O VELHO LOUCO ARTHUR

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Para a surpresa de todos, Arthur não guardava nenhuma recordação do estranho acontecido. Ele escutou atento ao relato da mulher e aceitou relutante ir para um hospital. Mas o exames não apontaram nenhuma irregularidade, estava tudo bem com ele. Xavier tentou insistir que era necessária a opinião de um psiquiatra, mas Arthur já estava cansado e queria ir pra casa, ele tinha certeza absoluta de que o que lhe passara fora uma obra divina e não um ato de loucura. Era um profeta, não um maluco.

Arthur se tornou obcecado pela profecia, visitava a "pedra escrita" três vezes por dia, lia e relia suas palavras e símbolos na esperança de que algo acontecesse. Sempre ia sozinho e ficava sentado por horas com seus pensamentos, até que Paulinho o vinha resgatar a pedido da mãe:

_Pai, hora de comer.

_Pai, hora do almoço.

_Pai, hora do jantar.

Num desses retornos noturnos, Paulinho se atreveu a falar:

_Pai, esquece isso. Você não vê que todos riem dessa historia? Todos te chamam de louco!

_ Você me acha louco?

_Não, pai.

_Então deveria ter orgulho de mim.

_É que você só fala disso, quase não nos vemos mais. Está sempre na floresta ou lendo e repetindo aquela profecia maldita.

_Profecia maldita? Mais respeito, Paulinho. Eu só quero o seu bem e o da sua mãe, essa profecia maldita vai nos ajudar a salvar o mundo e por conseqüência vocês dois.

O filho havia começado e agora iria até o fim:

_Pai, você já pensou que talvez o doutor estivesse certo? Que pode ter sido algo da sua cabeça?

Arthur lhe lançou o mais frio olhar e com isso calou o filho. O resto do caminho foi percorrido no mais sinistro silêncio. A decepção vinha de ambos. Pai e filho estavam lado a lado, porém nunca estiveram tão afastados. Foi ao saírem do caminho estreito que o silêncio se rompeu, pois Martha vinha gritando e correndo em suas direções:

_Rápido, Arthur vem!

Quando chegaram mais perto, puderam ver a nova decoração da casa, estava pichada de vermelho por todos os lados. As frases enfeitavam a moradia dos Bernardes: "aqui vive o louco, o escolhido", "reunimos nossos dons para seu mundo salvar", "a casa do profeta", "a fé pinta montanhas" e muitas outras gracinhas mais.

_Porque fariam algo assim?_ Paulinho chorando entrou correndo e foi direto para o seu quarto, Martha foi atrás. Arthur simplesmente sorria. Esperou alguns momentos do lado de fora se deliciando com a incompreensão alheia e depois os seguiu.

_Minha querida família, não vamos deixar que um par de ignorantes nos afetem, amanhã pela manhã apagaremos essas palhaçadas.

_Quanta maldade!_lamentou a mulher.

_Não importa, Martha. Pelo visto, de agora em diante será assim._Arthur, diferentemente do filho e da esposa, não estava assustado. Pelo contrário, sentia-se satisfeito._Vamos ter que nos acostumar.

Mas Paulinho não conseguia se acostumar. Para um menino de 7 anos, escutar "seu pai é um louco", "cuidado que maluquice pega", "olha o filho do doido" e coisas do gênero não era nada fácil. Aonde quer que fossem, eram apontados. Na escola já não era mais Paulo, o chamavam "Pauloco". O garoto não tinha como escapar. Muitas vezes chegava chorando do colégio e era um sacrifício tirá-lo de casa. Tudo que Paulinho mais queria era sair dali, porém seu pai amava aquele lugar mais do que tudo e se orgulhava por ter sido o escolhido. A mãe apoiava o pai incondicionalmente, "antes um profeta do que um louco"_pensava consigo mesma. E assim era a dinâmica da família: dentro de casa Arthur era tratado como um "deus", fora, era apenas um maluco qualquer.

A PROFECIA DOS TRÊSOnde histórias criam vida. Descubra agora