EMOÇÕES CONFLITUOSAS

3.9K 494 63
                                    

Néftis

Agora estou bem mais tranquila em relação à segurança do meu povo. Detestei ter que falar todas aquelas coisas, principalmente sobre meu filho. Não importa como tudo aconteceu, ainda é meu filhote e eu jamais o odiaria. Só que precisei tomar medidas drásticas para conseguir esse acordo com o Ceifador. Passei muitos ciclos ensaiando dizer aquelas palavras, para que, no momento oportuno, não fosse pega.  Sei que me saí bem, pois ele está furioso comigo.

Meu coração está despedaçado pelo modo como Shu me olhou e fico ainda mais consternada ao entrar em meu recinto e ver o fruto Liriacthia na minha mesa de refeições, não um, mas vários. Ele foi muito solícito.

Ah, Shu, perdoe-me…

Após usar o regenerador celular no ferimento em minha barriga, troquei a roupa suja.  Estranhamente, nenhuma serva veio até mim. Não duvido que tudo que aconteceu mais cedo tenha chegado aos seus ouvidos e, também, não posso exigir nada delas. 

Pego meu fruto e vou me sentar na janela, como tem sido habitual em todos os ciclos. O sabor explode em minha boca e automaticamente sinto a sutil ondulação em meu ventre, o que mostra o quanto meu bebê está feliz por ter essa iguaria. Sorrio por pensar nele. 

No início, foi difícil aceitar que estava carregando uma cria do meu algoz. Foi desesperador, na verdade. Ao tomar o lugar da minha rainha, só imaginei encontrar a morte, mas daí a sobreviver a uma transformação dolorosa e descobrir que estava prenha, foi algo para o qual não me preparei e sequer julguei ser possível. 

— Filhote, nada do que falei é o que realmente penso… você sabe, já conversamos sobre isso antecipadamente… — falo acariciando meu ventre saliente e o pequenino parece me ouvir, pois está bem saltitante aqui dentro — Perdoe sua mãe por ser tão estúpida e mesquinha. E não, não acho que você é um bastardo…são só negócios, você pensa em me odiar?! — posso sentir a felicidade emanando da minha cria por ouvir-me falar.  Sempre que estou sozinha, converso com ele. Não quero que sinta que não é desejado. Nunca irei querer que ele passe por tudo que passei.

— Desprezas tanto assim minha descendência?! — Céus! Quando esse bastardo entrou aqui que não percebi sua presença?! Por sorte, ele não percebeu que  minha animosidade com o filhote é falsa, já que parece estar furioso. Isso é perfeito!

— Não tanto quanto o desprezo… — desdenho, só para aumentar sua irritação. Vejo como o vermelho de sua íris oscila entre um tom claro e mais escuro.

— Desça! — ele dá a ordem como se fosse meu dono — Não devia estar aí…

— Own…não se preocupe, Ceifador… sua cria está bem confortável em meu ventre… — falo saltando de lá despreocupadamente. Por quê?! Porque gosto de ver seu desespero. Sei que ele é um tirano, porém tem zelo por sua prole. Isso é inegável.

— A partir de hoje, você não ficará mais aqui… 

O que esse bastardo está sugerindo?! Não acredito que queira me pôr como sua vizinha de quarto. Nem pensar!

— Não vou me mudar para perto de você! — Nego. Não importa o que ele fale, não irei me submeter a esse capricho sem fundamento.

— E quem disse que é para perto?! — questiona, o que me deixa confusa. Será que ele pretende me trancafiar numa masmorra?!— Você estará em meus aposentos…— revela, para meu espanto. Minhas faces faíscam pelo ódio que consome minhas células, com o calor de mil vulcões. 

— PODE ESQUECER! — brado, mas minha vontade é de rasgar sua jugular com os dentes.

— Sério?! Não aceitarei qualquer tipo de recusa! Enquanto estiver carregando meu herdeiro, ficarás sob minhas vistas. Já depois, não me interessa se saltará no abismo, aliás, eu mesmo faço questão de jogá-la ali. — fala e agarra meu braço abruptamente, fazendo-me andar atrás dele, aos tropeços.

NÉFTIS E O CEIFADOR DE MUNDOS: Contos Alienígenas Onde histórias criam vida. Descubra agora