Tudo bem. Vai sim pra aula. Sei me cuidar, e qualquer coisa chamo a mamãe.

— Mas... — tento protestar.

— Sem mas. Anda logo.

— Tudo bem. Mas qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, me liga.

— Não se preocupe. Vou ficar bem.

De nós dois, Cris sempre foi mais forte. Me arrumo e aviso minha mãe pra me ligar.

Chego na escola e vou direto pra sala. Avisto Ana. Preciso falar com ela.

— Ana, cancela tudo que tínhamos pra hoje. Vou precisar cuidar da minha irmã.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunta séria.

— Não. Ela só está passando mal. Não quero deixá-lá sozinha.

— Claro, tudo bem. Entendo.

A aula começa, mas não consigo pensar em mais nada. Ana me vem à cabeça. Aquela garotinha de seis anos. Toda vestida de princesa. Vi quando caiu da árvore. Passei o dia ao seu lado. Me apaixonei naquele dia, mesmo com seis anos. Mas não posso sentir isso. Não novamente. Ainda mais porque ela tem namorado.
Chega o intervalo. Vou pro banheiro e jogo uma água na cara. Encaro meu reflexo no espelho. Preciso dormir um pouco. Passo na biblioteca. Vou pra última prateleira de livros. Encosto na parede, e deslizo até me sentar.

— Felipe? — ouço a voz da Ju me chamando. Levanto a cabeça e vejo ela e a Tai me encarando.

— Oi, meninas.

— Oi. Ta tudo bem? — perguntam.

— Sim, claro. — minto. Elas sentam de frente pra mim. É, meninas realmente sabem farejar uma mentira.

— Ta legal, conta o que houve.

Explico o que ando pensando. Elas ficam me olhando. Começam a rir.

— O que foi? — pergunto rindo também.

— Cara, você está apaixonado! — diz Ju.

— Não fala isso, Júlia. Por favor.

— Qual é o problema?

— Ah, primeiro, ela tem namorado. E também... Ela é a menina mais popular da escola, por que repararia em um nerd?

— Xiii. Tá fazendo pouco caso de você, garoto. — Tai me dá um soco na perna. — Na boa, Fe, você é um gatinho. — fico com vergonha, mas sorrio pra ela.

— Obrigado, meninas.

— Eu tive uma excelente ideia. — sorri Tai.

— Ah, não. Lá vem. Qual é o plano?

Apaixonados Pelo AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora